Painful Secrets - 1ª Temporada[CONCLUÍDO]

9 - Encrenca

“Confusão que não acaba
Paredes se fechando e relógios tiquetaqueando
Vou voltar e te levar para casa
Eu não poderia parar agora que você sabe”

— Clocks, Coldplay

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  Harry não conseguiu dormir naquela noite. Havia passado a madrugada no sofá, procurou jogar videogame para distrair a cabeça — óbvio, deixando o som no mínimo — e depois de treinar com Kitana, sua personagem preferida do jogo Mortal Kombat até o amanhecer… ficou convicto de que agora conseguiria vencer Derek na próxima vez em que fossem jogar juntos.

  Pausou o jogo no momento em que ouviu uma porta se abrindo no andar de cima. Se levantou, olhou em direção às escadas, tomou uma respiração profunda e rezou mentalmente para que se fossem seus tios, eles não o matassem por ter sumido por dois dias. Dizer que passei um dia no Derek, o outro no Victor e não dar respostas mal-criadas… vamos lá, vamos lá, fique calmo…

  Por incrível que pareça, ele não estava com tanto sono, mesmo depois daquele dia cheio. A ansiedade para o momento em que teria lidar com os sermões de seus tios conseguiu mantê-lo bem acordado. E no momento em que sua tia Joanne desceu as escadas, Harry sentiu sua respiração falhar por um segundo. Tudo o que conseguiu fazer foi forçar um sorriso nos lábios e dizer:

 — O-oi… tia…

  A mulher se assustou ao ter dado de cara com o sobrinho e logo levou a mão ao próprio peito, suspirando.

 — Me desculpe, eu posso explicar, eu… — não conseguiu terminar a frase. Ela correu para lhe envolver em um abraço e quando se separou, apontou o dedo indicador à frente do rosto dele.

 — Nunca. mais. fuja assim. Está me ouvindo, mocinho? Com o que estava na cabeça?! Fugir por conta de um castigo? — deu um passo para trás e olhou para cima,  levando a mão em forma de concha ao canto dos lábios. — ROGER! CRIANÇAS! O PESTINHA DO HARRY VOLTOU!

 — ...N-não foi por causa do castigo… bom, na verdade em partes, mas… eu estava entediado e…

 — Silêncio! Eu não terminei — suspirou, levando as mãos à cintura coberta pelo roupão de pano branco que usava. — Tem noção da responsabilidade que sua mãe deixou para mim depois que faleceu? E você me faz uma coisa dessas?! — Harry fechou os olhos, suspirou e olhou para cima. E lá vamos nós... pensou. Odiava que ela citasse sua mãe. — Eu fiquei seriamente preocupada, sabia? Faltava pouco para eu chamar a polícia para ir atrás de você e…

 — Você tem muito o que explicar, Harold — disse seu tio Roger, interrompendo Joanne ao descer as escadas junto de seu primo Luke. 

  Roger era um homem alto, branco e meio calvo. Os cabelos que ainda estavam em sua cabeça eram castanhos, assim como seus olhos e sua barba por fazer. Usava um óculos oval no rosto e vestia um roupão do mesmo tecido e cor do de sua esposa, cobrindo sua barriga saliente.

  Luke, ao terminar de descer as escadas, foi até o primo e lhe deu dois tapinhas nas costas. Sua respiração estava meio desregulada e, ao soltar o garoto, ele cruzou as mãos abaixo do peito e passou a mexer os dedos uns nos outros.

 — Estávamos… estávamos preocupados. De verdade… — proferiu.

 — Eu estou bem, estou bem, fiquem calmos que eu vou explicar tudo — o jovem disse e gesticulou com as mãos, alternando o olhar entre seu primo e seus tios. Se perguntou o porquê de Victoria não ter descido, mas logo se deu conta de que ela havia ido dormir bem tarde, com certeza não iria se levantar da cama naquele momento. Conhecia a prima. Era provável até que ela matasse o primeiro tempo de aula.