Capítulo 3 - Infeliz Coincidência

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— Sam, eu não acredito que está me arrastando para um mercado 24h a essa hora da manhã!

O dia mal havia amanhecido, a após doze horas de gravações noturnas, Sam decidiu que precisava comer buttery — um típico biscoito escocês a base de manteiga — e que tinha que ser naquele momento. Claro que Caitriona havia tentado dissuadi-lo da ideia, mas quando ele colocava algo em sua cabeça, dificilmente desistia.

Ele parou o carro no estacionamento praticamente vazio do supermercado, colocou o boné azul que usava como disfarce e se preparou para sair. Essas pequenas incursões matinais eram comuns — quase sempre que gravavam de madrugada, ele passava no mercado antes de ir para o flat descansar — e eram nesses momentos que ele quase se sentia uma pessoa normal, andando por um mercado com uma cesta de compras em mãos. Sem fãs assediando, sem parar para papparazi ou ter que dar autógrafos. Apenas uma pessoa comum comprando pão, ou o que quer que desejasse.

— Vamos Cait, coloque os óculos — insistiu, entregando um par de óculos de sol enormes, que teriam que servir como disfarce pra ela. Por mais que o mercado fosse praticamente vazio a essas horas, sempre havia a chance de ser reconhecido, daí começaria toda a comoção e em minutos os sites de fofocas estariam pipocando de fotos deles fazendo compras.

*

Como previsto, o mercado estava praticamente vazio, apenas meia dúzia de pessoas perambulando pelos corredores. Sam deixou Caitriona no corredor de frios, escolhendo um iogurte e foi até a padaria. Deu sorte de pegar a primeira fornada do dia, e os biscoitos ainda estavam quietinhos quando a atendente lhe entregou o saco de papel. Indecisa de uma forma não convencional, Cait ainda estava no corredor dos frios quando Sam voltou, mas não estava sozinha. Ele parou na ponta do corredor, espreitando.

— Piérre —ela falou. Sam conseguia ver a rigidez em sua postura, mas aguardou por um momento, talvez fosse melhor não interferir.

— Você continua linda, mon cher — Pierre deu a volta em Caitriona, como se estivesse avaliando-a — O destino é uma coisa incrível, não? Encontrar você assim, no meio de um corredor de supermercado, depois de tantos anos... No mínimo curioso.

Cait continuava paralisada, tensa e por mais que ele não conseguisse ver seu rosto de onde estava, tinha certeza de que a encontraria branca feito papel.

— Estou muito orgulhoso de você, pela carreira que construiu com minha ajuda, quero dizer... um pouco ingrata, talvez. — O tal Pierre prosseguiu, ainda a analisando com um olhar predatório, como se fosse engoli-la.

— S-sua ajuda? — Cait conseguiu falar, gaguejando.

— Não vai fingir que esqueceu de tudo que fiz por você em Paris, vai? — ele se aproximou ainda mais dela, fazendo menção de tocá-la.

— Não me toque — ela proferiu entre dentes, assumindo uma posição mais defensiva. Ela tinha medo dele, Sam podia notar. Mais um centímetro que ele se movesse e ele intercederia.

— Você fugiu de mim, querida... mas só porque eu nunca fiz questão de procurar você — ele segurou o braço direito de Cait com força, puxando-a para mais perto de si, face a face enquanto falava.

Depois disso, foi tudo muito rápido. Sam percorreu em duas passadas largas os metros que os separavam e empurrou Cait pra longe do homem. Ela bateu contra a prateleira do outro lado do corredor e desabou no chão, assustada. Sam deu dois socos de direita em Piérre, acertando em cheio seu nariz, que jorrava sangue em poucos segundos. O homem reagiu, assustado, acertando um soco na maçã do rosto de Sam. Piérre não era um homem grande, mas sabia como dar um soco, obviamente. O soco fora defensivo e o homem aproveitou o momento de confusão de Sam para sumir dali, deixando-os sozinhos. A única prova do acontecido eram algumas gotinhas de sangue no chão, que haviam escorrido do nariz de Pierre.

Kiss meWhere stories live. Discover now