Capítulo 35 - Sonhos

1K 67 25
                                    

Sam acordou num sobressalto, o coração acelerado, como se tivesse corrido uma maratona. Deu uma olhada em volta e levou um segundo para se localizar, pois ainda não estava acostumado àquele tipo de silêncio. Nos flats, por mais alto que estivessem, podia ouvir todo o barulho da rua, os carros passando, buzinas ocasionais e às vezes algumas vozes chegavam lá no alto, trechos de histórias que jamais saberia o desfecho. Mas ali era diferente. Ali os únicos ruídos que podia ouvir, se fizesse um pouco de esforço, era o de corujas sobressaltadas piando noite afora, e o vento que açoitava as janelas.

As persianas fechadas deixavam o quarto totalmente escuro, mas ele sabia que estava sozinho na cama. Esticou a mão apenas para confirmar que o lugar onde Caitriona deveria estar deitada estava vazio e gelado. Ela tinha levantado há um tempo já.

Levantou-se, vestiu uma calça larga e uma camiseta puída, pois mesmo com a calefação no máximo, a casa ainda parecia fria. Era começo de dezembro e o inverno ali, no topo da montanha, era mais intenso do que na cidade. Seguiu pelo corredor escuro, tateando pelas paredes. Sabia exatamente onde a encontraria.

A porta do quarto do bebê estava totalmente aberta, a luz acesa inundando o corredor quando entrou. Caitriona estava sentada num banquinho, em frente ao guarda-roupas branco, dobrando concentradamente uma pilha de roupinhas minúsculas, apoiando-as sobre a barriga proeminente. Tão concentradamente, que não notou quando ele entrou, parando atrás dela.

As paredes tinham sido pintadas há menos de dois dias e o cheiro da tinta cinza ainda era fragrante. Além do guarda-roupas, havia uma pilha de caixas numa parede e o berço semi-montado do outro lado, próximo à janela. Bem no meio do quarto tinha um tapete azul, daqueles bem macios, e uma poltrona confortável para amamentação.

Sam tocou-a nos ombros e ela teve um pequeno sobressalto, demorando um milésimo de segundo para perceber que era ele quem estava ali. Virou-se para ele, um sorriso fraco nos lábios.

— O que está fazendo acordada essa hora? — ele olhou para a janela, percebendo que ela estava totalmente aberta, e só então entendeu porque o quarto parecia tão gelado — E por que a janela está aberta nesse frio? Está louca, mulher? — foi até a janela, pronto para fechá-la quando Cait respondeu.

— O cheiro de tinta ainda está muito forte, quis arejar um pouco o quarto.

— Mas não pode fazer isso de dia? Vai morrer congelada — ele fechou a janela e voltou-se para ela, pegando sua mão, que estava super gelada — Você está toda gelada, amor — puxou-a para si, fazendo com que ela largasse o pequeno body que estava tentando dobrar.

Ela vestia um grosso pijama de inverno, e por cima dele, um roupão quentinho, mas estava realmente gelada.

— Eu nem percebi que estava tão frio — falou, enquanto ele a beijava ternamente no topo da cabeça — Levantei pela milésima vez para fazer xixi e não consegui mais dormir — contou — então resolvi ir arrumando as coisinhas do bebê... ainda tem tanta coisa para arrumar...

— Cait, você deve estar exausta, vamos voltar para cama, podemos arrumar isso aqui amanhã... eu ajudo — ele disse, sorrindo. Ela lançou um olhar divertido pra ele, como se o desafiasse a passar horas dobrando roupinhas minúsculas — O quê?

— É só que estou imaginando a cena — ela riu abertamente — de você dobrando roupas de bebê... parece tão...tão desproporcional — ela levou um tempo escolhendo a palavra para descrever o que imaginava.

— Desproporcional? — ele inquiriu, uma sobrancelha levantada.

— Olha o seu tamanho, Sam — ela afastou-se, pegando um dos bodies que tinha acabado de dobrar e colocou na mão dele — É do tamanho da sua mão! — riu com a comparação.

Kiss meWhere stories live. Discover now