Capítulo 32 - Sete Montanhas

1K 56 59
                                    

Talvez optar por construir uma casa ao invés de comprar uma pronta tivesse sido uma péssima ideia. Obras sempre foram sinônimos de estresse, e mesmo que colocassem todo o dinheiro do mundo contratando bons profissionais, sempre tinha uma coisinha ou outra que sairia fora do planejado. Prazos eram complicados, e no caso deles, mais ainda, uma vez que queriam se mudar antes do bebê chegar. Cada vez que falavam com o empreiteiro recebiam um prazo diferente. Inicialmente, poderiam se mudar na primeira semana de dezembro, mas depois de vários imprevistos, na ultima vez que visitaram a obra, foram informados de que a casa só estaria pronta perto do Natal.

O bebê era esperado para o final de janeiro, o que deixava uma janela bem apertada entre a suposta mudança e o nascimento, mas Sam permanecia confiante. Caitriona, por sua vez, a cada imprevisto parecia querer arrancar os cabelos e botar uma bomba naquela montanha.

Ele percebia as mudanças de humor dela e a tratava com cuidado, como se realmente estivesse carregando uma bomba, afinal, ela estava inundada de hormônios, e conforme a barriga crescia, vinham também outros incômodos, como o fato de ter que ir ao banheiro a cada dez minutos, ou as dores nas costas e os pés inchados. Somado a tudo isso ainda tinham as injeções diárias.

Era começo de novembro e a obra estava finalmente em fase de acabamento, e só quem mexe com construção sabe que essa é a fase mais complicada. Os vidros já tinham sido devidamente instalados, e as paredes estavam sendo pintadas. Mas como imprevistos sempre aconteciam, na última semana tinham percebido uma infiltração terrível em um dos banheiros, e por isso precisaram retirar os revestimentos de uma parede inteira em busca do cano problemático. Logo depois disso, parte do gesso da sala simplesmente cedeu, deixando um buraco enorme no teto da sala. Por sorte não tinha caído na cabeça de ninguém.

O flat de Caitriona mais parecia um depósito agora, já que depois do presente de Sam ela finalmente tomou coragem para começar a comprar as coisas do bebê, e conforme as caixas iam chegando, se acumulavam empilhadas na sala. Ela sempre fora boa compradora, e Sam até brincava em entrevistas que ela era viciada em compras online, mas dessa vez ele estava feliz com isso, porque pelo menos tinha passado aquele medo que ela sentia. O risco ainda existia, mas estavam monitorando de perto e o bebê seguia se desenvolvendo bem, o que era um bom sinal.

A barriga de 27 semanas despontava redonda, enquanto Caitriona terminava de engolir uma xícara de café descafeinado, pegava a bolsa e dava um selinho em Sam.

— Onde você vai com tanta pressa, afinal? — Sam perguntou, enquanto Cait colocava uma sapatilha, ajeitando o vestido rodado.

— A Karol está na cidade e disse que ia comigo ver umas coisas para o bebê. Acho que hoje vou decidir o berço — ela falou, empolgada. Há dias que ela vinha falando sobre o berço, mas não tinha conseguido decidir ainda. Talvez com a ajuda da amiga ela finalmente escolhesse um.

— Lembra do almoço, né? — Peter Olivier, um amigo de Sam e dono de uma academia em Londres, estava em Glasgow com a esposa e eles tinham combinado de almoçar juntos naquele dia — Sei que a Karol não está sempre aqui, mas juro que em uma hora você estará livre para voltar pras suas compras, amor.

— Tudo bem, eu não esqueci não. Pode deixar que meio-dia em ponto estarei lá — ela deu uma piscadinha, fechando a porta atrás de si.

Caitriona saiu no meio do almoço, pediu desculpas a Peter e Elle, sua esposa, e se retirou, falando algo sobre uma reunião inadiável. Sam ficou sem entender, mas não questionou. Talvez ela estivesse com pressa de voltar para a melhor amiga. Passou a tarde enviando mensagens, mas ela não se deu ao trabalho de responder. Já era quase noite quando ele realmente começou a ficar preocupado. Ligou inúmeras vezes para o celular dela, mas ia direto para a caixa postal. Ele se recusava a acreditar que algo ruim pudesse ter acontecido, mas sempre tinha um pedacinho de seu cérebro, mais irracional, que dizia que se ela estivesse bem, atenderia.

Kiss meWhere stories live. Discover now