Capítulo 12 - Saudades

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A semana que antecedeu a aventura pelas montanhas congeladas da Escócia foi bastante intensa. Sam praticamente se mudou para a academia, se preparando fisicamente para a jornada, treinando tantas horas quanto fossem possíveis em meio a agenda corrida de gravações. Passavam as noites juntos, mas ele estava sempre tão esgotado que adormecia rapidamente. Nunca mais tocaram no assunto de filhos. Era cedo mesmo pra pensar nisso, de qualquer forma, mas Cait sentia que ele ainda não tinha aceitado, que lutava internamente para conviver com a ideia de não ser pai de um filho seu.

    Fizeram amor no escuro, durante a madrugada na noite que antecedeu sua partida para as montanhas. Ele estava muito empolgado, mas Cait temia por ele. Tinha mil ideias de acidentes que poderiam acontecer, mas evitava pensar muito a fundo. Ele amava escalar e por mais que fizesse frio, era um escocês, afinal, acostumado às intempéries do clima. E além do mais, seriam apenas dois dias, ele estava muito bem equipado e conhecia aquelas montanhas como a palma de sua própria mão.

–  Vai ficar tudo bem –  ela falou em voz alta, enquanto dirigia de volta para casa, depois de deixá-lo no lugar em que se encontraria com a produção do programa.

*

    Enquanto Sam estava fora, Caitriona continuou sua rotina de gravações intensas. Ele deveria dormir nas montanhas três noites e retornaria na segunda-feira de manhã, direto para os sets de gravações. Ela acabou optando por dormir as duas primeiras noites no trailer, pois as gravações foram até bem tarde. No domingo ao fim do dia foi para casa. Eddie estava desesperada por presença humana, e mesmo que sua assistente tenha vindo alimentá-la, a gata queria mesmo era deitar em cima de sua dona e ficar assim.

    Cait estava deitada no chão, a tv ligada, lareira acesa e a gata estirada sobre seu peito quando a campainha tocou.

– Está esperando alguém, Eddie? –  perguntou enquanto se levantava e ia até a porta, abrindo-a de uma vez, sem nem se dar ao trabalho de olhar pelo olho mágico antes.

– Boa noite, wifey –  Sam estava parado à soleira da porta, um sorriso enorme no rosto.

–  Ahn, oi –  ela falou, convidando-o para entrar e fechando a porta atrás de si –  Você não deveria voltar só amanhã?

–  Sim, mas não aguentei de saudades –  ele disse, se aproximando dela como um lobo que cerca sua presa e abraçando-a com força, apertando-a contra si –  Terminamos de gravar e vim direto. Não ia aguentar mais um minuto longe de você.

    Ficaram ali, no meio do hall de entrada por um bom tempo, apenas aproveitando o calor um do outro, num abraço de tirar o fôlego. Era estranho para Cait se sentir assim. Ela esteve o fim de semana todo beirando o desespero em preocupação por ele, temendo que algo acontecesse. Não era de seu feitio ficar se preocupando assim, de graça, então tentava manter os sentimentos contidos, mas quando ele chegou ali, ela só queria tocar em cada parte de seu corpo e verificar se estava tudo inteirinho e no lugar. E estava.

– Eu trouxe comida –  ele falou por fim, erguendo um saco de papel que era a fonte do cheiro de comida tailandesa que Cait estava sentindo.

    Ela não falou nada sobre seus medos. Por mais que seu inconsciente enumerasse as cosias que ruins que poderiam ter acontecido a ele, seu consciente sabia que era ridículo pensar ou falar sobre isso, então ela decidiu guardar pra si. Apenas estava feliz por ele ter voltado num pedaço só e isso bastava. Ele não precisava saber que cada mensagem recebida no fim de semana era um pequeno fio de alívio em que ela tinha se agarrado até ele voltar.

–  Thai? – ela perguntou, apontando para o saco de papel.

–  Sim, seu preferido –  respondeu, tirando a mochila das costas e levando o saco de papel até a bancada da cozinha.

Kiss meWhere stories live. Discover now