Capítulo 33 - A ruptura

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Ela respirou fundo, contou até dez, tentando deixar passar, tentando esquecer que aquilo tinha acontecido. Quando terminou de contar, ainda podia ouvir os passos de Sam ecoando pela casa vazia. Não, não conseguiria ignorar. Saiu pisando duro, bateu forte a porta do corredor. Sam parou no meio da sala, as costas rígidas. Não se virou.

— Lide com isso? — ela urrou, entrando no aposento — Lide com isso? Você só pode estar brincando comigo mesmo!

Sam cerrou os punhos, ainda de costas quando ela decidiu terminar de atravessar a sala e se plantar em frente a porta, os braços cruzados sobre a barriga, uma gota de suor quente escorrendo por sua nuca.

— E acha que pode simplesmente me dar as costas? — Caitriona continuou falando entredentes — Mal tem um mês, Sam, que prometemos nos amar e respeitar naquele altar. Eu não vejo respeito nenhum aqui.

— Respeito? — a encarou. Ele estava em chamas, o vermelho subindo do colarinho da camiseta até a raiz dos cabelos — Você vem querer me falar em respeito quando tudo que você faz é querer me negar uma das coisas que mais amo fazer na vida.

— Eu nunca te neguei nada! Não coloque palavras na minha boca — respondeu.

— Pra bom entendedor, meia palavra basta, Caitriona — ele semicerrou os olhos, franzindo o cenho e formando uma carranca que Cait só vira em cena.

— Pare de concluir coisas, pare com isso! — ela se exasperou — Eu vim aqui ficar sozinha exatamente por isso. E você veio atrás de mim. Então agora vamos conversar.

— O que você quer conversar? Me diz? Porque eu sei exatamente como essa conversa vai acabar e não estou disposto a ouvir o que tem pra dizer — replicou, tentando passar por ela — Me deixe ir embora.

— Não! Você não vai a lugar algum agora! — ela segurou o braço dele num impulso, e quando percebeu a forma com que ele olhava sua mão, soltou, o braço pendendo ao lado do corpo.

— Deixa eu agilizar essa conversa então: eu não vou parar de escalar, eu não vou deixar de fazer as coisas que eu gosto, que eu amo, porque você tem medo que algo me aconteça — conforme ele gritava as palavras, ela ia se encolhendo — Eu não tenho medo. Supere!

— Eu não te pedi para não ir — retrucou — Eu apenas questionei! Eu questionei o fato de você não ter medo, porque é exatamente isso que me preocupa. Como pode você não temer pela própria vida?

— Não vai acontecer nada. É simples assim. Eu conheço os protocolos de segurança...

— Ah, e do que isso adiantou da última vez? Segurou a avalanche que te separou do resto do grupo? — perguntou ironicamente — Você teve sorte, Sam, sorte por nada de ruim ter te acontecido.

— Não foi sorte, foi técnica. Eu sabia que o que fazer, eu sei o que fazer-

— Eu sei que você sabe, mas isso não basta. Você podia ter morrido já naquela avalanche. E se fosse uma avalanche maior-

— Mas não foi! Não dá pra ficar deixando de fazer as coisas por medo! — eles berravam, ambos alterados, interrompendo um ao outro repetidamente.

— Logo o bebê vai nascer, Sam, que Deus nos ajude que ele venha saudável... Mas e se algo acontecer com você, como vou fazer sozinha? — Cait falou baixinho, o que fez com que Sam parasse para ouvir. Ele ficou quieto por um segundo.

— Nada vai acontecer — ele falou por fim — Me deixe sair, sim? Preciso esfriar a cabeça, não quero mais discutir com você... não faz bem pra nenhum de nós.

Ela pestanejou, ponderando se valia a pena realmente continuar aquela discussão quando estavam ambos tão alterados. Decidiu que seria melhor se acalmar. Deu um passo para trás, abrindo espaço para que ele saísse. Ele apenas abriu a porta, sem olhar para ela, e foi embora.

Kiss meWhere stories live. Discover now