Capítulo 30 - Outro tipo de felicidade

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O corredor longo e escuro lhe era familiar: sua casa sobre a montanha. Acordara com os seios doloridos, o leite empapando a blusa do pijama, mas a cama estava vazia, ela estava sozinha no quarto. Seus passos ecoavam no corredor, e o único som que ouvia era o de sua respiração, o coração batendo acelerado enquanto se apressava até o quarto do bebê... ou até onde deveria ser o quarto do bebê. A porta estava entreaberta, e uma luz fraca se filtrava para o corredor. Ela não sabia o motivo, mas temeu entrar ali. Levou a mão até a maçaneta e segurou-a com força, inspirou profundamente e empurrou a porta alguns centímetros.

O berço estava vazio, mas a poltrona que usava para amamentar não estava. Ele estava de costas para a porta, virado para a janela de vidro. Através dela, via-se o céu azul como breu, mas na linha do horizonte, os primeiros raios de sol despontavam, tingindo-o de um azul mais claro, abrindo espaço para o dia que viria.

Ele nunca lhe parecera tão grande, tão intimidante como naquele momento, apesar de sua postura dizer o contrário. Em seus braços musculosos, embalado nos cueiros, estava o bebê. Era tão pequeno, tão indefeso e vulnerável. Ela só conseguia ver o topo da cabeça e a ponta do nariz, mas aquilo já lhe enchia o coração de amor. Seu filho. Era seu filho ali, nos braços de Sam.

Sam, seu amor, seu marido, o pai de seu filho. Ele estava de lado, e mesmo com a pouca luz, conseguia identificar o sorriso. Não só nos lábios, mas nos olhos que brilhavam em adoração, em devoção àquele pacotinho. Um pedaço dele, um pedaço seu.

Caitriona se apoiou á soleira da porta, observando seu marido e seu filho, observando a forma como aquele bebê o completava e como aqueles dois a completavam.

Então acordou.

Acordou para outro tipo de felicidade.

O bebê chutou, e ela sentiu uma onda de alegria a inundar. Era como se ele estivesse a cumprimentando, dizendo "bom dia, mamãe". Acariciou aquela protuberância, um sorriso ocupando-lhe os lábios quando percebeu que Sam a abraçava, ainda dormindo, na mesma cama de hotel onde adormeceram juntos na noite anterior, na noite mais feliz de suas vidas.

Afastou-o carinhosamente, e ele se espalhou sobre o outro travesseiro, completamente relaxado. Ela apoiou-se em um dos cotovelos enquanto o observava. Era raro que ela acordasse antes, pois ele era sempre tão enérgico, saindo para corridas e caminhadas matinais, enquanto ela preferia ficar na cama, dormindo até o último minuto possível. Mas ali estava ele, dormindo pesado, provavelmente estava exausto por conta da viagem apressada para os EUA, e das emoções do dia anterior.

Ela se lembrou do sonho, da forma como ele sorria para o bebê, e pensou ter visto a sombra de um sorriso leve florescer em seus lábios enquanto ele dormia. Naquele momento ela pediu a Deus e a todos os santos que a dessem forças, que permitissem que seu corpo continuasse lutando para o bebê nascer, e que a abençoassem com o nascimento daquela criança. Ela rezou para que tivesse a chance de ver aquele sorriso nos lábios dele todos os dias, e então se aproximou e beijou-lhe na bochecha, um beijo terno, cheio de carinho. Não queria acordar-lhe, mas percebeu que a respiração dele mudou, e logo ele abriu um dos olhos, daquele azul infinito, encarando-a de forma sonolenta.

– Bom dia, marido – Caitriona disse, depositando outro beijinho em sua bochecha.

Ele demorou um segundo para despertar por completo, em seguida puxou-a para seu peito, aninhando-a ali e beijando-lhe o topo da cabeça.

– Bom dia, esposa – ele deu um sorriso preguiçoso – Faz tempo que acordou?

– Não, agorinha mesmo. Eu estava olhando você dormir – disse, desenhando pequenos círculos em seu peitoral nu, de forma despreocupada.

Kiss meWhere stories live. Discover now