Capítulo 16 - Certeza

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Ela já sabia. Sabia exatamente a causa do que estava sentindo. Sabia sem precisar de exame nenhum, sabia sem precisar de médico nenhum. Apenas sabia. Não era a primeira, nem a segunda vez que passava por isso na vida, e os sinais que seu corpo dava, não mentiam. Ela sabia.

Na noite anterior...

Caitriona saiu do banho enrolada apenas na toalha, os cabelos pingando em suas costas. Sam estava sentado na ponta da cama, tinha o celular nas mãos, mas assim que a viu, deixou-o de lado, abrindo um sorriso enorme.
– Venha aqui, sim –  puxou-a para seu colo, onde ela se enroscou automaticamente, as mãos nos cabelos dele.
–  Precisamos nos vestir, Sam –  ela disse, sorrindo, mas seu corpo falava outra coisa –  Faz dois dias que não saímos desse quarto.
–  Claro que saímos do quarto, querida –  ele beijou-a –  Fomos na sala, na cozinha, até no hall nós estivemos –  o sorriso aumentou. Eles tinham transado em todas as superfícies disponíveis do apartamento de Cait, e dormido mais horas do que achavam humanamente possível no fim de semana. Era raro terem dois dias seguidos de folga das gravações, mais raro ainda que ambos não tivessem mais nada nas agendas. Apenas não podiam perder a oportunidade de ficar juntos por tanto tempo, sozinhos.
–  Você sabe que não foi isso que quis dizer –  ela riu, mordiscando a pontinha do nariz dele. A toalha escorregou e seus seios ficaram visíveis. Sam não disfarçou o olhar, as duas sobrancelhas erguidas.
–  Seus seios... –  ele disse, segurando um deles com a mão direita enquanto a esquerda estava em volta de sua cintura, apoiando-a –  parece que estão maiores. Pode ser só impressão, Cait, mas eles estão maravilhosos.
–  Provavelmente estão inchados de tanto você chupar –  ela riu, jogando os cabelos molhados na cara dele –  Vamos!

*

Ela saiu do banheiro limpando a boca com a camiseta. Anitta, sua maquiadora, a esperava para começar a caracterização dela para o dia de gravações.
– Está tudo bem, Caitriona? –  perguntou, analisando o trabalho que teria para cobrir aquelas olheiras.
–  Ahm, sim –  sentou-se na cadeira em frente ao espelho, pegando o celular no ato. Não queria conversar –  Acho que comi algo estragado –  tinha esperanças de que essa sentença finalizasse o assunto.
–  Mas está bem pra gravar? Quer que eu chame alguém? –  Anitta questionou, fazendo alarde. Sua tentativa tinha sido claramente mal sucedida.
–  Estou sim, fiquei tranquila –  Cait tocou o braço da maquiadora, que depois de tantos anos, já era sua amiga também –  Já botei pra fora tudo que estava me fazendo mal –  e como se seu corpo quisesse contradizê-la, sentiu uma forte onda de náuseas. Respirou fundo, tentando segurar, mas em um segundo já estava em pé, correndo para o banheiro. Mal teve tempo de empurrar a porta atrás de si, alcançando o vaso e terminando de botar pra fora o café que havia tomado pouco antes.
–  Eca –  murmurou pra si mesma, enquanto colocava a pasta de dentes na escova pela segunda vez essa manhã.
–  Caitriona? – era Sam. Ele bateu de leve na porta, e ela percebeu uma pontada de preocupação em sua voz.
–  Sim? –  perguntou, a boca cheia pela espuma do creme dental.
– Posso entrar? –  perguntou baixinho, e ela viu que ele mexia na maçaneta. Por sorte, ela tinha lembrado de trancar assim que se levantara do chão.
–  Não! –  respondeu, indignada –  Claro que não, tá louco? –  O que pensariam se vissem Sam entrando no seu banheiro?
–  Saia daí então –  ele disse, impaciente e ela ouviu que ele se afastava da porta.
Quando saiu do banheiro, ele estava sentado no pequeno sofá do camarim, parecendo preocupado. Anitta não estava em lugar algum.
–  Anitta foi me chamar, Cait –  ele disse, levantando-se e alcançando-a com uma passada longa. Esticou os braços, como se quisesse tocá-la, mas desistiu –  Está tudo bem, querida?
– Eu disse pra ela que estava bem –  disse, levemente irritada.
– Não é o que parece –  Sam constatou, dessa vez puxando-a para si, num abraço.
– Acho que tinha algo estragado no jantar de ontem –  comentou, numa tentativa vaga de distraí-lo do que realmente estava acontecendo.
– Me lembre de não pegar mais comida naquele lugar então  –  ele afastou-se dela um centímetro, dando uma boa olhada em seu rosto –  Quer que eu peça o dia pra você?
–  Não, está louco? Hoje é o primeiro dia de gravações desse bloco, vai atrasar todo o cronograma se eu sair hoje...
–  Não importa o cronograma, Cait –  ele interrompeu-a.
– Se você me deixasse terminar de falar –  olhou-o de forma acusatória –  eu poderia dizer que: além do mais, já estou me sentindo bem melhor –  completou –  Acho que já botei tudo pra fora.
Depois de mais alguns minutos de insistência, ela finalmente o convenceu de que estava bem. Contanto que ficasse longe de qualquer cheiro de comida pelas próximas horas, provavelmente não sentiria nada. Sam buscou Anitta e voltou para seu camarim, seguindo com sua própria caracterização. Gravaram o resto do dia, e como ela previra, sem maiores incidentes. Isso definitivamente confirmava sua teoria.
No período da tarde, somente Sam tinha cenas pra gravar, então ela pediu que um carro da produção a levasse para casa.
Estavam apenas ela e Eddie em casa. Tirou suas roupas e parou em frente ao espelho, analisando seu reflexo, a gata a encarava, curiosa. Seus seios realmente estavam maiores, o quadril um pouco mais largo e a barriga, estranhamente parecia mais redonda, mas essa parte poderia ser apenas uma impressão.
No caminho de casa tinha parado na farmácia e o teste estava lá, sobre a pia do banheiro. Três deles, todos atestando sua teoria.
Passou a mão sobre a barriga. Era estranho como seu corpo reagia, como já parecia natural afagar sua barriga. Era estranho pensar que já sentia aquela vida dentro dela, mesmo quando ainda não passava de um aglomerado de minúsculas células, lutando para sobreviver.
Se lembrou da primeira vez, do pânico que sentiu quando olhou as duas tirinhas cor de rosa no teste. Na segunda vez, tudo que sentiu foi alegria, pois queria muito aquela criança. Na terceira, era esperança. Esperança de que esse bebê se agarrasse a ela e viesse ao mundo. Agora, tudo que sentia era tristeza. Ela sabia que carregava em seu ventre um bebê de Sam. E sabia também que esse bebê provavelmente não veria o mundo com seus próprios olhos.

Kiss meWhere stories live. Discover now