Capítulo 29 - Meu coração, meu lar

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– Eu não entendo porque ele não atende o maldito do telefone! – rugi, enfurecida, arremessando o celular em um dos sofás do quarto em que estava. Era meio da tarde e o sol permeava através da cortina fina. Vestia apenas um robe de seda e renda branca, os cabelos presos num coque bagunçado, composto por uma trança frouxa e finalizado com pequenas flores cor-de-rosa.

– Provavelmente porque o voo atrasou e ele ainda está dentro do avião – mamãe falou com calma, uma calma que me irritava ainda mais. Ela já estava pronta, trajando um lindo vestido salmão, sentada com as pernas cruzadas no mesmo sofá em que eu jogara o celular – Caitriona, fique calma, essa agitação toda não vai fazer bem para o bebê.

Parei por um segundo, alisando a barriga, a meio caminho da janela. A cerimônia fora marcada para acontecer em três horas, e por mais que fosse íntima, odiava a ideia de algo dar errado. Olhando dali, através das janelas limpas do quarto da pousada, podia ver apenas a última cadeira que fora disposta para receber os poucos convidados. Ainda estava cedo, ele chegaria a tempo, tudo ficaria bem. O bebê chutou, como se sentisse meus pensamentos e quisesse me acalmar, lembrando-me de sua presença.

– Filha, sente-se aqui, vamos – minha mãe deu duas batidinhas no assento ao seu lado, convidando-me – David já está lá no aeroporto esperando, ele vai chegar a tempo.

Me sentei no sofá, a contragosto, mas de que adiantava ficar andando pelo quarto, afinal? Tinha expulsado minhas irmãs do quarto mais cedo, permitindo apenas que mamãe me acompanhasse. Com a promoção da nova temporada de Outlander a todo vapor, Sam não conseguiu remarcar uma importante entrevista e teve que viajar às pressas para os EUA. O plano era que ele voltasse na noite anterior, mas uma tempestade fez com que todos os voos saídos do LAX fossem cancelados. Ele tomou o primeiro avião que conseguiu, mas ainda não tinha dado notícias.

Ouvi o celular vibrar sobre o sofá, e atendi num impulso, sem nem olhar o remetente.

– Oi – ouvi a familiar voz pontuada pelo sotaque escocês do outro lado da linha, e uma onda de alívio me tomou.

– Onde você está? – as palavras escaparam de meus lábios antes que me desse em conta.

– Já pousei, acabei de pegar minha mala e estou vendo o carro agora mesmo – ele falou com calma, como se tivesse todo o tempo do mundo – David trouxe minhas roupas, eu vou dar o jeito de me trocar no carro. Não se preocupe, chegarei a tempo.

– É bom que chegue mesmo! – disse, um sorriso brincando em meus lábios enquanto meu corpo relaxava.

– Em 2h30 estou aí – ouvi uma porta batendo do outro lado, e um cumprimento alegre entre Sam e David enquanto o outro se acomodava no carro.

Talvez tivesse sido uma péssima escolha se casar na praia. Se fosse na cidade, Sam não precisaria encarar as horas de carro e chegaria mais cedo. Mas Lunan Bay conquistara nossos corações desde a primeira vez em que colocamos os pés sobre a areia branca, e a pequena pousada em que estavámos tinha o mais lindo gramado sobre uma colina, o mar se abrindo ao fundo. Era o lugar perfeito, e valia sim a viagem, conclui.

– Te vejo no altar – eu disse, sorrindo de verdade agora. Ele chegaria a tempo.

– Te vejo no altar – ele ecoou, desligando em seguida.

*

O céu estava claro, tão limpo e tão azul que era até estranho. Quando decidimos por um casamento ao ar livre, sabíamos que estaríamos sujeitos às intempéries do clima, e se tratando de Escócia, no outono, um dia chuvoso era algo muito mais comum do que ensolarado. Mas arriscamos mesmo assim, e fomos agraciados com aquele lindo dia.

Kiss meWhere stories live. Discover now