Capítulo 10 - Tudo

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Na ida para Dublin eles tinham optado por voos separados para não correr o risco de serem reconhecidos e causar comoção, mas na volta não se deram ao trabalho. Sam normalmente era reconhecido com facilidade, mas Cait se misturava ao ambiente como um camaleão.

O dia seguinte foi de gravações intensas, mas como começaram muito cedo, terminaram cedo também, e quando chegaram em casa o sol ainda estava alto. Nos últimos dias as temperaturas vinham beirando o negativo, mas naquele dia em especial, o sol tinha dado as caras e dispensado o uso dos casacos térmicos, aquecendo tudo em que tocava.

– Querida, coloque uma roupa confortável e me espere pronta, sim? – Sam falou, deixando Cait atônita à porta de seu apartamento.

– O que? Porque? Onde vamos? – ela perguntou, confusa.

– Surpresa. Apenas se troque, coloque um tênis e pegue mais um casaco, está bem? – ele depositou um selinho em sua boca e foi em direção ao elevador – Em uma hora eu passo aqui.

– Ahn, ok?! – ela aceitou, achando graça – Não vai me obrigar a correr 10km, né?

– Até logo – ele disse, com um sorriso bobo estampado na cara enquanto as portas do elevador se fechavam.

Enquanto Caitriona se trocava, ele começou os preparativos. Ele tinha tido a ideia no carro, enquanto dirigia para casa, o sol batendo no rosto dela, tão linda, tão leve, tão feliz. E o dia estava lindo demais para ser desperdiçado dentro de casa, pensou.

Pegou uma cesta – que tinha recebido dias antes com presentes de fãs – e colocou algumas comidas, um bom vinho e uma toalha grande e xadrez dobrada por cima. Ele mesmo se trocou, colocando um tênis confortável e um casaco bem quente. Levou tudo no carro e quando deu uma hora, pontualmente, bateu à porta de Cait.

Ela estava impaciente, ele percebeu.

– Vai me contar agora? – perguntou, deixando-se ser conduzida até o elevador.

– Ainda não – ele riu, beijando o topo de sua cabeça.

– Heughan, odeio surpresas – disse, fazendo beicinho.

– Se eu contar, estraga – respondeu, rindo dela.

– Odeio você – falou impulsivamente, esticando-se para beijá-lo e provar que sentia o extremo oposto do que dizia.

A Escócia era um país cinzento, chovia quase todos os dias, aquela garoa fina que deixa o cabelo de qualquer um arrepiado, mas hoje o sol estava presente com toda sua magnitude, deixando tudo mais bonito. Quando saíram da auto estrada e entraram numa estrada menor, se afastando da cidade, Cait arquejou com a vista. O verde era ainda mais vibrante, as montanhas ao longe brilhavam sobre um céu tão azul e aqui e ali podiam-se ver pequenos riachos, escorrendo por entre as encostas montanhosas. Realmente, era uma paisagem de tirar o fôlego.

Ele estacionou no topo de uma montanha. Já haviam estado ali, é claro. Tinham gravado ali há quatro anos, ela jamais se esqueceria da sensação maravilhosa que era estar naquele lugar.

Sam abriu a porta pra ela e pegou a cesta no porta-malas, escolhendo um lugar para esticar a toalha e sentou-se.

– Surpresa – ele disse, sorrindo e chamando-a para se sentar ao seu lado.

– Eu devo admitir que dessa surpresa eu gostei – sentou-se, deixando que ele a abraçasse.

O vento era frio e agitava seus cabelos, mas o calor do sol a mantinha aquecida; além disso, tinha Sam, que ardia como uma fornalha ao seu lado. Sua fonte de calor própria, pensou.

– Você é um homem intrigante – ela disse, pegando uma uva e oferecendo a ele, que prontamente abriu a boca.

– Porque? – ele perguntou, com a boca cheia. Tinha trazido duas taças e o vinho favorito de Cait.

– Porque quem é que pensaria em vir fazer um piquenique no topo de uma montanha em plena segunda-feira, depois de um dia inteiro gravando?

– Um homem que ama as montanhas, e ama sua companhia – falou simplesmente, entregando uma taça a ela – A nossa montanha.

– Nossa? – questionou, bebericando da própria taça.

– Eu chamo de nossa desde que gravamos aqui –ele deu de ombros – Naquele dia, mesmo com tanta gente em volta, eu senti como se fossemos apenas você e eu aqui em cima.

– Eu também senti – admitiu.

– Sempre que posso venho aqui, sento nesse mesmo lugar e penso em você. É muito bom poder estar aqui com você finalmente. Quero dizer, com você... bem, junto com você...

– Como um casal, você quer dizer? – sorriu ante a dificuldade dele em encontrar as palavras certas para o que estava sentindo.

– Isso. Eu estou muito feliz com você – falou, acariciando a maçã de seu rosto enquanto a observava ternamente.

– Eu também estou, meu amor – declarou.

– Eu tenho uma coisa pra você – ele levantou-se, correndo até o carro. Caitriona viu que ele pegava algo de dentro do porta-luvas – Comprei faz uns dias já, mas estava esperando o momento certo.

– Por favor, não me diga que é uma aliança – riu, ao ver que ele tinha uma caixinha retangular nas mãos.

– Não, daria muito na cara... mas eu queria que tivesse um pedacinho meu contigo o tempo inteiro, por isso comprei isso – abriu a caixinha, que continha uma delicada gargantilha de ouro. A correntinha em si era de ouro, super fininha, e o pingente era uma bolinha de ouro branco, cravejada com pequenos diamantes. O sol incidiu sobre o pingente, fazendo com que brilhasse ainda mais enquanto ele erguia os cabelos dela e a ajudava a fechar o presente.

– É lindo, Sam – ela disse, segurando o pequeno pingente entre o polegar e o indicador. Pegou o celular e abriu a câmera frontal, usando-a como espelho para admirar a gargantilha – Você tem muito bom gosto.

– Ficou linda no seu pescoço – ele aproveitou que tinha erguido o cabelo dela para beijá-la na nuca, roçando o nariz em seu pescoço nu. Ela tinha cheiro de rosas e baunilha, e ele teve vontade de mordê-la ali mesmo, mas contentou-se com outro beijinho.

– Muito obrigada – falou, virando-se para ele, nariz com nariz, testa com testa, olhando no fundo de seus olhos azuis, da cor do céu naquele dia ensolarado.

– Pode parecer cedo pra você, mas pra mim, não é – ele disse, sem desviar o olhar, segurando-a pela cintura – Eu quero passar cada dia da minha vida contigo, quero ter meia dúzia de filhos e ficar velho e caquético ao seu lado. E só não enfio uma aliança no seu dedo agora mesmo por causa daquele maldito contrato.

Enquanto falava, ele percebeu que ela se retesou, afastando-se um pouquinho dele, mas não disse uma palavra. Ele só podia concluir que ela ainda achava cedo demais para qualquer uma daquelas ideias e se contentou em aproveitar o momento. Tinham tempo pra pensar em casamento ou filhos. Era o agora que importava.

– Eu te amo – ela disse, finalmente. Era tão bom poder dizer aquilo, poder ouvir aquilo depois de quatro anos de sentimentos reprimidos. Até poucos dias eles pensavam que jamais poderiam ficar juntos, ambos pensavam que a amizade um do outro era tudo que teriam, e agora eles tinham um ao outro, corpo e alma, sorrisos e beijos, e amor. Eles tinham tudo. 

Kiss meWhere stories live. Discover now