Capítulo VII - O último adeus

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‘’Não se surpreenda se a minha história terminar aqui’’

Os vizinhos olhavam para Petúnia, sentiam pena de sua família. Todos apostavam que não iria chover até lá e não plantaram nada, eles comem o que resta e quando acabar ficariam a mercê da morte.

O que ela temia aconteceu, a comida acabou. O último ovo foi cozido, antes mesmo de comer fizeram suas orações a Deus, dividiram entre quatro que saborearam como se fosse à última coisa que comiam na vida, e era.

Entreolharam-se e choraram, pensaram no futuro e em não sofrer por antecipação. Logo após alguns minutos a tia mandou que dormissem, acabaram de acordar, mas que durmam. Se a morte chegar que não tenham dor nem sofrimento.

Francisquinha se deitou, não conseguiu dormir e mesmo que conseguisse sonharia com coisas que ela não queria sonhar. Ficou ali na cama deitada pensando na sua morte. O pior não é morrer, o pior é sofrer. Da morte Francisca não tinha medo, se chegasse a hora que levasse o mais rápido possível.

Da vida não carregaria nada, não tinha nada e mesmo que quisesse como levaria? 

Tudo vinha como uma bomba sem nem um tipo de informação ou embalagem dizendo: ''perigoso'' e ela estava tão perto e nem reconhecia que estava no seu fim. 

''Chorar para que? Desperdiçar lágrimas? Se fosse morrer que pronto, devo é aproveitar o resto de vida que tenho'' Foi o que pensou, mas quando já estava decidida a aproveitar ao máximo quando minha prima Perpetua entra:

- Corra Francisca, Antônio foi embora!

Francisquinha se levantou achando que Toinho tinha fugido. E pensou que seria uma boa fugir também, mas deixar sua tia preocupada? Não mesmo.

Foram à casa de Toinho, a qual Francisquinha lhe apelidara carinhosamente, e lá estava ele estirado na cama, a língua roxa para fora, os olhos vidrados e as pupilas dilatadas.

Francisca foi até o pé da cama, sem ninguém perceber ela fechou os olhos dele e lembrou-se das vezes em que eles brincavam e riam. Das vezes em que falavam que iriam se casar e brincavam de casório. Das vezes que comiam rapadura antes do jantar. Das vezes em que olhavam as estrelas e viam bailarinas que brilhavam com suas roupas engomadas e saltavam com os sapatos brancos como a lua e riam quando erravam o passo e caiam. E se lembrou do seu último adeus quando ela se mudou para um bairro vizinho e eles não iriam brincar mais.

Pensou em como ele foi uma boa pessoa, sem mente formada, mas foi uma boa pessoa. Correu para casa, esqueceu até da fome e escreveu uma história na qual o nome é: ‘’O namorado da bailarina’’.

FrancisquinhaWhere stories live. Discover now