Capítulo XXVI - Ira

58 4 1
                                    

- Tiro – o homem sussurrou e em segundos todos estavam, no chão com as mãos na cabeça se protegendo. Uma mulher chorava porque estava com seu pequeno e ele não queria de deitar.

- Você tem que se deitar.

- Por quê?

- Para se proteger.

- Só foi o pneu que estourou. – a criança disse com total segurança e Francisquinha levantou e saiu pela porta que estava aberta. Olhou o pneu esquerdo da frente do carro e estava murcho.

- Fiquem calmos, só foi o pneu.

- Ficar calmo? Essa viagem já se estendeu de mais. Toda hora uma parada, eu já estava cansado. – disse o motorista cruzando os braços.

- Só queríamos tomar um ar. – disse uma mulher que há pouco tempo se enrolava no pescoço do homem como uma cobra.

- Paramos há dez minutos. – rosnou como resposta a mulher

- Mas o que aconteceu? – Francisquinha perguntou para calmar os ânimos

- Esta mulher – apontou com o cigarro para uma moça que estava próximo aos primeiros bandos – queria tomar um ar e o motorista seguiu viagem sem se importar, ela se estirou em cima dele, aquele homem tentou intervir e o motorista soltou o volante. Entramos na mata rala e o pneu estourou. – disse a viciada continuando a olhar a paisagem que agora não se movia.

- Estão todos bem? – Francisquinha disse olhando para o fundo do ônibus, estavam todos aglomerados na saída.

- Bem? Vamos passar dias aqui. – falou uma voz no meio da pequena multidão.

- Dramática. – continuou a fumante exalando sua fumaça dentro do ônibus.

- Tudo por sua causa, esse cigarro agorento estava empesteando o ônibus.

- Alto lar, acendi agora com essa gritaria de vocês.

- Acabou. – Francisquinha disse autoritária. - Como a moça disse: passaremos aqui dias então temos que ficar calmos. – todos se sentaram e começaram a ouvir a menina que estava se tornando uma líder. – nada de culpar ninguém. Culpem a si mesmo.

Saiu e olhou para a paisagem, ao longe enxergou o posto que antes tinham abastecido. Dez minutos de ônibus, mas quantos a pé? Disse a si mesma e voltou para o ônibus.

- Tem um posto. – disse Francisquinha e foi cortada pelo motorista

- O que abastecemos há dez minutos.

- Estou tentando entender o que a mulher tem a dizer. – falou à mulher que fumava, mas agora apagava sua chama num pires acoplado à poltrona. – ela quer que um de vocês volte lá e fique até encontrar um novo ônibus ou alguém que possa nos ajudar.

- Pois ela é uma idiota – disse à mulher que há poucos instantes estava agarrada ao motorista, Francisquinha nem se abalou, na verdade, nem ouviu. – se vim um ônibus é óbvio que ele seguirá essa mesma rota.

- Desculpe, mas a idiota aqui é você. Se não percebeu não estamos mais na pista e ainda por cima tem outro caminho atrás do posto. – todos olharam para a mulher muito observadora que agora voltara a sua tarefa: continuar a observar a paisagem.

Se entreolharam jogando indiretas uns para os outros para que fossem até lá pedir ajuda.

- Rapazes, vocês estão num ônibus cheio de damas. Nem um de vocês vai se candidatar?

Os homens que estavam ali murmuraram, mas depois aceitaram e saíram andando. Só ficou o motorista com todas as mulheres do veiculo.

- Tudo culpa dele – apontou uma para o motorista e ela caiu em lágrimas. As mulheres todos o olharam, as sobrancelhas franzidas mostravam que elas não estavam entendendo nada.

FrancisquinhaWhere stories live. Discover now