Capítulo XXV - Inveja

62 3 0
                                    

Há minutos atrás fingia está dormindo para não ter que dar respostas. Não tinha elas, nunca as tinha. Ele acreditou que Francisquinha estava adormecida então começou o seu trabalho. Ajeitou a menina na cadeira de maneira confortável usando uma das suas sacolas como travesseiro e como ela não tinha acompanhante a deitou ocupando todos os dois acentos.

Mas de repente pegou no sono. Lá fora chovia e fazia um bom frio, a vegetação se tornava cada vez mais verde tendo o Sol ao longe como imperador.

Sonhou que estava em uma longa extensão duma plantação. Corria em meio ao nada quando de repente caia no chão. As folhas deixavam o seu corpo dormente fazendo com que Francisquinha ficasse cada vez mais cansada.

- Minha filha, acorde. – uma voz fraca a acordou.

- Mãe? – sem acreditar estava ela de novo, vendo a mãe. Apesar de cética acreditava em Deus, mesmo que Ele fosse uma pessoa calada, uma pessoa que conversava com ela, mas preferia continuar calado.

- Acorde minha filha. – estava com uma roupa diferente da que viu anos atrás quando criança usava um vestido rosa bebê e carregava um buquê de rosas em que suas pétalas eram levadas pelo vento forte.

- O que houve? – falava ainda sem entender o que a mãe queria dizer.

- Algo vai acontecer.

E acordou subitamente.

Não estava sozinha como nas outras vezes que acordou de um sonho. O ônibus estava andando e estava havendo uma confusão terrível dentro dele. Levantou-se e foi perguntar o porquê daquilo tudo.

No meio do caminho, quase chegando perto do amontoado de pessoas que se ajuntavam ao volante, Francisquinha encontrou uma menina de cabeça baixa chorando. Deve estar com medo por causa dos gritos. Sentou-se do lado dela.

- Olá querida. – e mexeu nos seus cabelos

- Oi. – e continuou de onde parou no choro. As lágrimas corriam pelo seu rosto como no dia em que encontrou José, olhou para trás tentando achar ela. Nada.

- Porque está chorando. – a menina levantou a cabeça e Francisquinha viu que não era uma criança que talvez estivesse perdida. Era uma mulher.

- Desculpe... – já estava se retirando quando sentiu algo segurando o dorso da sua mão.

- Pode ficar, sente-se aqui. – a fantasia de menina acuada parecia ter sido rasgada e jogada ao longe. Agora era uma mulher sentada na cadeira, com as pernas cruzadas e enxugando os olhos. – o que houve?

- Pensei que precisasse de ajuda.

- E preciso. – pegou na mão de Francisquinha, olhou nos seus olhos. – você acreditou que eu era uma criança – e se virou. – Erro frequente.

Não se contestava que aquela mulher parecia ter menos idade do que tinha. De costas seria certamente confundida com uma adolescente e as roupas ajudavam para isso. Usava um vestido simples, não muito justo ao corpo, que escondia todas as suas curvas que vinham pela idade. Francisquinha sentiu-se velha de mais e por alguns segundou sentiu inveja.

O rosto limpo da bela mulher de longe brigava com as marcas do rosto de Francisca que continuava fascinada com o presente que o tempo estendeu aquela mulher.

- Não aparento, mas tenho 35 anos.

Trinta e cinco? Era mentira. Se dissesse que tinha até vinte era aceitável, mas trinta e cinco era um disparate. Aquela criança, sem dúvida, estava fugindo de casa e acabou se perdendo era a única explicação.

FrancisquinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora