Capítulo XXVII - Gula (especial de Natal)

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- Senhoras, estão sentadas? – um rapaz não tão robusto começou o discurso

- Más noticias, o frentista nos informou que o último ônibus passou há minutos e esse ônibus é o que nós estamos dentro. Os veículos encerram no dia 24, hoje, e retornam dia 26.

- Vamos ter que ficar aqui. – disse a mulher sem pouca surpresa e logo após acendendo um cigarro.

Tão pouco um tumulto começou a acontecer dentro do ônibus e algumas pessoas estavam gritando assustando as crianças que estavam sendo levadas pelas mães.

- Alguns motoristas tem família e pretendem passar o natal ao lado da esposa e dos filhos.

- Ótimo.  - - resmungou uma das mulheres

- Pronto, temos que ficar todos juntos. Minha tia – madrasta – sempre dizia que quem você está no natal é a sua família naquele momento. Todos nós somos uma família.

- O que eu vou fazer? Meu dinheiro acabou e meu filho está com fome – disse a mãe e logo após fez um chiado para acalmar a criança.

- Toma aqui – e levantando-se a mulher do cigarro entregou uma quantia a outra que agora agradecia muito feliz.

Estavam todos do lado de fora em uma grande sombra que era concedida pelo ônibus. Uns lendo seus livros e outros só descansando porque aquele dia não passaria tão depressa. Não podiam falar muito do natal porque algumas no ônibus eram ateus.

- O natal não é especialmente só o nascimento do menino Jesus e sim a magia que você trás ao juntar a sua família e saber que cada um daqueles presentes são parte da sua história. – Francisquinha continuava falando, gesticulando e aos poucos foi se desenvolvendo a conversa. O dia estava prestes a findar quando tiveram uma ideia.

- Vamos fazer um amigo secreto, até para nos conhecer melhor.

- Sim, sim, vamos.

- Onde vamos comprar os presentes?

- Não precisa comprar, só precisa ser uma coisa especial.

E começou o alvoroço, todos se entreolharam já pensando em quem podiam tirar.

- Vamos seguir o protocolo. Quem querer participar? – apenas cinco mãos foram levadas ao alto, mas era um número bom. – Então está bem. Digam seus nomes.

- Meu nome é Marcia e eu gostaria de ganhar uma cartela de cigarros. – gritou logo a mulher que fumava e todos riram porque não existia lugar aquela hora que pudesse ser comprado, nem mesmo que quisesse.

- Leonardo. – disse um homem alto e robusto com uma voz grossa e assustadora.

- Helena. – uma mulher comum com seu vestido e com uma bolsa que não desgrudava do corpo, não confiava em ninguém.

- Madalena – mulher que estava com um dos seios para fora amamentando o seu filho.

- Antônio. Mario Antônio. – o motorista

- Francisquinha – abrindo um sorriso revelando sua simplicidade.

Colocaram os papeis com os nomes dentro de uma caixa e cada um tirou o seu amigo secreto

O alvorecer estava trazendo com sigo a lua que em sua magnificência iluminava a todos. Era a hora de entrar e dormir. Aos poucos foram entrando e se saudando com uma boa noite. As mães ajeitavam suas crias num banco com cobertas e algumas mulheres estavam deitadas ocupando dois bancos. Os homens estavam mais próximos da porta, dizendo eles que era para proteger a todos. Era uma boa noite. Amanhã nós poderíamos nascer de novo.

FrancisquinhaWhere stories live. Discover now