Capítulo XIX - Leões vegetarianos

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 Não estava no meu habitat natural. Os leões brincavam com os nossos corpos revelando os segredos que escondiam goela a baixo: eram vegetarianos.

            Quando a tia de Francisquinha recebeu a carta foi logo arrumando as suas coisas porque iria para a casa de Pandora. Esperou suas filhas chegarem e partiu.

            Chegando à casa de Pandora foi logo cumprimentando a conhecida. Era sempre educava e escondia o ódio que sentia por aquela mulher. A fotografia não era o único segredo que existia entre Pandora e Petúnia.

            - Entre. – Pandora abriu a porta logo quando viu os passos fortes e inseguros de Petúnia. Mal deixou falar e já continuou – está deitada – disse isso após observar que Petúnia vasculhava a casa.

            - Você já contou a ela?

            - Deixei a cortesia para a vossa pessoa. – Petúnia foi subindo as escadas e Pandora a alertou.

            - Deixe a menina dormir.

            - E há quanto tempo ela está a dormir?

            - Algumas horas. Está trancada no quarto... E há de ficar pior depois de tudo.

            - Pandora, deixe-me conversar sozinha com ela, essa conversa não é sua. – disse isso revelando parte do seu rancor pela mulher que agora tinha boa vida.

            - Todos nós sabemos que essa conversa, em partes, me refere. E não vou deixar que tire ela dos meus braços. – disse isso segura de que talvez Francisquinha pudesse ficar com ela

            As filhas de Petúnia estavam paradas ouvindo tudo. Pandora começou a olhar para as meninas de uma maneira diferente. Olhava como se tivesse algo estranho.

            - Saiam daqui, nos deixem conversar. – Petúnia disse e as meninas foram vasculhar a casa.

            - Não me diga que elas...

            - Está colocando coisas de mais nesse bolo, tudo tem que ser feito devagar.

            - Será uma boa se tudo desandar e ficar um bolo ruim renegado.

            - Sempre haver esfomeados Pandora.

- Sempre vai haver bolos ruins Petúnia.

Deixaram um pouco de lado as suas divergências e foram tomar um chá para descansar um pouco. Francisquinha apareceu e ficou surpreendida com a tia estar na casa de Pandora.

- Francisca – sempre que sua tia lhe chamava assim ela já sabia que notícias ruins viriam por aí – não posso mais atrasar essa conversa.

- Espere – disse como uma mulher feita, quase era – vamos lá para cima.

Francisquinha ficou numa cadeira próxima a janela, do outro lado estava um criado-mudo com as coisas do seu pai.

- É uma coisa difícil de entender, - as lágrimas já tinham tomado conta do rosto de Petúnia – o seu pai, ele... Esteve por muito tempo ao meu lado. Quando estava com a sua mãe. – entregou a Francisquinha a foto cortada – ele me escrevia poemas, mandava cartas – o poema, Francisquinha pensou – e depois que sua mãe morreu, ele me deixou.

Francisquinha não conseguia ligar os fatos. Faltavam coisas. Foi quando se lembrou da foto que ela encontrou nas coisas do seu pai. Levantou e revirou as coisas até achar o pedaço da foto.

Achou.

Seu coração se esvaziou.

Juntou as duas partes e formaram uma fotografia. Era um quebra cabeça perfeito, juntos sem nem uma falha. Começou a lembrar do sonho, era a mulher. Sua tia era a mulher. E ela estava com o seu pai.

Foi tentando encontrar refúgio na luz andando para trás. Sentiu as pilastras da janela, mas seus pés queriam fugir daquele lugar.

~~~~~~ • ~~~~~~

Pandora olhava as filhas da tia de Francisquinha como se procurasse algo. Tinha algo de familiar naqueles rostos. A boca fina que não parecia carnuda como a de Petúnia, mas conhecidas. Já tinha visto algo parecido.

Quando caiu em si percebeu que as meninas se pareciam com o pai de Francisquinha. Foi quando ouviu um barulho e correu para o quarto.

Subiu as escadas rapidamente segurando seu vestido. Abriu a porta e viu o Sol tomando conta do quarto, as pequenas pilastras de meio metro quebradas. Petúnia jogada no chão sem reação.

Francisquinha caiu da janela.

FrancisquinhaWhere stories live. Discover now