Capítulo XX - Gotas no deserto (bônus)

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      Já me arrependi de tantas coisas que eu não disse tantas coisas que eu não fiz. Coisas que poderiam ter mudado a minha vida e ficar pensando e se remoendo é perca de tempo. Hoje eu não falo o que da na telha, eu digo o que tem na casa.

            Eu estava entre a vida e a morte. No ápice de tudo que eu havia pensado. E as gotas caíam no deserto e logo sumiam porque são poucas em meio ao nada. Minha janela está entreaberta e eu estou sentindo o vento entrar, a brisa carregar o que eu não suporto e me fazer ter calafrios.

            Meus braços se mechem numa leveza de espírito e eu não consigo abrir os olhos. Estou em meio ao nada. Eu ainda não estou morta. Não consigo acreditar que eu ainda estou aqui, meus pés sentem os horizontes gelados, sensação que eu nunca experimentei.

            A inocência rouba a alma de quem não entende as afirmações de mentes limpas como a lama dos jardins suspensos da babilônia. E eu ainda estou nadando como um peixe, como um fruto sendo lacerado pelos dentes de um faminto. Eu já fui um deles.

            Minha cama por muitos tempo rangia, era ensurdecedor. Só existia um local, uma posição em que ela ficava em paz e como eu não consigo ficar parada ela se perde no meio dos meus pesadelos em quanto eu estou acordada.

            Eu sempre sei do que escrever porque sempre tive o domínio farto de mim mesmo. Se estou parada, ou como as roupas no varal eu sei que tudo pode acabar um dia. As roupas vão ser tiradas, vestidas, lavadas e voltaram para o varal. Ali é o lugar delas. Aqui é o meu lugar.

            Não consigo ser mais a mulher que eu queria ser pelo simples motivo de não conseguir me dominar completamente. Eu estou presa entre o escombro e o gelo que adormecem o meu corpo e me deixa aqui parada.

            Estou no meio do caminho e não consigo me mexer. Consigo ver a luz do fim do túnel, mas ainda enxergo a escuridão do caminho que eu prossegui. Voltar agora seria perca de tempo, porem, a uma parte de mim que quer voltar. Eu quero voltar.

            Abrir a porta para estranhos seria o meu próximo desafio. E ficar em êxtase em meio ao perigo que me dominaria, que me destruiria e eu conseguiria dar o primeiro passo para um futuro inesperado.

            Sei que não posso fazer muita coisa, mas faço. Estou morrendo e não poço morrer. Já me conformei, eu não sou a mesma de antes. O ardor, a morte está me fazendo amadurecer.

            E eis que apareceu um homem todo de branco, apesar da asa não era um anjo. Apresentou os caminhos, de ir em frente ou voltar. De morrer ou viver. Eu tinha que escolher a estrada certa, uma era sinuosa e a outra deserta. E com muita euforia, apresentou sua peça, me fazendo escolher qual dos caminhos traçar eu ainda não estou morta, posso escrever ou dar um fim no meu futuro com uma palavra.

            ‘’ De um lado temos a morte. A paz de tudo. Estaria você longe dos vícios do mundo, se pouparia de tudo que pode lhe acontecer. Mas ficar sem saber dos segredos da sua família, o que Pandora e Petúnia, o que elas a escondia? Se não voltares nunca vai descobrir e se algo te prender ao mundo você nunca poderá partir.

Doutro lado voltar para a vida. Sofrer, ser entregue a pecados, não ser acompanhado até a saída. Andar sozinha sem ninguém ao seu lado. Correr numa corda bamba sem nem um apoio, enquanto vários obstáculos lhe atiravam pedras para te derrubar. Saberia os segredos e cairia na tristeza. Porque há mais coisas e o passado já está feito. Só abriríamos as cartas numa mesa redonda e apresentaríamos o que foi escondido, num julgamento onde ninguém é condenado.

- Então o que vai escolher? ‘’

FrancisquinhaWhere stories live. Discover now