Capítulo XXVIII - Rugas

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             Aos poucos Francisquinha ia despertando do seu sono profundo. A noite de ontem tinha se tornado flashbacks em meio a todos os acontecimentos. Ela já deveria estar no Rio, já deveria ter conhecido sua avó que ela nem se lembra do nome.

Em meio à loucura cada passo seria como colocar os pés no chão e dar o primeiro passo do dia, seria se entregar, continuar a viver. Porque você só vive quando levanta da cama.

- Já acordou filha? – Francisquinha se lembrou de Marcia a chamando de filha a noite inteira.

- Sim. – ela queria dizer ‘’mãe’’, mas não conseguia.

- Vamos tomar um café. – pegou numa das mãos de Francisquinha e foi para o posto de abastecimento não muito longe dali.

- Acho que este é o nosso último dia.

- Sim – Francisquinha disse depois de um longo suspiro.

- Mas não fique chateada, nós vamos nos encontrar de novo. Eu prometo. – as pessoas tinham cada vez mais o dom de mentir, o dom de prometer uma coisa que na maioria das vezes não pode ser concedida. Como um médico que mente a um paciente terminal dizendo que ele vai ficar bem, confortar alguém nos últimos dias é necessário.

Tomou aquele café quente delicioso que a fez lembrar-se da tia nos dias em que acordava e tinha café na mesa. Uma mulher lhe trouxe um pedaço de pão que logo após ela cortou com as mãos revelando suas origens selvagens.

Conversaram por longas horas sobre tudo que aconteceu e tudo que poderia acontecer. As vidas, antes escondidas, se tornaram um grande segredo revelado e nada mais poderia ser desfeito. Ela agora pode ser uma das minhas mães.

- Vamos voltar. – Já estavam se levantando quando viram um ônibus se aproximando um pouco longe. – um ônibus, nossa chance. Vamos ficar aqui até ele chegar.

Ele chegou e estava quase vazio, ainda bem. Embarcaram e já estava tomando a rota normal por trás do posto quando Marcia gritou.

- Não, vamos por ali, tem mais gente esperando esse ônibus.

O novo motorista assentiu com um aceno e segui pelo caminho indicado. Todos que estavam no outro ônibus foram para a pista apreensivos para a chegada, tinham perdido um pouco da fé quando viram o grande monte de lata seguir pela outra rota, mas logo recuperaram-se quando enxergaram que ele dava uma volta brusca pelo acostamento. Marcia, um deles gritou e Francisquinha logo percebeu que ela estava com o rosto e um dos braços para fora do ônibus acenando para a sua nova família.

- Pensaram que eu esqueceria de vocês. – falou ainda gritando da janela.

Todos entraram felizes, até o antigo motorista que abandonaria ali o ônibus. Depois era só dizer à firma o que teria acontecido. Estavam cada vez mais próximo, aquela era uma família perfeita só por estarem em um curto espaço de tempo juntos.

Aos poucos o grande mar de areia foi se transformando numa planície interminável de um verde lindo, jamais visto por Francisquinha, logo após grandes plantações e rebanhos atraentes, até chegar dentro de uma grande cidade. Era o Rio de Janeiro.

Não demorou muito para o motorista parar, respirar bem fundo e se levantar. Estava na frente de todos impedindo a passagem um homem de estatura baixa, para tantos homens que aquelas damas e cavalheiros terem visto na vida, com uma blusa azul da firma abrir um sorriso e se manter ereto.

- Bem vindos ao Rio de Janeiro. – ele disse e logo após abriu a porta do ônibus.

- Já estive com ele uma vez, ele sempre faz a mesma coisa quando chega aqui. – disse Marcia que estava ao lado de Francisquinha – Para onde você vai?

FrancisquinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora