Capítulo XI - Depois das lentes do rei

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QUE EXISTIA, existia, mas quem comprova? Eu mesmo não ouso discutir. Sei que venho a mim através de um sonho e aqui irei contar.

Um rei, muito velho, digamos assim, muito mesmo. Mas a sua aparência não denunciava isso. O rosto era limpo como um pêssego e o corpo? Oh o corpo, faria inveja a diversos homens de 30 ou 40 anos. Andava como um nobre e era. Só tinha uma coisa que denunciava a sua idade: suas mãos.

As mãos eram velhas, enrugadas, pareciam que sugavam toda a velhice do seu corpo. Ele as escondia com uma luva de fio de ouro pra não agredir a pele frágil que tinha.

Passava pelas ruas com ar de superioridade, olhava para as pessoas feias e não tinha pena alguma de nem um deles. Para ele, não importa, se fosse pobre e feio ou rico e feio era farinha do mesmo saco.

Um dia um viajante feio, mas inteligente, adentrou a cidade e foi cortejar o rei. Dirigiu-se ao castelo e foi muito bem recebido, sentou-se numa cadeira enorme, mais alta do que ele mesmo e esperou a realeza.

Quando o rei chegou, ele se levantou, agachou a ponto de um de seus joelhos tocarem o chão. O rei, sem as luvas, estirou as mãos ao viajante que a beijou com um pouco de nojo e espanto. O rei logo percebendo isso baniu o homem do castelo e criou uma lei em que todas as pessoas feias, não importa se fosse rica ou pobre fossem banidas do reino.

Ricos e pobres. Aristocratas e servos começaram a sair do reino de pouco a pouco até ficar uma parcela de pessoas consideravelmente bonitas.  O governador de certa área viu que o valor arrecadado em imposto começou a abaixar a ponto de não conseguir suprir as necessidades do estado. Já ficando louco mandou chamar a pessoa mais inteligente de fora do reino e veio até ele o mesmo viajante que cortejou o rei.

O governador explicou a situação e o viajante lhe disse o que faria. Criaria uma lente poderosíssima que deixava as pessoas bonitas aos olhos de quem as visse.

Não passou muito tempo e chegou esta lente. O governador entregou ao rei que ficou maravilhado, começou a observar as pessoas e viu que não funcionava, falou isso ao governador que foi furioso ao viajante e ele disse que teria que observar a pessoa por alguns segundos. O governador correu e disse isso ao rei, ele observou, observou e concluiu que funcionava mesmo.

O rei deu essa lente a um guarda que cuidava da entrada da divisa dos reinos. O guarda segurou a lente e começou a testar. A noticia logo se espalhou e o povo logo correu para ver se poderia entrar no reino.

O guarda usou a lente e toda vez que usava via uma pessoa mais bonita que a outra então deixava passar. Em pouco tempo o reino estava lotado, não cabia ninguém. E continha as mesmas pessoas, pobres, ricas e todas feias.

Saindo do seu castelo ele se dirigiu a cidade, andando no seu cavalo branco olhava para os lados e via o mesmo povo feio, sem diferença alguma. Pensava se estava louco e concluiu que era obra do viajante.

Perguntou ao governador quem tinha feito à lente e ele disse um viajante, bem irritado o rei mandou chamar esse viajante. O viajante se apresentou ao rei que reconheceu a mesma o resto feio do miserável do viajante. Olhou para os lados, viu os guardas e mandou que o viajante fosse decapitado.

Levaram o viajante acorrentado, escoltado por dois guardas até o lugar onde se degolava os malfeitores.

Chegando lá as pessoas ficaram eufóricas. Há anos não usava aquele lugar, o que o homem tinha feito?

O rei encheu a boca e disse:

- Este homem que vocês estão vendo, é um mentiroso e merece ser decapitado. Que seu corpo seja dado aos cães e de sua cabeça que carrega esse cérebro seja cremada.

O povo se aterrorizou e caiu em espanto. Então o rei continuou:

- Tem algo a dizer antes da morte?

- Eu poderia dizer que amei a vida, mas tão pouco a aproveitei. Acredito que nada disso me fez feliz, ou nada disso recompensou. Não existem pessoas feias cara majestade, existe pessoas que enxergam diferente e nem todos são iguais. Se todas as pessoas feias são banidas do seu reino que sua mão seja banida também. O que eu lhe apresentei foi um amuleto que enxerga a beleza de todos e tão – mal acabou de falar e o guarda o decapitou, o pescoço se dividiu em dois como um pão repartido para uma família faminta e a cabeça caiu até o chão do altar parando de cara para baixo como se estivesse beijando o chão. Deram seu corpo aos cães e a cabeça junto com o amuleto foi jogado na fogueira.

Posso dizer que este amuleto agora está na minha mão, não foi totalmente destruído. Uso ele todos os dias. Esse amuleto não é nada mais nada menos que uma venda que eu coloco no meu rosto e vejo as belas pessoas.

FrancisquinhaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang