Capítulo XIII - O Pecado é se alegrar

137 12 3
                                    

 ANDANDO POR terras diferentes, vendo arvores com frutos que não pareciam ser comestíveis pensando em coisas que ainda não tinha pensado sentou-se numa pedra e disse para si mesma:

                ‘’Lembro-me de várias vezes, em que olhei no espelho e não vi eu mesmo, vi uma alma sem face, uma que não se descreve, que é pior que a água, só se sabe dizer que sou eu.

                Sinto-me como as nuvens que não dependem do Sol para estarem no céu. Eu penso na vida e vejo que ela melhorou, eu agradeci, mas será que eu mereço isso?

                Nem todas as histórias descrevem muito bem a vida, mas apenas tentam. ’’

                Francisquinha derramou apenas uma lágrima, levantou e continuou a andar.

~~~~~~ ∙ ~~~~~~

                Chegando a casa sua tia tinha lhe preparado água quente para tomar banho. A água escorria pelo seu corpo como se seu corpo fosse uma cachoeira de água doce que molha as pedras e ainda nos intriga a pensar de onde vem tanta água.

                Mais uma vez pegava a água com a cuia e jogava no seu corpo quente e sentia o frescor e percebia que estava pura.

Encostou suas costas na parede gelada e por alguns instantes acreditou não estar onde estava.

            Abraçou a si mesma e foi como um anjo acolhendo algum animal em apuros. Fechou os olhos.

            Chorou.

            E nem por isso foi pecado.

            Enxugou-se, a fina toalha parecia mais um pano de seda de algum rei da Europa, passava as mãos nos objetos e sentia a poeira, levava ela ao nariz e logo após espirrava. Repetia isso num ciclo vicioso como se isso a tornasse viva, mas era só para passar o tempo.

            Enquanto colocava a roupa o papel caiu. Pegou ele, olhou, dobrou e escondeu dentro das mãos.

            - Achei que não iria sair. A água estava tão boa assim? – a tia de Francisquinha disse de costas enquanto fazia alguma coisa que não dava para enxergar.

            - A água de qualquer jeito é boa. – Francisquinha levou os braços às costas e disse enquanto olhava para o chão. – O que a senhora está fazendo? – a tia se virou, olhou para Francisquinha e disse:

            - Ande, venha me ajudar. Corte essa cebola. – estendeu a mão e nela estava uma cebola pequenina e uma faca de serra que era duas vezes o tamanho da cebola. Francisquinha sentou-se à mesa e descascou,

            - Sabe que eu odeio descascar cebolas.

            - Sabe que eu odeio saber o que você odeia e acho que está na hora de você ir para a escola. Pegue pão no cesto e corra para não se atrasar.

Francisquinha levantou-se bruscamente e o papel foi ao chão. A tia olhou para ele e reconheceu a letra masculina. A letra que arrancava suspiros a cada carta que recebia. Continuou a olhar até que Francisquinha agachou e pegou do chão. Foi como se tivessem arrancado seu coração, apertado num quebra nozes e ainda conseguisse sentir todo o aparato, toda a dor, como se ainda estivesse dentro de si.

Francisquinha percebeu e ainda por cima notou que aquilo mexia muito com a sua tia.

~~~~~~ ∙ ~~~~~~

            A casa em si trazia o cansaço. Era sozinha para cuidar dela e das meninas então quando o Sol dava aquele pequeno descanso se tornando mais fraco a tia de Francisquinha se sentava e descansava.

            Ainda sentada encostou sua cabeça na parede e nisso relaxou seu corpo todo. Estava estirada de tal maneira impressionante que até beneficiava suas curvas e feições. O corpo um pouco magro, mas ainda saliente. O cabelo com alguns fios brancos em que ela escondia com o lenço. Os dedos cansados. Os pés rachados. Mas ainda era uma bela mulher.

            Estava ainda sentada, descansando quando alguém bateu a porta.

            - Petúnia, adotei uma criança.

FrancisquinhaTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon