Francisca despertou como o lançar de uma flecha do arco para o alvo. Seu rosto, antes mesmo de começar os movimentos matinais, estava limpo. Sua tia lhe jogara agua na face para acordar mais rápido.
- Levante. – disse Abigail e logo após saiu do quarto.
As meninas todos entreolharam-se e cochicharam, quando Francisca se levantou lembrou do dia em que chegou e bagunçou sua cama.
- Um presente para você Christina. – depois de dizer isto saiu do quarto, encontrou a velha na cozinha, sentada na cadeira com uma xicara de café vazia na mão.
- Vá tomar um banho, depois conversamos. – Foi o que Francisquinha fez.
Sem dizer uma palavra entrou dentro do banheiro não tão grande e se deliciou com a água gelada. Vestiu-se e retornou a cozinha.
- Minha filha não queria fazer isso, mas você precisa arranjar outro lugar para ficar. – a xicara de café estava, agora, cheia nas mãos enrugadas da grande mulher.
- Eu, eu prometo que...
- Não. Eu nem quero pensar em como você viveu com sua mãe, tia, Pandora, só sei que na minha casa não é assim.
- Prometo seguir suas regras.
- Está bem, não me decepcione. Estou lhe dando mais uma ficha para esse jogo, se desperdiçar está fora.
- O.K. – Francisca já estava de cabeça baixa tomando seu café.
- Seu emprego, já está resolvido? – a idosa quebrou o silêncio revelando completo interesse em continuar conversando com a mulher que estava a sua frente
- Vou voltar lá hoje.
- Menina você não conhece nada aqui então vou te explicar uma coisa. Quando eles dizem que é para voltar no outro dia é só para você não ficar acanhada. Acredite, não vai ter nada para você lá.
- Mas eu pretendo voltar.
- Insistência de mais é sinal de fata de educação.
- Estou aceitando tudo que possa vir para mim.
- Essa é a garra de uma Santana – disse a velha estendendo o braço mostrando a pele caída. – aceite qualquer coisa. Você me faz lembrar de uma pessoa.
- Quem?
- Eu. Quando cheguei aqui não tinha nada para mim então resolvi lavar a roupa das pessoas. Foi um sucesso. Lavava e passava ninguém nunca falou mal. Os dias foram passando e os braços cada vez mais não aguentavam então parei.
- Abigail... Percebi que as meninas não parecem com a senhora. De onde elas são?
- Vamos deixar essa conversa para outro dia – falou Abigail levantando-se e colocando a xicara vazia na pia.
- Mas... – foi cortada pela mulher que a olhou firme nos olhos e disse:
- Francisca, elas vem da zona. – depois se virou, lavou o copo e saiu. Christina entrou na cozinha e sentou-se ao lado de Francisca.
- É sempre assim, quando descobrem ficam com essa cara.
- Que cara? – Francisquinha falou sem entender nada. – o que é essa zona?
- Zona é o lugar onde as Mulheres da Vida vivem Francisca, você é muito inocente.
- E você...
- Sim, filha de uma delas. Sempre que uma das meninas vai embora Abigail vai lá e pega uma das crianças para criar. Ela estava falando no telefone ontem, parece que tinha uma para ela... - Francisquinha levantou-se, deixou Christina falar sozinha e foi até o quarto de Abigail. Abriu a porta e a velha estava escondendo algo de baixo do colchão.
YOU ARE READING
Francisquinha
Non-FictionCom a morte da mãe, Francisca vai morar junto com a sua tia e primas na Bahia. Vive uma vida difícil regada de mentiras e segredos. No auge da sua caminhada uma descoberta e feita e isso muda todos os planos da menina simples do sertão. O livro Fran...