Capítulo XXXII - Cortes

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Os dias estão, cada vez mais, se tornando páginas de um discurso hipócrita para alguém que não entende de política. Alguém que nem mesmo entende a missão entregue nas próprias mãos no dia de uma mocidade. Era um moço, mas sabia do bem e do mal.

Francisquinha despertava de um sono leve. Estivera deitada de mau jeito, pois um inquilina tinha se apossado de metade da sua cama, dizendo que se sentia segura ao lado dela. Pura mentira. Todos nós sabemos que pessoas assim são tomadas por um medo terrível de ver o Diabo em pessoa no pé da cama.

- Quem teme a Deus não tem medo do diabo. – dizia Abigail apagando as luzes da casa quando a noite chegava, mas que hipocrisia dela que dormia com o abajur aceso e quando lhe perguntavam falava dos inúmeros remédios que tomava pela noite.

Francisca passou os olhos no relógio e seguiu em frente, voltou-se para olhar de novo, ficou observando os minutos passarem, como eles se formavam e tentava desenha-los com os dedos na mesa. Passaram-se um bom quarto de hora até que ela se lembrasse das panquecas que deixou no forno, retirou-as com um pano e colocou na borda da mesa. Voltando-se, vendo que já estava caindo, segurou com os dedos o prato quente e logo após os soltou no meio da mesa. Sacudiu em euforia a mão e logo após colocou debaixo da água corrente. Não demorou muito e passou, tomou o garfo, faca e comeu a panqueca de doce de leite para satisfazer seus vermes, como diria Pandora ao comer bastante doze.

Estava sentada, parada, tinha acabado de comer. Olhou para dentro da bolsa, que estava disposta em cima da cadeira a sua frente, pegou a marca em sabão da chave e deu uma gargalhada.

- Será que isso vai dar certo? – ainda olhando para a marca no sabão – Melhor prevenir do que remediar. – Levantou-se abruptamente após se lembrar das horas que a velha passaria dormindo, foi até o quarto da mulher e adentrou com brutalidade. No primeiro instante recou, pois a mulher tinha se virada, mas logo após tomou seu rumo e retirou a chave do pescoço de Abigail que dormia como uma virgem: sem preocupações.

Tomou a rua e foi a um chaveiro, que não ficava muito longe dali, teria visto uma vez quando ia para o trabalho e nunca mais se esqueceria. Cumprimentou o homem e lhe entregou primeiramente a marca no sabão.

- O que é isso? – disse o chaveiro sentindo-se ofendido, respirou fundo achando que estaria ele sujo, não, acabei de me banhar.

- Gostaria que o senhor fizesse está chave – continuou virando o lado do sabão revelando a marca de uma chave que parecia convencional.

- Está de brincadeira? Assistindo muitos filmes em mocinha. O que eu posso lhe dizer é – tomou o sabão nas mãos e o olhou cautelosamente observando cada traço feito. – não dá para fazer cópia de chave em sabão, pelo menos eu não sei. Talvez, se eu tentasse, passaria horas tentando moldar uma chave parecida, mas, possa ser que, não sirva.

- Então tome esta. – tirou da bolsa a outra chave e colocou em cima do balcão. O homem pegou a chave e fez a cópia, entregou a Francisca que logo saiu sem olhar para trás.

- Ei caloteira – advertida aos gritos por um homem que o seguira – pague o que me deve – e lembrando-se de não ter pagado o homem entregou-lhe uma nota e desculpou-se.

Entrou na casa, colocou a chave de volta no pescoço da velha, que ainda dormia agarrada com o travesseiro e foi ao encontro das meninas.

- Sabem sambar minhas queridas. – segurava nas mãos uma chave nua, sem chaveiro, ela brilhava como ouro com a ajuda do sol que iluminava com veracidade. – E não existe esse negócio de marcar no sabão, esqueçam.

- Então como conseguiu – começou Tereza que tinha levantado da cama rapidamente quando avistou uma chave nas mãos de Francisca, passava-lhe pela cabeça que aquela seria a chave da liberdade.

FrancisquinhaWhere stories live. Discover now