C A P Í T U L O III

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§ NINA MILANI §

Hoje é sábado, seu dia favorito. Acorde!

Disse a mim mesma essas palavras quando percebi que tinha aberto meus olhos. O quarto ainda estava escuro por conta das cortinas que cobriam a janela, impedindo a luz de entrar. Eva e Blair sabiam que sábado era "O Dia Sagrado do Sono", na qual acordar antes de 12:00AM é um pecado imperdoável. Elas me ajudavam a não ser uma pecadora por não abrir a cortina quando saiam de manhãzinha.

Tirei os cobertores e desci da cama. Procurei meus chinelos (nunca abriria mão dessas delícias) e desliguei o ar-condicionado. Abri as janelas e respirei o ar puro que vinha das áreas de floresta de árvores secas e feias da estação do outono. Cores tristes e sem vida saiam delas, e me faziam me sentir da mesma maneira.

Mas, não hoje.

Hoje é sabado!

Tomei um banho e lavei meus cabelos. O bom de estar no quarto sozinha era a liberdade de andar apenas de roupa íntima, e colocar as músicas que eu quisesse no volume mais alto. Para começar, uma das melhores da minha banda favorita.

"Said her name was Georgia Rose"

Meu melhor microfone era minha escova de cabelo. Minha melhor plateia eram minhas maquiagens dispostas na minha penteadeira. Meu melhor palco era o quarto inteiro.

Minha melhor companhia era quem estava dentro do espelho.

Milani: já fui apenas 1/3 dos herdeiros desse sobrenome. Depois, fui 1/2. Agora, parece que sou a única herdeira. Não deveria, mas sou.

As vezes, me pegava pensando neles, nos dois. Nele e nela. Eram como uma ferida, que fazia questão de machucar toda vez que eram mencionados, até em pensamentos. Não deveria, mas penso.

— Hoje é sábado, Nina. — disse a mim mesma, de novo. — Não é dia de pensar no passado, e muito menos de ficar triste por eles.

Me obedeci. Não me dava ao luxo de ficar triste, não mais. Por isso, coloquei minha blusa favorita. Uma blusa branca e uma calça preta. Peguei um casaco de couro cor de caramelo para combinar com as botas de mesma cor. Coloquei um par de brincos dourados e fiz uma maquiagem básica, do jeito que eu gostava para ir à cidade. Impecável, foi o que disse quando olhei o resultado no espelho.

Peguei minha bolsa preta e tranquei o quarto antes de sair. A escola estava vazia, como era de se esperar. Alguns alunos que também estavam longe das suas casas deveriam estar por aí, na cantina ou em seus quartos. Eram poucos, mas ainda estavam aqui na escola.

— Ei, niña . — era Tito. Não o tinha visto enquanto descia as escadas, mas ele me viu.

Ele também estava longe de casa. Ficava todos os finais de semana e alguns feriados, até mais do que eu, aqui na escola.

— Oi, Tito. Pensei que fosse para a casa da Blair ou a do Maddox esse final de semana.

— Não dessa vez. Kyle resolveu ficar na escola e os pais de Blair estão em casa esse final de semana. — ele riu. — Vai pra cidade?

— Sim. Quer alguma coisa?

— Não, na verdade. Valeu.

BROKEN HEARTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora