C A P Í T U L O X V I I

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§ NINA MILANI §

Vitória, Espírito Santo — 30 de julho de 2014
(3 anos e meio antes)

Meus olhos estavam pesados, mas alguma coisa me dizia que eu tinha que abri-los. Lentamente, abri eles. A claridade dificultou ainda mais, mas, depois que meus olhos se acostumaram, consegui enxergar tudo muito bem.

Estava em um hospital. Hospital não, clínica de reabilitação.

Uma sala branca, com duas poltronas brancas na parede da minha frente. Meus pais deveriam estar ali, mas acho que eles viriam aqui mais tarde. No meu lado esquerdo, tinha um armário cheio de remédios e equipamentos médicos, além de uma mochila preta que eu não conhecia. A ideia inicial era fazer parecer o meu quarto, mas ele não era tão sem graça desse jeito. Quando virei para o meu lado direito, pude ver que tinha uma pontinha de quem eu era.

Em cima de uma outra cadeira, tinha um ursinho de pelúcia amarelo. Ele era grande, e parecia muito fofo. Ao lado dele, vi um buquê de girassol, virado para o mesmo lado que a luz do sol entrava no meu quarto. Eu não lembrava dessas coisas antes de dormir, então alguém devia ter trazido enquanto eu dormia.

Ouvi um barulho da porta sendo aberta, e olhei para ver quem era. Tão branco quanto a cor da parede do quarto, ele entrava comendo uma coxinha. Ele fazia uma cara estranha, mas depois percebeu que era boa quando mordeu ela.

— Hunter! — o chamei, sorrindo.

Ele olhou para mim de volta, e se aproximou da cama:

— Olha, a Bela Adormecida acordou. Ainda bem que não tive que esperar cem anos para isso acontecer. — ele deu de ombros, sorrindo também, e me abraçou.

— O que você tá fazendo aqui, no Brasil ? — quase gritei em seu ouvido. — Tipo, você mora no Canadá!

Ele riu, e sentou do meu lado da cama. A coxinha que ele comia parecia apetitosa, então dei uma mordida nela enquanto ele explicava o porquê dele estar aqui:

— Soube do que aconteceu com você e seus irmãos. — ele suspirou, e passou a mão no cabelo. — Sinto muito, Nina.

Mexi minha cabeça, em negação.

Esse era o porquê de eu estar aqui. Fazia alguns meses que meu irmão tinha morrido, e então eu descobri que não poderia mais conversar com minha irmã porque ela tinha sido expulsa da Liga. Depois que eu quase me matei com uma overdose, meus pais decidiram que era melhor eu ser internada por um tempo. Não era bem o que eu queira, mas isso me dava um tempo longe da minha realidade. Se não fosse pelos medicamentos e o quarto sem graça, parecia até um hotel de férias. Já fazia uma semana que eu estava aqui, fazendo absolutamente nada além de assistir filmes e ler livros da minha lista.

— Isso ainda não explica o que você está fazendo aqui. — disse, depois de engolir o pedaço da coxinha.

— Não é óbvio? Eu vim te ver, sua mal agradecida, e ainda te trouxe sua flor favorita e um ursinho! — ele pegou a coxinha de volta, e deu outra mordida nela. — E outra, a culinária do seu país é meio estranha, mas é gostosa. Isso aqui é frango? — ele apontou para o recheio, de boca cheia.

— Não fale mal da coxinha, senão vamos cortar nossos laços de amizade agora, Sr. Hill. — me impus.

— Duvido. — tentei roubar sua coxinha de novo, mas ele levantou o braço com a coxinha na mão. — Não vou te dar mais minha comida, Nina!

BROKEN HEARTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora