C A P Í T U L O V I

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§ KYKE MADDOX §

Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria no momento que meu pai escolheu minhas eletivas e o impediria de fazer uma merda dessas com a minha vida.

Odiava biologia com todo o meu ser, ainda mais quando nos aprofundávamos no estudo sobre o corpo humano. Sim, ele era e sempre foi fascinante, mas não para pessoas que têm hemofobia. Quando eu era criança, tinha medo do escuro. Mas, quando cresci, tive medo de algo que corre dentro de mim e que ocupa mais de 160.000 km em vasos sanguíneos, de acordo com o livro.

Vai entender.

Dude, me empresta a borracha. — pedi a Tito, do outro lado da mesa.

Estávamos na biblioteca, estudando para a prova de biologia no final da semana. Ele estava olhando para o nada, e nem parecia ter ouvido o que eu disse. Ele estava assim desde a sexta-feira, e continuo assim durante o final de semana. Amassei uma folha de papel e joguei ele, tentando chamar a atenção dele.

— Sua mãe não te ensinou a jogar lixo no lixo, não? — ele pegou a bolinha de papel e a amassou mais.

— Estou fazendo isso.

— Haha. — disse, sarcástico. — O que você quer?

— Uma borracha. Você ficou com a minha na aula de geografia e não devolveu.

Ele jogou a borracha e voltou a olhar para o nada. Joguei outra bolinha de papel nele.

— Que inferno, Kyle! O que você quer, afinal? — ele gritou.

A bibliotecária mandou que fizéssemos silêncio.

— O que aconteceu com você? Por que tá assim, "perdido"? — disse mais baixo, evitando que a bibliotecária reclamasse.

— Nada. Só... me deixa em paz.

— Tem certeza, man? Eu posso ajudar com alguma coisa?

— Não acho que você poderia ajudar com o que tá acontecendo. Se está fora do meu alcance, imagine do seu.

— E o que tá fora do seu alcance?

Ele riu, e fechou os olhos. Tito sabia como eu era curioso, e insistente. Ele fechou os livros e aproximou mais sua cadeira de mim.

— Eu vou te contar um segredo, mas só porque eu confio muito em você, Kyle. Me prometa que você não vai contar pra ninguém.

— Relaxa, dude. Você fala como se tivesse matado alguém.

Ele ficou quieto. Espero que a clássica fala "quem cala, consente" não se aplicasse nesse caso.

— Você não sabe muita coisa sobre a minha infância, não é? — ele perguntou.

— Desde que você não tenha matado ninguém, acho que consigo ouvir.

— Ok, vamos lá. — ele respirou fundo. — Eu nasci em Acapulco, uma cidade de Guerrero que fica no México.

— Eu sei disso.

— Mas, o que você provavelmente não sabe é que minha mãe era canadense.

— Sério? Você não tem nenhum traço do Canadá!

— Quando minha mãe tinha uns 25 anos, ela viajou com umas amigas para Acapulco. Lá, ela conheceu meu pai e perdeu toda a inteligência que ela tinha por se apaixonar por ele. Então, as amigas dela voltaram pro Canadá, mas ela não. Então, ela acabou tenho dois filhos com meu pai, eu e o gêmeo, Theodoro.

BROKEN HEARTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora