C A P Í T U L O X X V I I

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§ NINA MILANI §

Embora eu tivesse um computador e tablet para fazer anotações, eu nunca me desgrudava do papel. Minha lapiseira amarela combinava perfeitamente com a capa de girassol do meu caderno de anotações, ganhado do Hunter antes que ele fosse embora. Meu melhor amigo sempre dizia que era bom colocar os pensamentos para fora de algum jeito que não fosse com automutilação, cachaça ou remédio, como eu já tinha feito algumas vezes. E, para falar a verdade, isso funcionou muito bem.

Depois que a aula acabou, tomei um banho e pulei na minha cama de pijama e com algumas uvas pegas na cantina. Abri uma página em branco do meu caderno e escrevi como título "profissões que EU quero seguir". Coloquei minha melhor playlist no modo aleatório, começando com In My Blood, do Shawn Mendes. Eu precisava de músicas assim para começar a escrever essa lista.

Faltavam pouco tempo para se fecharem as inscrições das faculdades, e eu precisava escolher uma. Se fosse pela minha mãe, faria medicina ou arquitetura como ela. Já meu pai quer alguma engenharia, porque diz que combina comigo. Mas, quando vou ver sobre o que realmente essas faculdades tratam, vejo que meus pais me conhecem muito pouco. Tudo bem, eu iria ouvir horrores da minha mãe quando ela visse que eu deixei para escolher o que e queria fazer na última hora e ainda não foi uma das opções dela. Porém, eu não estava fazendo essas lista por ela ou meu pai. Estava fazendo isso por mim.

E depois de muito tempo pesquisando, consegui chegar a algumas opções. Letras era interessante, principalmente quando se sabe falar dois idiomas. Pedagogia também, ainda mais para alguém que amava crianças como eu. Mas, uma que até agora estava ganhando era Gastronomia. Eu amava cozinhar, e uma especialização em algo que se ama é fundamental. E mesmo que algo desse errado, eu ainda poderia entrar na polícia ou no corpo de bombeiros, como minha irmã. Selecionei algumas escolas boas pelo Canadá e Estados Unidos, querendo ser chamada para uma aqui mesmo. Embora eu tivesse nascido no Brasil e amava lá, tinha motivos mais fortes e importantes para ficar no Canadá.

Entre esses motivos, se encontrava minha irmã. Ficar longe dela e do Nick me fizeram muito mal, e eu não quero perder ela de novo. Nara também estava certa quando disse sobre os meus pais e a liga. Se eu continuasse aqui, eles não poderiam me fazer tão mal quanto estar ao lado deles no Brasil. E por último, mas clichê e não menos importante, Kyle.

Não queria ficar longe dele, muito menos perder a chance de ver ele crescer como profissional. Fora que, ele me fazia sentir muito bem e me encentiva a seguir meus sonhos. Eu tenho certeza que não estaria aqui hoje — escolhendo algo que eu realmente ame e pensando em mim em primeiro lugar — se não fosse pelo meu namorado. Quem era eu para não amar e não querer ficar perto de uma pessoa dessas?

Fechei o computador, orgulhosa de mim mesma. Sorri e aliviei meus ombros, como se tivesse tirado um peso que carregava a há muito tempo. Pior que o peso não era meu e nunca foi, e só agora eu percebi isso. Agradeci a mim mesma por me dar esse descanso.

Era isso que eu queira, e ninguém iria me fazer mudar.

§§§

— Eu odeio jogos, ainda mais finais! — reclamei, roendo minhas unhas. — Elas me deixam tão ansiosas por causa daquele...daquele....argh!

Eu estava andando em círculos na quadra poliesportiva, antes do treino das cheerleaders começarem e carregando uma preocupação nas costas. Felizmente, todas as provas da ligam tinham acabado e estávamos andando em um ritmo bom para o resto do mês de aula que faltava. Mas, isso não importava no momento, já que minha preocupação agora não era a liga.

BROKEN HEARTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora