C A P Í T U L O I X

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§ NINA MILANI §

O gramado verde já não estava mais tão verde assim quando eu saí de dentro do prédio. Nem o céu estava tão azul, mesmo que perto do inverno o sol demore para ir embora. Já estava tarde, e quase todos já estavam indo dormir. Uma rajada fria veio sobre mim, me fazendo tremer com os pequenos flocos de neve que grudaram no meu rosto. Me enrolei mais na blusa de frio que estava e disquei o número dela. Após algumas chamadas, ela, por fim, atendeu.

Alô?

Diferente do que eu imaginava, uma voz masculina atendeu. Não a reconheci, e não me passou pela cabeça nenhum homem que poderia ser.

Antes que eu pudesse falar, ele disse mais alguma coisa do outro lado da chamada, e eu ouvi a voz de Nara responder. Ela pegou o celular:

Oi, maninha.

— Hm, oi Nara. Como você tá?

Nunca estou menos que bem. E você?

— Muito bem, para falar a verdade. Ganhamos o jogo de hoje, detonamos New Green. — disse, ainda comemorando.

Aqueles idiotas ainda competem com as raposas? — ela riu.

— Difícil de acreditar, não é? — involuntariamente, comecei a caminhar. Não conseguia manter minhas pernas quietas quando falava ao telefone. — Os meninos estavam empenhados hoje. Eles odeiam perder, ainda mais quando tem mais coisa em jogo.

O que tem mais em jogo a não ser um troféu pra escola?

— Você sabe, Nara, estamos no inverno. Vai me dizer que não jogou a Animal Race?

Por favor, Nina. Corridas perigosas, festas insanas, trotes com os calouros... Não é o suficiente para você?

— É só uma competiçãozinha boba, maninha. Nada demais acontece nela.

Tudo bem, então. — ela se rendeu. — Apenas só me prometa que não vai fazer nenhuma burrice, ok?

— Como o quê?

Dormir com o maior idiota da sua escola porque você estava inconsciente de tanto álcool na veia. Você sabe, sua família nunca foi boa com álcool.

Minha família amava álcool. Cervejas, vinhos, uísques, vodkas, champanhes, e qualquer outro tipo de cachaça. Meu pai até tinha seu próprio bar em um quarto da casa. Infelizmente, esse amor por álcool nunca resultou em algo bom. Overdose é o tipo de morte mais comum que os Milanis poderiam ter.

Curiosamente, o álcool nunca era bebido para comemorar. Quando existia alguma frustração, ele era usado para afogar e matar o que estava nos matando. Minha primeira ressaca foi aos 14, no meu quarto, na noite que eu descobri que o Nick morreu. A segunda, e pior de todas, foi seis meses depois. Essa me rendeu uma parada respiratória, alguns dias no hospital e um quase óbito.

Eu estava bem mal aquela época.

— Papai parou de beber depois que você foi embora. Ele proibiu tudo, até chocolate com licor em casa. — disse, lembrando das palavras dele ao dizer isso.

— Ele deve ter ficado em uma profunda abstinência por isso. Seu pai não ia aguentar...

— "Meu" pai? — a interrompi. — Não é "nosso" pai?

Não, são os seus pais. Eles me trocaram por prestígio e dinheiro da Liga.

— Não foi bem assim, Nara... — tentei.

BROKEN HEARTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora