C A P Í T U L O V

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§ NINA MILANI §

Marsala: mais que vermelho, menos que roxo. Mais do que sangue, menos que vinho. Um perfeito equilíbrio de uma mulher que derramou o sangue do seu marido adúltero e bebe uma taça de vinho para comemorar sua liberdade.

O filme da noite passada ainda estava na minha cabeça, mesmo sendo segunda de manhã. Deveria parar de assistir filmes assim o mais rápido possível.

Coloquei minhas sapatilhas e arrumei meu cabelo. Depois de ontem e da areia que Kyle jogou nele, fiz uma boa lavagem. Hoje, ele estava mais lindo e cheiroso do que o normal. Coloquei minha melhor saia do uniforme, da cor marsala, e também fiz um nó de gravata descente. Eu sempre andava impecável, mas dessa vez eu me sentia bonita. Minha autoestima estava lá em cima, mesmo sendo segunda pela manhã e eu tivesse uma reunião com o diretor na primeira aula. Estava nervosa, confesso. Mas, sabia que se fosse algo ruim para mim, ele diria ali mesmo.

Sai do quarto, já com a mochila nas costas. Meu lugar favorito era a cantina, e ainda bem que eu estava indo para lá. Na fila, encontrei Hunter.

— Bom dia. — disse, ao pegar minha bandeja.

— Seu cabelo tá bonito hoje. — ele disse, ao olhar para mim. — O que você fez?

— Lavei.

Ele riu, e terminamos de colocar a comida. Sentamos na ponta de uma mesa, de frente para o outro.

Ele começou a comer, até que depois se lembrou de algo.

— Eu esqueci de te entregar isso. Na verdade, é só para você não dizer que sou um amigo ruim. — ele abriu sua mochila e me entregou um pacote pequeno, do tamanho de um...

Livro.

— Eu amei, Hunter! — disse, antes mesmo de abrir. Quando tirei o papel do livro, vi o título dele que se chamava 'Neve'.

— É da literatura turca. Nas minhas férias e viajei para lá com minha família, e passei em uma biblioteca para comprar esse livro pra você. Espero que goste.

Hunter Hill: melhor amigo de todos os tempos. Qualquer pessoa que te traga livros porque lembrou de você, já é considerado alguém de bom coração.

— Obrigada. — deixei o livro em cima da mesa. — Eu não te vi na aula de literatura semana passada. Por que tirou essa eletiva?

— Meus pais acharam melhor que eu focasse mais nas línguas estrangeiras, já que eu conheço bastante da literatura. Aliás, minha mãe quer que eu aprenda o português.

— Ela também é brasileira, não é?

— É sim. Talvez você possa me ensinar qualquer dia. Eu já sei o básico, como "bom dia", "bom tarde" e "bom noite". — ele disse com o sotaque tipo canadense, bem mecânico.

— É boa tarde e boa noite. — o corrigi. — Vamos precisar corrigir isso, e logo. Esse rostinho bonito precisa de uma boa pronúncia.

Hunter riu, e falou mais algumas coisas que sabia. O português dele era ruim, mas com o tempo melhoraria.

Eu não brinquei quando disse que ele era bonito, pelo menos no meu ponto de vista. Ele tinha cabelos escuros, e olhos azuis como o céu. Sua pele era mais clara que leite azedo — um dos meus apelidos para ele, inclusive —, mas nada que uma semana na praia não resolvesse. Seu sorriso era perfeito, como o do príncipe encantado da história de Ariel. Hunter Hill sim, na minha opinião, era o mais gato do colégio, não Kyle Maddox.

BROKEN HEARTOnde as histórias ganham vida. Descobre agora