capítulo treze

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minha mãe era médica, uma das boas, então ela sabia o que iria acontecer em menos de um ano, ela sabia bem o que iria enfrentar, mesmo assim não demonstrou desespero diante da situação. eu estava com ela e ficaria até que ela se fosse, pensar em deixar minha mãe ir me destruía. não era hora de pensar nisso ainda mas quando fosse, eu iria desmoronar. por mais que ela fosse uma megera algumas vezes, ainda era minha mãe; tínhamos nossas diferenças mas eu a amava incondicionalmente. infelizmente, apenas aprendi que ela precisava de mim por causa de uma doença. deus, como me arrependo de ter saído de perto dela.
quando chegamos em meu apartamento, estava quase amanhecendo, hero estava dormindo mas sentado no sofá. ele ficou esperando por nós, mas acho que o sono venceu ele. liz, como eu a chamava, estava cansada, então eu arrumei o quarto de hóspedes para ela dormir. a ajudei a colocar cada peça de roupa no cabide e nas gavetas, até mesmo sua escova de dentes eu deixei num lugar de fácil acesso, para que ela visse e lembrasse de usar todas as manhãs. o quarto estava aconchegante, com algumas coisas dela, porta-retratos na cômoda e seu edredom favorito, então a deixei descansar o tanto que precisasse, eu iria estar ali quando ela acordasse.

– fecha tudo e traz a chave para o quarto, vou arrumar a cama e trocar de roupa. – hero estava sonolento mas enfim acordado, ele parecia cansado mas com certeza eu estava pior, visualmente. deixei a responsabilidade de trancar as portas para ele, porque eu realmente queria deitar na cama e apagar. não demorei muito para arrumar os lençóis e edredons, nem mesmo para me vestir com um pijama de seda que eu havia ganhado de presente do meu pai, tinha um significado e eu precisava dele agora que mamãe estava aqui. eu desejei um milhão de vezes que meu pai estivesse aqui para cuidar dela mas não sabemos onde ele está e não vamos saber tão cedo.

– jo, aqui. – hero me mostrou o molho de chaves antes de guardar na gaveta, eu concordei em um gesto lento e completamente involuntário, então deitei na cama, sentindo toda a canseira daquele dia. eu estava acabada, tanto pelo vídeo que havia destruído meu último ano de faculdade e quem sabe meu futuro trabalho, quanto pelo estado que minha mãe estava. ela não tinha muito tempo e sabíamos disso, o estágio quatro era o último e logo ela chegaria nele. a maldita doença era rápida, então minha cabeça não parava de pensar nisso, que eu a perderia em pouco tempo. não, eu não queria aceitar, porque minha mãe deveria estar comigo no meu casamento e brincar com meus filhos, me desejar boa sorte em alguma reunião importante e talvez fazer biscoitos de natal comigo e katherine, se é que ainda vamos nos falar depois de hoje.

– você precisa desligar sua mente, jo, ou dormir será impossível. – hero falou baixinho, então notei que sua mão acariciava meu rosto, não sei a quanto tempo ele estava ali porque eu viajei em meus problemas.

– eu não consigo parar de pensar nela. não estou pronta para perdê-la, tenho medo de nunca me recuperar quando ela se for. tenho medo de não a ter aqui para quando eu precisar, estou com um medo do caralho, hero. eu não sei se tenho força para fazer isso. – ele me escutou como qualquer namorado deveria fazer e me confortou um pouco com seus beijos delicados em meu rosto.

– eu também não estava preparado quando minha irmã morreu, acho que ninguém nunca está. eu encontrei força para continuar, não sei de onde, mas encontrei. isso não quer dizer que esqueci dela, jo, você sempre irá lembrar e sempre irá doer mas você acaba se conformando com a ausência. eu ainda peço o sabor favorito dela de sorvete. ela sempre será uma parte de mim, mas é aquela coisa clichê, ela está em algum lugar mais tranquilo agora. dói, jo, não vou mentir, mas ela não sente mais dor, onde quer que esteja. ela está bem e viva no meu coração, por isso eu consigo dormir à noite, porque sei que ela está aqui. – as palavras doces de hero me confortaram muito, cada sílaba me deu um pouco de força, cada segundo daquela conversa me fez refletir mais. ele estava certo, eu nunca havia perdido ninguém tão próximo mas eu tive a certeza, naquela noite, que não estaria sozinha para enfrentar o que fosse.

Every breath you take | Herophine ∞Where stories live. Discover now