capítulo quatorze

1K 75 21
                                    

𝕕𝕠𝕚𝕤 𝕒𝕟𝕠𝕤 𝕕𝕖𝕡𝕠𝕚𝕤

。。。

verão. a estação preferida do ano de quase todos os habitantes de qualquer cidade gelada, menos eu. hero chegou em casa mais cedo, naquela tarde de sol; lá fora deveria estar um inferno, mas dentro da nossa casa, eu mexia no termostato até que a casa ficasse fria. a casa que compramos era incrível e estupidamente grande, discutimos muito antes de fechar um negócio mas hero acabou me convencendo. cada pedaço dessa casa guarda uma lembrança, seja ela boa ou ruim. eu não ficava muito em casa nos últimos dias, porque não aguentava viver essas lembranças todos os segundos do dia, dizem que todo casal passa por crises mas essa é a pior que já passamos. trocamos apenas palavras necessárias, não nos olhamos mais nos olhos, pelo menos dormimos na mesma cama, ainda, mas claro que havia uma barreira invisível enorme entre nós.
nos primeiros dias, eu chorava sempre que estivesse sozinha e sabia que ninguém iria me escutar. desconfiei feito louca de hero, paranóias sobre possíveis traições me rodeavam a cada vez mais e realmente, eu estava perdendo minha cabeça.

– eu fiz macarrão com queijo. – apenas abri minha boca quando já era noite, hero amava as coisas que eu cozinhava, então fiz algo simples que ele amava para ver se amenizava aquela situação.

– para variar. – ele mais murmurou para si do que para mim, era como se eu nem estivesse presente. foi minha décima tentativa apenas esse mês, eu realmente tentei muitas coisas mas estou começando a acreditar que somos um caso perdido.

– você pode me contar o que eu fiz? cansei de você agindo como um adolescente. preciso de um diálogo adulto antes que eu surte, hero, você não vai querer isso. – eu estava na defensiva há tantos dias, mas não aguentava ficar quieta enquanto via meu relacionamento se desfazer. pela primeira vez em dias que parecem anos, hero olhou em meus olhos mas eu não consegui decifrar o segredo que aquele olhar guardava.

– você deixou nós dois cairmos em uma rotina fodidamente entediante. eu não aguento mais olhar para você, josephine. você sempre está no escritório ou na cozinha, fala sozinha e não nota minha presença, nunca. cansei dessa merda. – abaixei a cabeça, sentindo um peso em meus ombros, o peso da culpa de ter estragado um relacionamento. eu fiz isso sozinha? deus, sempre acabo estragando tudo.

– vou estar fora da sua casa até o final da semana, não se preocupe. – eu falei sério. talvez não. eu nunca tenho certeza do que estou fazendo mas quando sinto que estou incomodando, vou embora sem olhar para trás.

eu estava perdida durante toda a noite, nem mesmo consegui dormir na cama com hero, novamente meus pensamentos não paravam nunca, então eu fiquei andando da cozinha para a sala e vice-versa. há um ano e quatro meses minha mãe descansou de toda aquela dor, então eu não podia correr para ela como sempre fazia quando meu coração estava em pedaços. eu e katherine, minha irmã mais velha, perdemos contato depois que ela se mudou para algum lugar quente no sul da califórnia. eu não estava sozinha porque era ótima em fazer amizades, eu amava meu trabalho e as pessoas de lá, mas não sentia que poderia ligar para alguém no meio da madrugada e pedir conselhos. como se o universo estivesse tentando me ajudar pela primeira vez em muito tempo, meu celular vibrou em minha mão e o nome ted se destacou na tela.

– jo, eu tive um pressentimento ruim sobre você. não sei explicar, só liguei para saber se está bem. por favor, diga que está. – ted era um amigo e tanto, desde que comecei na editora como estagiária, ele era gentil e sempre aparecia com café para mim. eu suspirei mais do que aliviada por saber que alguém estava se preocupando comigo, porque era notável que eu não estava nos meus melhores dias, até um cachorro notaria.

Every breath you take | Herophine ∞Onde as histórias ganham vida. Descobre agora