capítulo trinta e oito

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pela manhã, aurora acordou chorando. dormiu a noite toda, com certeza estaria com fome. não a deixei chorando por mais de dois minutos, tempo de vestir o moletom que estava ontem e correr até o quarto. aurora estava vermelha do tanto que chorava, eu não gostava de a ver assim mas sabia que era sua forma de se comunicar, de pedir as coisas. acabei de a alimentar após dez minutos, ela adorava aquele leite em pó com aparência ruim. quando a pequena segurou minha mão enquanto mamava, me perguntei se sentia falta da mãe, obviamente que sim.

– bom dia, linda. – hero beijou minha bochecha, quase me fazendo cair com o susto. brincou com aurora por uns segundos e a pegou no colo. no momento que a pequena trocou de colo, arrotou, nos fazendo gargalhar.

– como tudo nela pode ser fofo? – pergunto e hero sorri, olhando nossa princesa.

– ela é perfeita. simplesmente perfeita. – ele responde baixo, dando um beijo na cabeça de aurora, que quase não tinha espaços sem cabelos. ela era como kat nas fotos de quando era bebê, sempre teve muito cabelo. os olhos claros pareciam com os de ted mas o resto do rosto era sua mãe escrita.

– ela precisa de uma troca de fralda e é sua vez. – hero fez uma careta e eu sorri, sabia que iria me ajudar com ela mas trocar fraldas não era uma tarefa que alguém gostaria.

– vamos trocar você, fedorenta. jo, vem com a gente. – aurora abriu um sorriso enquanto hero falava com ela, o que o fez sorrir também, era minha visão favorita no mundo.

– vou fazer nosso café da manhã. não demora. – ele concordou com um gesto simples e subiu as escadas com aurora.

  enquanto preparava waffles, prato que eu amava, meu celular vibrou no balcão. ted havia mandado uma mensagem me informando sobre tudo, katherine estava calada ainda mas aceitou ajuda psicológica na clínica, disse que sentia saudade de aurora e que tudo ficaria bem logo. ao ver a foto dos dois, meus olhos encheram de lágrimas. suspirei antes de voltar a cozinhar, meu pensamento não parava mas eu sabia que era apenas preocupação. muita preocupação. ted encontrou um jeito de perdoar kat, eu também deveria.

– linda, aurora falou. – larguei a colher na pia e me virei para hero e a pequena. ela não havia falado ainda, apenas engatinhava e tentava andar. era uma novidade incrível.

– o que ela disse? foi jo? – perguntei, animada e a peguei no colo. aquele sorriso de sempre brilhava no rostinho dela, eu não podia resistir.

– pai. enquanto brincava com ela e com aquele bicho de pelúcia que ela gosta. ela só falou. – respirei fundo, lembrando de ted no mesmo segundo. ele deveria ter ouvido a primeira palavra de aurora, a primeira vez o chamando, não hero. entendia que aurora talvez estivesse confusa mas aquilo me machucava por pensar em ted magoado de perder o momento.

– ted adoraria ouvir isso. aurora, titio. – aponto para hero e ela sorri, deitando a cabeça em meu ombro. claro que não entenderia.

– não temos que contar, jo. está tudo bem. – não gostaria mesmo de contar e ver a reação de ted, hero tinha razão. aurora brincava com meu colar com seus dedinhos fofos mas tentava levar a boca para coçar a gengiva.

– está tudo bem. menos que alguém está babando em mim. eu queria ver os dentes dela mas ela não deixa. – hero pediu para que pegasse ela e eu a entreguei com cuidado, como sempre.

– é só pedir, ela deixa. aurora, abre a boca. – ele pede com um sorriso nos lábios e ela abre na mesma hora, coisa que não acontecia quando eu pedia. ela sempre foi mais apegada a hero, eu sabia.

– dois. olha. – hero apontou e eu segurei o queixo dela para ver melhor. por isso estava mordendo tudo, o resto dos dentes estavam vindo.

– então vou comprar alguns daqueles brinquedos de morder. ouviu, pequena? vamos fazer compras na farmácia. – era o único lugar mais perto de casa e aberto no domingo, após o café a levaria para escolher. lembrei que ted havia pedido para pegar mais roupas para aurora, eu tinha a chave, então teria de passar lá antes.

– linda, tenho uma reunião em nova york de manhã. eu te disse ontem, acho que esqueceu. – com certeza tinha me esquecido que hero iria partir de madrugada. não queria ficar sozinha mas sabia que ele precisava ir, era dono da empresa.

– eu sempre esqueço. não queria que fosse. – ele se aproximou e beijou minha testa, me puxando para mais perto.

– eu volto antes que perceba, linda. pode me ligar quando quiser. – eu assenti e aurora olhou para mim, mordendo seus dedos da mão.

– vamos sentir saudades, né? – a bebê fez um barulho adorável que eu chamava de barulho fofo de bebê mas era apenas um grunhido, as vezes um grito super agudo. hero também achava uma graça, na verdade, achávamos tudo que ela fazia uma graça.

[...]

com hero ocupado em casa, as ligações de trabalho e as roupas sendo amassadas na mala, aurora e eu fazíamos ótimas compras. katherine nunca batizou a filha mas dizia que eu seria a madrinha. além de ser uma tia babona, era uma madrinha, que a mimaria para o resto da vida. tudo que me lembrava aurora, comprava para ela e não era pouca coisa, hero não surtava pelo meu gasto excessivo porque fazia o mesmo, ele tinha um ótimo gosto para escolher roupas lindas para nossa menina. aurora estava jogando coisas chamativas no carrinho, sabia que as cores chamavam sua atenção e os sons emitidos dos brinquedos, também. ela estava se divertindo bastante e eu agradecia cada segundo por poder pagar tudo que ela queria. dinheiro comprava brinquedos para aurora, então comprava minha felicidade.

– acho que o tio hero iria amar esse, olha. – era um pequeno chocalho rosa, com detalhes coloridos, automaticamente atraiu os olhos curiosos da pequena. ela gargalhava quando hero se incomodava com o barulho, eu queria ouvir aquela risada mais vezes. perfeito.

tudo ocorreu naturalmente bem, arrumei as coisas de aurora no porta-malas e as compras no banco de trás. a pequena mordia um brinquedo mais mole de plástico, totalmente distraída com sua nova aquisição, enquanto eu cantava as músicas infantis que salvamos para ela ouvir, já sabia todas de trás para frente. no caminho, um trânsito horrível nos deixou paradas na ponte, me chocou ver do que se tratava o trecho parado. um acidente ou coisa assim, apenas havia um corpo coberto no chão mas nenhum veículo amassado na pista, achei um tanto estranho, a luz do dia acontecer algo assim mas era uma cidade louca, sempre aconteciam as piores coisas. quando passei pela porta com aurora adormecida em meu colo, larguei as sacolas no sofá e explorei ao redor com os olhos, procurando hero. talvez estivesse descansando ou no escritório, eu estava tão exausta que dormiria junto com aurora em qualquer canto. hero não estava no quarto, decidi dormir com aurora na cama vazia porque me sentia mais segura do que a deixar no berço. katherine me mataria se soubesse o quanto estou estragando sua filha mas eu não me importo, aurora nunca atrapalha, apenas adiciona positividade.
acordei com meu celular gritando, ainda dentro da bolsa. um número desconhecido mas eu sempre atendia, esperando ser algo muito importante. agradeço à meus instintos por atender a ligação, hero chorava no telefone como nunca vi antes. meu coração estava tão apertado que eu jurava que iria parar, nem mesmo conseguia respirar ao pensar nele daquele jeito, sozinho em algum canto.

– precisa me dizer o que aconteceu, hero. por favor, quero te ajudar. fala comigo. – minha voz era trêmula como nunca mas qualquer um reagiria assim no meu lugar.

– eu não fiz aquilo, não fiz. – suas palavras confusas apenas me deixava mais e mais nervosa, eu queria apenas o abraçar e pedir calma.

– vem pra casa, tá bom? estou te esperando. eu prometo te ajudar, amor, só não faz besteira. preciso de você, por favor. – e a ligação caiu, como uma cena de filme de terror. deus, como eu estava aflita, sem saber onde ele estava ou com quem estava, o que tinha ou não feito, eu queria chorar mas não resolveria nada.

Every breath you take | Herophine ∞Where stories live. Discover now