capítulo vinte e seis

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  eu preciso de mais, hero. eu quero esquecer seus segredos que vivem me assombrando. eu necessito de um pouco de luz na minha vida, e nesse momento, você é a lua na frente do meu sol. eu preciso de mais.
  acordei com uma chuva de verão que batia contra a porta de vidro da sala como se fosse a quebrar. adormeci com o notebook em meu colo após pensar e pensar no que havia descoberto. a chuva me trouxe uma realidade da qual eu queria escapar, o barulho dos pingos pesados pareciam ecoar na minha cabeça. a memória do sonho pouco nítido se dissipou antes que eu abrisse aquela porta na minha mente, talvez fosse melhor se continuasse trancada.
  eu preciso ir para casa, não minha casa com hero mas voltar para a cidade, talvez ficar com katherine em sua casa enorme. encontrei hero dormindo no meio da cama, ele tinha um sono tão pesado que não acordaria nem que eu derrubasse a casa toda. não conseguia olhar para ele enquanto fazia minha mala, não conseguia e não queria porque ele me faria desistir. apenas não era justo sumir sem mais nem menos, então encontrei um papel amassado em minha bolsa e resolvi que iria escrever algo. o que iria escrever para alguém que tanto amo mas preciso deixar por conta de seus demônios? merda. e todos os palavrões possíveis. a caneta se cansou de passar da minha mão para a mesa, achou seu lugar no chão junto ao papel que eu não conseguia tocar. era muito para processar, eu apenas deseja sumir para pensar sozinha, sem o amor da minha vida, que ainda me deixaria louca, talvez acabasse a vida num sanatório mas isso não importava agora. eu só precisava sumir.

– o que está fazendo com essa mala? – reconheceria a voz de sono de katherine mesmo se estivesse do outro lado do mundo, devo ter a acordado com a arrumação de roupas e tudo que eu precisava levar comigo.

– preciso ir embora. trabalho. precisam de mim. – ela sabe quando estou mentindo, não sei porquê estou tentando.

– josephine, você mente muito mal. ele fez algo de ruim? – neguei em silêncio, mas novamente, era uma mentira. talvez fosse bom se eu contasse para alguém, assim o peso nos meus ombros iriam deixar de pesar tanto. katherine envolveu minhas mãos nas dela e demonstrava curiosidade para ouvir a história.

– uma garota estranha me deu um pendrive. meu noivo estava no vídeo. – eu travei quando a imagem da mídia passou pela minha cabeça, simplesmente congelei. kat acariciou meu rosto e me puxou para seus braços receptivos.

– ele estava lá, kat. em todas as vezes que jace matou uma garota inocente, ele estava olhando e não fez nada. ele gravou a merda toda. eu assisti três assassinatos, katherine. meu noivo sádico e doente filmou tudo. eu estou pensando em fugir e mudar meu nome. – minha irmã sempre foi mais compreensiva quando os assuntos eram meus problemas, nossa mãe não tinha tanta paciência para minhas crises de adolescente, foi como eu e katherine passamos de irmãs para amigas.

– não vou defendê-lo, eu juro. eu aviso que precisa de um tempo sozinha e o mantenho aqui com ted. posso ir com você, se achar necessário. aurora adora hero, eles ficam bem por uns dias. – doce katherine, se oferecendo para ficar comigo, deixando sua filha com o pai e um louco.

– eu cansei de fugir, kat. quero qualquer coisa estável, para variar um pouco. o que eu faço? – meu coração gostaria que eu ficasse, desfizesse a mala e fosse me deitar ao lado de hero. já minha mente, a parte intacta da minha razão, pedia que eu fosse embora para o méxico, mudasse meu nome e começasse novamente. entre eles, prefiro escutar katherine.

– não sei o que você vai fazer mas posso dizer o que eu faria. eu deixaria o vídeo para que ele assistisse e soubesse que você assistiu também. deixaria ele tentar explicar antes de começar a gritar e ir embora. chega de fugir como uma adolescente, jo. nós crescemos. enfrentamos nossos problemas, agora. – ela tinha razão, como em quase todas as vezes. eu confiava cegamente em hero mas tinha medo do que isso poderia virar. caso katherine não estivesse me segurando em seus braços, eu estaria tremendo tanto que não conseguiria falar uma palavra.

– eu preciso escutar você mais vezes. obrigada, kat. por ser meu porto seguro. – ela abriu um sorriso tão iluminado, tão único, tão característico. eu a amava muito, ela não fazia ideia do quanto.

– sempre vou cuidar de você, idiota. vai desfazer a mala e dormir. deixa tudo onde ele possa ver, amanhã iremos descobrir o que aconteceu de verdade. – kat beijou minha testa e deu seu boa noite enquanto subia as escadas para seu quarto.

[...]

era tarde, eu sabia disso porque o sol batia na minha janela. a hora no visor do celular me assustou mas eu merecia aquele sono, estava me devendo uma noite inteira sem pesadelos. antes que abrisse os olhos direito, notei que o pesadelo estava me encarando descaradamente.

– linda, eu posso explicar. o vídeo e a lista. precisa me ouvir antes de tudo. – eu não disse uma palavra, nem diria se sua desculpa para o vídeo fosse esfarrapada. eu ficaria bem mais satisfeita se ele não mentisse nem escondesse mais nada.

– era meu papel, gravar e passar para um notebook. jace as matava, muitas vezes ele as estuprava até se cansar e depois voltava para finalizar o trabalho. – o interrompi antes que ouvisse algo que não fosse esquecer nunca.

– não quero os detalhes doentes de vocês, hero. quero a verdade. – ele apenas assentiu e procurou se sentar em minha frente, talvez para manter um contato visual ou qualquer coisa para me manipular a aceitar aquilo como já aceitei milhões de coisas.

– jace matava, eu gravava e outro cara se livrava dos corpos. jace recebeu uma grana, colocando os vídeos num fórum da deep web, o outro cara pulou fora e eu comecei a esconder os corpos. a razão principal de eu estar segurando a câmera? eu não queria matar nenhuma delas. ele me deu duas opções, cuidar dos corpos ou filmar seu show. – ótimo, as palavras sumiram da minha boca. o que eu poderia falar sobre isso? que o achava ainda mais doente e que estava com nojo dele? eu jamais fiquei sem palavras por tantos minutos.

– e a lista? os nomes. todos aqueles 12 nomes. – eu sabia a resposta quando li mas queria ouvir dos lábios dele.

– são as garotas que jace selecionou para matar. – doze mulheres mortas por nada e ele apenas foi acusado por três delas. vai saber deus quantas mais ele havia matado e não colocado na lista.

– me dê um motivo para não entregar o vídeo para a polícia. agora! – hero, arrume um, por favor. era tudo que eu pedia. o tempo longe dele me destruiu de uma maneira que não parecia possível. foi uma mentira, um segredo que eu deveria saber mas eu seria idiota e o perdoaria, de novo.

– eu não tenho um, jo. não vou impedir você de ir embora, não mais. eu entendo. – ele entende ou está tentando ser uma pessoa normal? se eu quisesse ir embora, ninguém, nem mesmo ele, me impediria. muitas vezes odeio a sociedade patriarcal, essa é uma delas.

– eu quero algo concreto, porra. quero poder acreditar 100% em você, saber todos os seus segredos e coisas ruins que fez. quero conhecer você como ninguém conhece, hero. pode ser honesto comigo ou é pedir muito? eu serei brutalmente honesta agora, te dizendo que acho você doente. estou com nojo de você por ficar assistindo e não fazer nada para impedir aquele desgraçado. estou odiando você mais do que nunca, hero. então tenha a porra da dignidade de me contar tudo nesse exato momento. – eu disse mesmo tudo isso? estou orgulhosa. até mais leve.

– a próxima na lista era você. coloquei seu nome. – as palavras me atingiram como um soco no estômago, eu até sentia náuseas. hero havia me selecionado para ser morta. eu não sentia minhas pernas, não sentia que podia respirar. o céu literalmente estava caindo em cima de mim e eu não conseguia me mexer.

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escrevi agora, real. estava triste e precisava escrever pra aliviar. não foi nada muito elaborado mas tá aí, o capítulo vinte e sete já está quase pronto, aguardem. obrigada por acompanharem, beijão.

Every breath you take | Herophine ∞Onde as histórias ganham vida. Descobre agora