capítulo seis

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testemunhei contra hero, hoje, no tribunal. kat sempre foi a advogada mais foda que já conheci mas hoje, ela simplesmente brilhou e livrou hero de uma pena enorme. e eu, bom, eu estava orgulhosa de minha irmã. por outro lado, não aguentei ficar até o final, não queria saber do veredito nem ver a mãe dele me olhar como se eu fosse um monstro, sendo que o monstro era seu próprio filho, eu era uma quase vítima. o júri se comoveu quando katherine questionou minha saúde mental, alegando que eu havia sido diagnosticada com síndrome do pânico, depois de vários ataques descontrolados em que eu me sentia sufocada, depois da ligação de hero, naquele dia horrível; pelo visto acharam que eu estava inventando tudo, metade das pessoas ali presentes me olharam com pena, como se eu pedisse por isso. não haviam provas para determinar que hero ficasse preso por muito tempo, eu sabia. eu nunca mais serei a mesma, não depois de tudo que ouvi, não depois de hoje, e eu tenho consciência disso.

– está mesmo indo? – eu estava me mudando, não me sentia segura naquela cidade, com jace por aí matando mulheres, já que ele não foi nem mesmo citado no julgamento, e logo com seu parceiro de crime solto, iria piorar. então eu decidi ir embora no dia depois da audiência.

– não é um adeus, katherine. você sabe, se eu ficar aqui, vou acabar como nosso pai. eu preciso viver, e você também, só pegue o dinheiro e resolva sua vida mas por favor, me deixe resolver a minha, longe daqui. – eu ainda estava magoada com ela por defender um homem que estava planejando acabar com a minha vida mas a mágoa passaria, porque afinal, somos irmãs.

– boa sorte, jo. você não precisa de sorte mas, – katherine estava confusa e nervosa, talvez sentindo-se culpada pelo que fez mas era apenas o trabalho dela e eu deveria entender. – eu não sei.

– só estarei a duas horas de você, pode me visitar sempre e gritar se precisar de mim, kat. eu não te odeio mas preciso superar isso, longe dessa bagunça. fica bem, é uma ordem. – após uma despedida com lágrimas da parte de minha irmã mais velha, eu finalmente pude entrar no carro e ir embora sem pensar duas vezes, sem olhar para trás.

[...]

era dezembro novamente, a neve branca cobria a maioria das estradas, todas as casas estavam decoradas com luzes coloridas e grandes pinheiros enfeitados. era minha época favorita do ano, desde que eu era apenas um bebê, segundo minha mãe; eu amava os enfeites da árvore e os agarrava como se minha vida dependesse daquilo. toda vez que eu via meus álbuns antigos, ria por um bom tempo, porque eu era uma criança engraçada e até um pouco levada; eu queria voltar a ser criança para poder fazer escolhas novas, ser diferente mas infelizmente, como katherine me diz inúmeras vezes, eu cresci e preciso enfrentar a vida sozinha.
um ano passara desde que me mudei, minha vida finalmente estava se estabilizando financeira e emocionalmente, eu tinha um filhote de gato e um apartamento ótimo, perto de onde trabalho. passei de um estágio para um emprego fixo, porque a editora me amava e eu realmente era boa no que fazia, então aceitei o emprego e consegui mudar minhas aulas para o período noturno, o que facilitou muito para mim.
kat estava em casa, pela primeira vez em meses. ela e eu nunca passamos um natal separadas, porque amávamos aquele feriado, as festas e as decorações. era tudo tão mágico e especial que nos fazia esquecer de qualquer e todo problema no mundo, pelo menos por umas horas.

– eu comprei vinhos caros e encomendei doces na padaria, preciso ir buscar daqui uma hora. e o jantar? – eu cruzei os braços, encarando o peru que estava cru no balcão, eu não conseguia terminar de rechear por nada no mundo.

– acho melhor comprarmos um, kat. eu não sou a mamãe, minhas mãos só servem para escrever. – lavei minhas mãos, claramente desistindo de tentar fazer a ceia, porque era óbvio que daria merda no final, eu queimaria o peru ou o deixaria cru por dentro.

– sai daqui antes que eu cozinhe você e sirva. – nós rimos até que eu saísse da área de perigo, vulgo uma cozinha, lotada de coisas que eu podia estragar.

enquanto minha irmã cuidou da nossa ceia simples, eu sai para buscar os doces que ela havia encomendado. eu amava aquela padaria, era enorme e cheia de variedades, era meu lugar para ler os manuscritos de editores novos, fazer trabalhos de todas as disciplinas e tomar meu café forte com o famoso pedaço de cheesecake, que nunca abri mão. eu sentei para esperar pela encomenda, porque a lotação do local estava me deixando sem paciência, então tirei meu celular da bolsa e aproveitei para ler um pdf que haviam me mandado.

– está ocupado? – vi apenas uma mão gesticulando para o sofá em que eu estava e eu neguei com a cabeça, distraída demais para tirar os olhos do livro, que de fato era envolvente e me fazia querer mais daquela história. era uma ficção policial, com alguns casos amorosos no meio e conflitos, como em todo livro mas o jeito que o autor escrevia me fazia ter orgasmos visuais a cada frase lida. suspirei satisfeita com o final do capítulo e escutei o nome de kat sendo chamado no balcão, eu me esqueci do desconhecido que estava ao meu lado e peguei o pacote de doces tradicionais de natal, mas então uma tempestade aconteceu dentro daquele lugar, eu tenho certeza. a tempestade tinha nome, sobrenome e um rosto que eu nunca parei de ver em meus sonhos. hero. o maldito e desgraçado hero. eu havia me preparado psicologicamente com uns meses de terapia, para encontrá-lo por aí mas nunca achei que o acharia na cidade que agora era meu lar. eu sai mais do que depressa, a neve havia voltado a cair e estava em todo o meu cabelo, meus lábios começaram a formigar por causa da temperatura tão baixa, eu deveria ter me aquecido melhor. ainda não estava acostumada com o frio da nova cidade, era meu primeiro inverno na minha nova casa.

– aqui, jo. pode ficar, eu vou embora. – a voz, que aparentava estar mais rouca, de hero me trouxe memórias terríveis e eu estava controlando como havia aprendido na terapia a me controlar e não fugir. eu não respondi nem mesmo neguei, porque eu estava com frio e o casaco dele estava me aquecendo enquanto eu esperava para atravessar a rua. assim que o sinal ficou vermelho, eu corri até o outro lado da rua, ofegante pelo mix de sensações que senti e assustada por vê-lo aqui. eu cheguei rapidamente no apartamento mas kat não estava mais na cozinha, e sim no banheiro. eu bati na porta freneticamente até que ela dissesse que eu podia entrar.

– ele. ele está... kat, ele, – e eu paralisei enquanto a olhava, abracei meu corpo e me sentei no chão, tremendo mas agora não era o frio e sim um ataque de pânico que eu não tinha a muito tempo. comecei a retirar a roupa, puxando rispidamente os tecidos, porque eu me sentia presa e sem ar. kat saiu tão rápido do banho que acabou quase caindo, o chão era liso e ela estava molhada.

– não, jo. ele não está aqui, veja. sou só eu e você, ele está bem longe. agarre minhas mãos, vamos. está tudo bem. – kat me levantou quando segurei suas mãos quentes e então me abraçou firme e continuamente, até que eu me acalmasse e não tentasse puxar meu cabelo ou minhas roupas.

com uma taça e meia de vinho, eu comecei a explicar o que havia acontecido, estava mais calma e racional, então coloquei as sensações ruins para fora. hero havia me marcado para sempre, havia me assustado num nível indescritível, eu não me recuperei ainda e agora o monstro volta para a minha vida.

– jo, eu sinto tanto. é culpa minha, tudo isso. eu convidei ele para passar o natal comigo para que ele pudesse finalmente pedir perdão para você. não esperava que encontrasse com ele por aí, eu juro que tive boa intenção. – meus olhos faltaram pular para fora quando ouvi a confissão, eu queria jogar katherine do décimo andar naquele minuto.

– eu sei que isso foi horrível, mas também não foi algo legal para ele. hero quase morreu enquanto estava esperando para ser solto, porque o amigo dele disse que ele era dedo duro e tentaram matar ele na prisão. eu tive que ir lá, no hospital, conversar com ele e então ele foi solto. nos tornamos amigos e eu sei que isso deve parecer loucura para você mas, – eu suspirei e bati a mão na mesa, porque precisava sentir que elas ainda estavam ali, eu não as sentia quando estava em crise por isso puxava tudo com elas.

– sem mas, katherine. ele matou pessoas, quase me matou e você deveria ser profissional. ou ao menos minha irmã, sua drogada de merda! – parei de gritar quando notei o que falei. não, não! eu não quis dizer isso mas perdi o controle, estou em uma crise fodida.

– desculpa, josephine. – ela sussurrou com os olhos cheios de lágrimas pesadas e dolorosas e então me deixou, indo para o quarto de hóspedes.

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capítulo de amanhã promete ou nem?

Every breath you take | Herophine ∞Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz