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Dias atuais:

***Rafael

Dezoito longos e arrastados anos já haviam se passado desde a última vez...

Vaguei por vários lugares por algum tempo. Não sabia que rumo seguir, não sabia o que fazer da minha existência... Eu só queria permanecer o mais longe possível de WorldHidden. Queria me permitir seguir em frente, sufocar meus sentimentos.

Porém, tudo mudou quado conheci minha salvadora há quinze anos atrás... A mulher que me permitiu um recomeço. Permitiu que minha dor e sofrimento fossem amenizados... Encontrei, nela, uma verdadeira tábua de salvação.

Luna não se lembrava de seu passado distante. Quando a vi pela primeira vez, lembrei-me imediatamente do grande e velho livro da biblioteca do Conselho Dos Clãs, o livro que mencionava a existência de outras criaturas mágicas.

Eu não sabia o que ela era, mas eu tinha certeza que, seja lá o que fosse, era um ser muito especial, repleto de luz e energia positiva.

Embora Luna sempre deixasse transparecer um ar melancólico, eu me sentia bem perto dela. Sabia que o motivo de todos os seus sentimentos mais sufocantes, se dava pelo fato de ela acabar se esquecendo de seu passado a longo prazo.

Minha forma de retribuir o acolhimento dela, era fazer com que ela mantivesse vivas em suas lembranças, todas as suas memórias desde que nos conhecemos.

Um novo sentido para a minha "vida" eu havia ganhado: eu tentaria, a todo o custo, ajudar Luna a descobrir quem ela era, o que ela era, de onde veio, e o motivo que levou-a a esquecer suas origens.

Ela era um ser doce, delicado, gentil... Muito ligada à natureza e coisas da terra. Passava a maior parte do tempo cuidando do bosque em que morávamos.

Já fazia muito tempo que eu não tinha qualquer notícia dos meus amigos de WorldHidden. Para curar minhas feridas, eu precisava manter toda a distância possível... Precisava ficar sem ter qualquer contato.

Luna sabia de todo o meu passado, de tudo que eu havia enfrentado, de todos os perigos e surpresas que enfrentei naquele evento apocalíptico que mudou totalmente a forma como víamos o mundo... Sabia até mesmo sobre Thales.

Ela sempre me dava os melhores conselhos, tentava fazer com que eu parasse de fugir da realidade. Mas como eu sempre fui bastante firme em minhas decisões, nunca a dei ouvidos.

Eu sabia que, depois de tantos anos, enfim, aquele sentimento havia entrado em sono profundo. Passei a dedicar meu tempo àquela que me deu uma chance de recomeçar.

Ajudava Luna nos afazeres domésticos, também a ajudava a cuidar do belo bosque que tanto amava. Eu sentia que ali também era meu lar...

***

Eu estava voltando do interior do bosque. O dia estava claro e o céu levemente acinzentado. Ao longe, já era possível avistar a bela cabana de Luna.

Sobre meu ombro direito, eu carregava um feixe de lenha. As mesmas eram usadas para acender a lareira, que mantinha o ambiente aquecido. Pela chaminé da modesta construção, eu conseguia enxergar um funil de fumaça branca que subia em direção ao céu.

Eu e minha companheira não éramos de conversar por muito tempo, passávamos a maior parte dele em silêncio, mas sempre que nos sentávamos para fazer tal coisa, era como se fôssemos amigos de uma eternidade. Me sentia totalmente a vontade de me abrir com ela... Aquela linda, doce e leal moça, era capaz de entender todos os meus conflitos internos, era portadora dos melhores conselhos, embora eu sempre optasse por não seguir a maioria deles.

Meu pensamento estava distante. Eu sentia em meu peito, uma certa sensação de vazio. Depois de tanto tempo, aquele sentimento ainda me perseguia onde quer que eu fosse.

É como dizem: de certas coisas não se pode fugir. Mas eu, com toda a minha teimosia, continuava tentando.

Confesso que a curiosidade de saber como estavam os meus amigos, sempre me perseguia. Eu sentia muita falta de Miguel, principalmente. Mas eu estava totalmente convencido de que eu havia tomado a decisão correta quando decidi partir. Eu só queria que ele fosse feliz, e se eu continuasse por perto naquela época, sinto que poderia acabar sendo um grande obstáculo no caminho para a felicidade dele.

Eu já estava subindo os degraus de madeira da pequena varanda da frente da cabana, os mesmos faziam um certo rangido estranho sempre que eram pisoteados... Logo em seguida, a porta da frente se abriu... Era Luna, vinda ao meu encontro, como ela sempre fazia quando eu saía para fazer alguma coisa a seu pedido.

A pequena moça de cabelos negros e peculiares, abriu um tímido sorriso, e falou logo em seguida:

— Estava te esperando, ouvi você chegando!

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei preocupado.

— Não sei ao certo... — Ela fez uma pausa, enquanto mordia o canto esquerdo do lábio inferior. — Só você pode me dizer isso.

— Como assim?! — Franzi o cenho. Não entendi absolutamente nada do que a garota queria me dizer.

— Venha! Entre logo!

Ela adentrou a cabana, me deixando ainda mais curioso.

Coloquei o feixe de lenha que carregava no chão da varanda, abaixo da pequena janela da frente. Em seguida entrei no local e fechei a porta atrás de mim, para que o ar gélido não entrasse.

Vi Luna, de pé, perto da pequena mesa de dois lugares que ficava em um dos cantos da modesta sala. Ela tinha um olhar curioso estampado em sua face. Coçava o queixo com a mão direita, enquanto mantinha a esquerda apoiada na cintura. Ela mirava algo sobre o rústico e simples móvel.

Quando me aproximei, vi que a parte central da mesa estava com uma mancha circular escura, como se tivesse sido queimada. No centro daquela mancha, havia um envelope dourado envolto em uma fita vermelha de cetim.

— O que aconteceu, Luna? O que é isso?! — Perguntei apontando para o objeto.

— Não sei, Rafa... É como eu disse, só você pode me dizer. Isso simplesmente apareceu aí, como mágica! — A moça me olhou com doçura.

— Mas... Como isso é possível?!

Como Luna sabia de todo o meu passado, minha ligação com outros seres mágicos, logo comecei a juntar as peças. Com certeza, ela estava achando que aquilo tinha alguma relação comigo. Eu, tentando me enganar, torcia para que ela estivesse enganada.

Engoli em seco... Dei mais um passo em direção à mesa... Me vi totalmente nervoso, será que alguém do meu passado estava voltando para me assombrar? Justamente quando eu já estava totalmente bem comigo mesmo?... De certa forma, feliz por estar longe?

Toquei o envelope com meu dedo indicador... Vendo que nada aconteceu, apanhei-o de uma vez e logo virei-o.

No verso do mesmo, estava escrito o meu nome em grandes letras garrafais.

— Droga! — Foi a única coisa que consegui dizer diante daquela grande e desagradável surpresa.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Onde histórias criam vida. Descubra agora