Encaixes I

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***Thales

Acordei bastante cedo, a sensação de que o dia seria mais longo do que o normal me causava uma certa ansiedade.

A primeira coisa que fiz após abrir os meus olhos, foi checar as notificações do meu celular que se encontrava sobre a mesinha de cabeceira. Miguel, permanecia em um sono profundo e tranquilo ao meu lado.

Depois de alguns minutos passados, terminei de chegar o telefone e resolvi me levantar. Era hora de enfrentar mais um dia...

Com certeza aquele dia seria bem diferente do que os anteriores, eu estava decidido a fazer algo que, talvez, não fosse uma boa idéia... Mas eu precisava.

Levantei-me da cama, caminhei sorrateiramente até o closet e apanhei algumas roupas confortáveis e quentes, eu pressentia que a manhã estava fria lá fora.

Dentre os muitos dons que desenvolvi durante os anos que se passaram, a conexão com a natureza e seus elementos foi mais um desses vários presentes que recebi... Quanto mais o tempo passava, mais agraciado eu me sentia. Cada vez mais, eu estava convencido de que minhas habilidades eram únicas, embora eu não as usasse muito, por conta da onda pacífica que enfim atingiu WorldHidden após tantos acontecimentos desastrosos no passado.

Entrei no banheiro e pendurei minhas roupas em um cabide atrás da porta do mesmo. Logo em seguida, tirei o meu pijama e joguei-o no cesto de roupas sujas.

Totalmente nu, caminhei até o box, onde liguei o chuveiro e deixei com que a água caísse até atingir a temperatura ideal. Uma fumaça branca tomou conta do cômodo.

Entrei embaixo da água quente, e deixei com que a mesma molhasse todo o meu corpo... Eu senti todos os meus músculos se relaxando ainda mais depois daquela noite de sono.

Fiz todo o ritual que já era bem comum em meus banhos matinais.

Depois que saí do box, sequei-me com a toalha, fui até a pia do banheiro e escovei os meus dentes... Por fim, passei um longo tempo secando os cabelos.

Com tudo já finalizado, me vesti. Optei por uma calça jeans preta, camisa e moletom também de mesma cor. Eu estava pronto.

Saí do banheiro e notei que Miguel já estava acordado. O mesmo encontrava-se sentado na cama, só vestia uma cueca branca, ele me observava curioso.

Bom dia!? — Cumprimentou-me.

Bom dia. — Respondi meio seco.

Acordou cedo... — Ele franziu a testa. — Onde vai?

Ainda sem responder à pergunta de meu parceiro, caminhei até o closet mais uma vez, apanhei um par de meias e fechei a gaveta a seguir.

Fui até à cama, sentei-me do lado oposto em que Miguel se encontrava, ficando de costas para ele. Enquanto colocava uma das meias no meu pé direito, respondi calmamente:

Tenho algumas coisas meio que urgentes para resolver hoje. Quero sair cedo, para dar conta de tudo.

E tu vai deixar Rafael e a esposa sozinhos com o Travis o dia todo?! — Ele mostrou-se preocupado. — Não foi tu mesmo quem me disse que ele não foi muito com a cara do teu irmão? E se ele fizer alguma bobagem com o garoto?!

Não vai... — Continuei enquanto colocava a meia no outro pé. — Rafael pode ser meio imprevisível e impulsivo as vezes... Mas ele não é louco! E tem mais, ele mudou muito. Mas você saberia disso, se tivesse uma conversa descente com seu melhor amigo, ao invés de agir como um adolescente mimado.

Eu sabia que tu estava bolado com isso. Por que disse que não estava?!

Eu não estou "bolado", Miguel! — Terminei de colocar as meias, levantei-me da cama, e fiquei olhando na direção do meu parceiro. — Eu só acho que você está agindo de forma infantil. Por que não senta e conversa decentemente com o Rafael? Você são melhores amigos, poxa! Ele passou anos fora e quando enfim resolve voltar, você dá as costas pra ele? Isso não é coisa que se faça... Tenho certeza que ele teve motivos muito sérios pra ter ido embora sem se despedir pessoalmente.

Thales... — Ele suspirou profundamente. — Eu já te disse que só quero dar uma lição nele. Você, mais do que ninguém, sabe que eu jamais conseguiria ficar com raiva do Rafa. Você esteve presente ao meu lado e viu o estrago que a partida daquele idiota me causou.

Apertei os lábios... Fiquei em silêncio por alguns instantes, e só depois voltei a falar, no meu tom mais sereno:

É... Eu sei, Miguel, e os deuses e Merlin também sabem o quanto isso me destruiu também. Embora eu não demonstre, você sabe o que eu sinto em relação a isso tudo. Mas... Tudo que eu te peço agora é que faça a coisa certa. Acho que já chega de gente machucada. Ninguém é mais uma criança, embora eu esteja preso eternamente no meu corpo de adolescente, assim como vocês, eu sou um adulto agora. Só quero ver todos agindo como o adulto que realmente é.

Eu sei... — Ele fez uma pausa. Sua voz estava trêmula. — Você fica aí usando sempre seus discursos bonitos com palavras soltas. Mas eu já entendi o que quer dizer faz tempo, Thales... Não sou burro. Embora eu pareça um brutamontes sem cérebro às vezes, eu entendo perfeitamente o que as pessoas querem me dizer... Mesmo que não sejam tão diretas.

Que bom que entende. — Mordi o canto direito dos lábios. — A hora de fazermos a coisa certa e concertarmos algumas burradas do passado, está se aproximando... Não dá mais pra fugir... Não dá mais para fingir.

Só me dê um tempo, okay?

Tempo é um luxo que já não temos mais. Já esperamos muito. — Fui bastante franco. — E vê se vai logo tomar seu banho para fazer companhia a mamãe e aos outros no café da manhã. Tente não ficar com essa cara emburrada o tempo todo na frente da Luna. Ela é uma boa moça e merece ser bem tratada, não tem culpa do que o marido fez com você! Se não consegue ainda ser simpático com seu amigo, seja pelo menos com ela.

Beleza! — Miguel levantou-se da cama, com muita má vontade.

E pode ficar despreocupado com relação a eles ficarem com Travis, confio neles. Além do mais, acho que eles também sairão hoje. Rafa disse que queria apresentar alguns lugares da cidade para a companheira.

Melhor assim então. — Finalizou Miguel, caminhando em direção ao banheiro.

Antes de ele entrar no cômodo, chamei-o uma última vez:

Miguel!

Sim? — Ele virou-se para me olhar.

Vai ficar tudo bem, okay? Juntos, podemos resolver qualquer problema. Enfrentaremos qualquer desafio que vier pela frente. — Dei uma piscadela.

Obrigado, Baixinho. — Um sorriso amarelo pôde ser visto no canto de seus lábios. — Tu sempre foi, e sempre será o melhor... Acho que... Na verdade, meu melhor amigo agora é você, não o Rafa.

Já faz um certo tempo que sei disso... — Dei um meio sorriso sem jeito. — Agora preciso ir...

Ao terminar de dizer isso, calcei rapidamente os meus sapatos, que já estavam perto da porta do quarto, olhei uma última vez para Miguel, em seguida concentrei-me em meu destino, e sussurrei por fim:

Bem... Lá vou eu! — Bati palma, uma única vez sobre minha cabeça, desaparecendo do local.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora