Faces de Sandara

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***Travis

Quando saí as escondidas da casa do meu irmão, sequer imaginava a turbulência que estava prestes a me atingir.

Minha idolatria cega e, meu sentimento de gratidão por tia Sandara ter sido meu único espelho de caráter, desde que eu me entendia por gente, me custaria um alto preço.

***

Assim que cheguei à casa de minha tia, entrei no local e caminhei até a sala. Tudo estava silencioso. O cômodo estava pouco iluminado e somente o som da TV, em um volume muito baixo, podia ser ouvido.

Fui até à cozinha e não encontrei a mulher. Depois, andei por todo o restante da casa... Nenhum sinal dela.

Parei bem no centro da sala de estar, depois te ter vasculhado toda a residência... Por fim, me lembrei do porão. Sim. O mesmo porão onde minha vida toda, minha entrada sempre foi severamente restrita.

Ela só pode estar lá. — Sussurrei.

Fui até à porta do tão misterioso porão, que estava entreaberta, e percebi que meu palpite estava correto.

Ouvi alguns ruídos vindos de baixo.

Temeroso, por acabar tomando uma bronca, me afastei um pouco da porta, dando dois passos para trás. Se tia Sandara me pegasse bisbilhotando, com certeza, ela faria a maior cena.

Um pouco impaciente, e também curioso, com o que ela poderia estar fazendo lá embaixo, ergui o tom da voz, e gritei:

Tia?!!! — O som, saído de minha boca, soou trêmulo.

Eu estava ali, contra a minha vontade. Desde a infância, eu já havia tido inúmeras provas do quando aquela mulher podia ser ardilosa. A ameaça que ela me fez ao telefone, fez-me voltar para casa. Se eu não tivesse atendido ao seu pedido, sabia que alguma atitude extremamente drástica seria tomada por parte dela. Eu, de certo modo, estava apavorado, mas tentava me conter.

Sem ter qualquer resposta, resolvi me afastar um pouco mais.

Sentei-me em uma cadeira antiga de madeira, que ficava localizada de frente para a entrada do porão.

Alguns minutos se passaram, então, pude ouvir alguns passos. Os mesmos, anunciavam que minha tia estava à caminho.

A porta se abriu por completo, provocando um rangido meio sinistro demais. Quando me avistou, tia Sandara, esboçou uma expressão de satisfação em seu rosto marcado pelo tempo.

Confesso que fiquei bastante surpreso e ainda mais curioso quando a vi. Ela, usava sobre seu vestido longo surrado, uma capa de cor preta bordada com pequenos cristais transparentes, que formavam desenhos abstratos sobre o tecido que parecia ser caro demais para os nossos padrões. Seus fios de cabelo, quase todos brancos e maltratados, estavam soltos e bastante desalinhados. Na mão direita, ela empunhava um pequeno punhal, que parecia ser um artefato bastante antigo, digno de estar em exposição em um museu histórico.

Eu sabia que você não me decepcionaria... Sabia que voltaria para casa o quanto antes. — Disse ela, esboçando um meio sorriso malicioso.

E eu tive escolha? — Engoli em seco, enquanto a encarava. Permaneci sentado no mesmo lugar, apenas ergui minha cabeça. Senti meus olhos arderem. - A senhora, praticamente, me ameaçou.

Foi necessário, meu querido. Eu sabia que se não usasse de pressão psicológica com você, poderia acabar recuando... No fundo, não é isso que queremos, não é verdade? Precisamos seguir em frente com os nossos planos. — Eu consegui, não sei como, detectar intensas trevas no seu tom de voz.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Where stories live. Discover now