Atritos II

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***Travis

Depois que Suzana e Thales me deixaram sozinho na cozinha, dediquei-me a atender ao pedido da mulher.

Eu já havia terminado de lavar as louças sujas, que utilizamos para o café da tarde. Por fim, estava terminando de secar alguns talheres.

Eu sabia muito bem o motivo pelo qual os dois haviam se ausentado. Com certeza, estavam conversando sobre o término do relacionamento de meu irmão e Miguel.

Outra coisa que eu não tinha dúvidas, era o fato de que, assim que àquela conversa se findasse, Thales iria querer explicações por minha parte. Sem sombra de dúvidas, a mãe do rapaz não hesitaria em tocar no assunto que eu a revelei. Ela mostrou-se muito decepcionada quando soube que Thales havia ido para a cama com dois caras ao mesmo tempo.

Só faltava eu terminar de secar os talheres e guardar ao pratos e copos, já que, também, já havia os secado.

Comecei a ouvir um telefone tocar. Não demorou muito até eu reconhecer o alerta do meu próprio celular. Lembrei-me que havia o deixado na sala mais cedo.

Imediatamente, abandonei a cozinha. Ainda com uma toalha de pratos em mãos, andei apressadamente até o cômodo vizinho. Avistei o aparelho tocando e vibrando sobre a mesinha de centro.

Quando o peguei em mãos, logo pude ler o nome no visor: tia Sandara.

Mordi os lábios inferiores com força bem na hora, pois já sabia que a mesma, com certeza, estava me ligando para me pressionar. Ela nunca me ligava para perguntar como eu estava, se estava me alimentando direito ou se precisava de alguma coisa. Tudo que a interessava, era seu plano de vingança.

Deslizei o pegar pelo visor do aparelho e, imediatamente, aproximei-o da orelha. Depois de respirar profundamente, soltei um seco:

— Alô!

— Não vou me prolongar muito, Travis. — Ela foi bastante direta, como de costume. — Deve saber muito bem o motivo pelo qual estou te ligando, não é?!

— Sei sim, tia. — Respondi, de forma bastante desanimada.

— E então? Boas notícias para mim?

— Espere um momento. — Pedi por paciência, algo que ela, raramente, demonstrava ter.

Afastei o celular da orelha e olhei ao redor. Em seguida, mirei, diretamente, a porta da biblioteca que ainda permanecia fechada.

Com medo de levantar qualquer suspeita, caso alguém saísse daquela sala, optei por me afastar dali. Fui para a varanda da frente da casa.

Procurei o canto menos iluminado, do lado esquerdo da fachada, onde tinha-se vista para o bosque da cidade. A escuridão vista dali, me despertava certos calafrios. Por um instante, mesmo sentindo aquele sensação estranha, uma vontade enorme de me embrenhar naquele mato e desaparecer para sempre, foi despertada em mim. Queria fugir de tanta pressão, de tanta angústia, tanto medo da mulher que deveria me amar, mas que só parecia me usar para seus interesses pessoais... Interesses esses, bastante macabros.

Debrucei-me no peitoril e voltei a aproximar o telefone da minha orelha:

— Pode continuar, tia. — Dei a deixa.

— Por que me fez esperar tanto, garoto?! Por que todo esse silêncio por tanto tempo?! — Ela foi bastante áspera com as palavras. Nenhuma surpresa, até então.

— Eu estava dentro da casa, tia. Preferi vir para fora... Assim não corro o risco de ninguém ouvir nossa conversa. — Expliquei calmamente.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Where stories live. Discover now