Telefonemas

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***Thales

Eu sentia meu rosto inchado. Eu continuava deitado naquela cama, dentro daquele quarto silencioso.

A energia obscura e triste que àquela noite me passava, me causava uma sensação de vazio no peito ainda maior.

Eu sabia que Miguel estava sofrendo, mas não havia outra alternativa. Eu precisava que o rapaz reencontrasse o significado de sua existência, e não seria ao meu lado que isso aconteceria.

Em dezoito anos, muitas coisas podem mudar. Eu já não era o mesmo fazia muito tempo, assim como Miguel. Passamos por muitas coisas boas juntos, mas talvez não fossem o suficientes para fazer com que nosso relacionamento durasse por mais tempo.

Pela primeira vez, em muito tempo, eu sabia que eu não estava sendo egoísta. Miguel não podia continuar preso a mim... Não mais. Não depois que meu coração passou a colocar em dúvida meus reais sentimentos por ele.

A partida de Rafael, causou feridas em todos... E era visível que o mais machucado de todos nós, era Miguel.

Eu não poderia cometer o mesmo erro mais uma vez, por isso decidi libertá-lo. Talvez, assim, ele entendesse seus sentimentos, assim como eu poderia colocar a prova os meus.

Eu continuava deitado olhando para o teto pouco iluminado. Apesar do peso que eu estava sentindo em meu peito, eu sentia que estava fazendo a coisa certa. Eu não aguentava mais cometer erros com pessoas tão boas... Eu não podia mais suportar o fato de todos me tratarem como a criatura mais inocente e certinha do mundo, pois isso era algo que eu estava muito longe de ser... Ainda mais depois do que eu deixei acontecer há alguns anos atrás... Eu perdi uma batalha que lutava contra mim mesmo. Falhei com os bons sentimentos que eu carregava comigo, falhei com o cara que fez de tudo por mim... Falhei com Miguel.

Meu celular começou a emitir um alerta. O mesmo estava largado sobre a mesinha de cabeceira.

Quando apanhei o aparelho, concluí que era minha mãe me ligando. Com toda a certeza, àquela altura do campeonato, a mulher já sabia do ocorrido.

Antes de atender doutora Suzana, dei um profundo suspiro, pois precisava tomar coragem para àquela conversa. Eu sabia o quanto minha mãe amava Miguel... Eu sabia o quão repreendido por ela eu seria, por ter tomado aquela decisão.

Após breves segundos me preparando mentalmente, deslizei o polegar sobre o visor do smartphone e aceitei a chamada. Coloquei o aparelho próximo à orelha e falei:

Oi! - Eu até tentei disfarçar a melancolia na minha voz, mas falhei.

Não me venha com essa história de "oi", rapazinho! — Berrou ela do outro lado da linha. — Eu estou muito decepcionada com você! Que história é essa de término?! Miguel passou aqui às pressas e pegou algumas coisas dele... Foi embora chorando!

Mãe, se acalme, por favor. — Pedi, encarecidamente.

Me acalmar?! Eu só quero entender o que está acontecendo com vocês dois!!!

Não é uma conversa para se ter pelo telefone, doutora Suzana. Quando estivermos frente a frente, falamos sobre isso!

Pode, pelo menos, me dizer por que fez isso, meu filho?! — Insistiu ela.

Mãe, você não é boba! Com certeza, já havia notado que as coisas entre mim e Miguel já não eram mais as mesmas há algum tempo. Não é você mesma que sempre diz que mãe tem um sexto sentido pra tudo?! Não me diga que esse fato lhe passou despercebido?!

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Where stories live. Discover now