Noite Dos Loucos III

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***Rafael

Noção de tempo e realidade eu já havia perdido naquela altura da noite. De certa forma, eu já estava funcionando no modo automático. O tanto absurdo de drinks alcoólicos que eu já havia ingerido naquela festa, era surreal até mesmo para alguém como eu.

Eu estava sentado na escadaria da entrada do Conselho. Observava o jardim pouco iluminado. Alguns convidados estavam espalhados pelo mesmo conversando e rindo, apesar de parecer estar um clima bastante frio.

Uma névoa, quase que imperceptível, podia ser notada mais próxima as luzes pelos olhares mais atentos.

Eu tinha uma garrafa de gin em mãos. Já estava bebendo no gargalo para preencher o vazio que me consumia por dentro. Um sentimento de angústia me invadiu de forma avassaladora.

Observei em um dos bancos próximo à uma grande árvore, um casal de jovens na maior troca de afetos. Sem desviar minha atenção, virei o gargalo da garrafa que eu segurava com firmeza na boca... Aquele líquido me desceu queimando garganta abaixo.

— Ei! Não acha que já bebeu um pouco demais?! — Quase não acreditei quando ouvi aquela voz surgir atrás de mim.

Um arrepio me subiu pela espinha, até o topo da minha cabeça. Por um breve momento, eu tive a impressão que conseguia sentir meus fios de cabelo ficando de pé... Arregalei os olhos, mas não olhei para trás.

Ouvi passos lentos a se aproximarem cada vez mais... Meu coração acelerou, senti minha respiração ficar pesada. Engoli em seco, porém, senti como se uma bola de golfe estivesse entalado na minha garganta de repente.

Pronto! Eu estava em ponto de surtar. Esperei tanto por aquele momento, mas perdi toda a minha reação quando enfim ele chegou.

— Vai continuar calado?! — Miguel sentou-se ao meu lado. Seu semblante era sério... Em mãos, ele segurava um copo com o que me parecia ser uísque.

Péssimo momento para ele estar ali. O álcool já fazia mais parte de mim do que meu próprio sangue. Se ele me perguntasse qualquer coisa, eu não conseguiria omitir... Eu me conhecia bem demais.

Mais uma vez, virei o gargalo da garrafa na boca. O gin pareceu descer ainda mais forte... Devido ao nervosismo talvez.

Pousei a garrafa um degrau abaixo entre as minhas pernas e suspirei fundo. Notei Miguel fazer o mesmo com seu copo. Continuei a mirar o jardim como se procurando por algo... Mas na verdade, minha vontade era de levantar dali e sair correndo. Estava com medo de dizer alguma merda e acabar colocando tudo a perder de uma vez por todas.

— Realmente vai me deixar no vácuo? — Miguel perguntou. — Não se esqueça de quem tá puto aqui sou eu!

Apertei os olhos e, lentamente, virei minha cabeça em direção ao rapaz ao meu lado esquerdo. Ele continuava a mirar o jardim também.

Consumido por uma forte emoção momentânea ao ver Miguel sentado tão próximo a mim novamente, após tantos dias sendo ignorado, soltei:

— Por favor, me perdoa!?

— Eu já te disse que só vou te perdoar quando me contar toda a verdade do por que sumiu por tantos anos sem se despedir. — Ele demonstrou bastante frieza em sua resposta.

— Então por que veio aqui? Pra me ver um lixo? Pra esfregar ainda mais na minha cara, que sou um covarde que não é capaz de encarar os problemas de frente e só sabe fugir?! É isso???!!!

— Rafael, não surta, cara! — Ele franziu o cenho. — Só porque estou te dando um gelo, não significa que te odeie de verdade! Só estou querendo fazer com que me conte a verdade! Se não vai por bem, vai por mal mesmo... Mesmo que me doa muito fazer isso!

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang