Lembranças V.3

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***Luna

Era, de certo modo, atormentador o quanto aquele homem era parecido com Travis. Nem em um milhão de anos, eu poderia imaginar que o irmão mais novo de Thales pudesse ser tão parecido com o pai.

Pelo que a minha consciência estava me dizendo, aquele homem era mais do que perigoso... Era a fonte de todos os meus problemas.

As cenas que vieram a seguir, foram de um pesar e dor, que nem que eu me esforçasse muito, eu conseguiria colocar em palavras claras.

Todos os meus anos de pesadelo, dúvidas e cruéis angústias, começaram enfim, fazer sentido a partir daquele momento... Eu estava me recordando de tudo.

Flashes constantes de memórias fragmentadas, começaram a me inundar por completo. Senti um arrepio.

Comecei a me recordar desde o momento em que vim ao mundo... O momento em que uma frágil, pequena e indefesa árvore de carvalho, me concedeu o sopro da vida... O momento em que surgi.

Fui posta ao mundo com o propósito de proteger a natureza, os animais, e também as criaturas indefesas que não fossem capazes de se cuidar sozinhas.

Minha forte ligação com a mãe Terra, enfim, começou a fazer total sentido pra mim.

Recordei-me de momentos muito importantes junto às outras da minha própria espécie... Nossa luta contínua e totalmente esforçada para proteger a natureza de mãos maliciosas que, cada vez mais, insistiam em destruí-la por total ganância... Sem pensar nas vidas que delas, tanto dependiam.

Cada fragmento, cada encaixe... Os momentos de alegria junto às ninfas com quem eu tinha um forte laço mágico... Os momentos solitários que passei... Todos os longos anos que percorri, e que eram esquecidos pelo tempo por causa de um feitiço feito por aquele homem, que voltava para assombrar os meus pensamentos.

Pavel, mesmo que não em carne e osso, estava ali mais uma vez... Diante dos meus olhos. Tudo que ele havia me feito, foi reavivado no momento em que ouvi aquele nome... Era como se uma âncora estivesse amarrada ao meu tornozelo, me mantendo submersa em um lago profundo... Eu tentava respirar, mas as dores em minhas entranhas eram mais sufocantes do que eu pudesse suportar.

Uma crise de pânico, inexplicável, me invadiu. Era como se a morte me espreitasse e eu tivesse total noção disso. Mais uma vez, senti meu mundo confuso desmoronar.

***
— Luna, eu sei que é difícil... Mas você precisa se controlar! Não pode deixar que esses sentimentos negativos te arrastem para baixo! — A voz da minha consciência em forma de Rafael, quase que berrava. — Você não pode deixar esses sentimentos obscuros te vencerem, está me ouvindo?! Você não pode se render, não vou deixar que faça isso!!!

Eu, mais uma vez, me encontrava ajoelhada ao chão, abraçando meu próprio corpo trêmulo. Meus olhos se mantinham fechados com certa força. Aquela avalanche de memórias, a maioria tão ruins que me sufocavam, continuava a me atingir... Cada vez mais forte e sem qualquer piedade.

Eu conseguia sentir o toque de "Rafael" sobre meu ombro esquerdo, mas meu corpo não respondia. Era como se eu tivesse perdido todo o meu controle sobre ele... Petrificada.

— Luna! Você precisa lutar!... Precisa voltar para fora de si mesma. Você já está trancada dentro de seus próprios pensamentos, não pode se trancar dentro de outras memórias!... Está me ouvindo?! Volte para junto de mim!... Não se aprofunde ainda mais! — A voz tão conhecida de Rafael, tentava me manter lúcida.

Eu apenas sentia dor, lamento e perda... E por um instante... Ódio... Sentimento que, segundo meus poucos conhecimentos sobre dríades, enquanto eu ainda estava sem memória, era algo totalmente incomum entre nós.

O Belo e O Fera: Herdeiro do Mal; Batalha dos Imortais [Livro 4]Where stories live. Discover now