O que me leva até você - CONCLUIDA!

Capítulo 42: Ângela

  Eu mal conseguia acompanhar a Nicole que passava apressada pelo corredor da Fashion Nine, apesar de usar um salto era ágil demais e o que me fez conseguir acompanha-la foi quando ela esperava pelo elevador.

- Você pode parar e me escutar? – pedi respirando fundo tentando me recompor da dor que eu sentia agora por causa das lesões que havia sofrido no acidente. – Por favor. – pedi com uma voz quase falha.

- Você está bem? – Nicole me olhou, seus olhos estavam marejados de lágrimas, mas ainda assim havia um pedaço de Nicole que se preocupava evidentemente comigo.

- Estou, só preciso descansar um pouco. – respondi. – Vamos tomar um café, pode ser? – ela contra sua vontade concordou, pelo menos aquela dor me serviu de alguma coisa, a atenção de Nicole.

Fomos para a cafeteria que ficada no térreo do prédio, tinha um estilo clássico, tudo era em tons marrom com rosa, o que parecia uma cafeteria da Barbie praticamente. Nós nos sentamos numa mesa mais afastada e de frente uma para a outra, aquele momento estava mais desconfortável do que imaginava que seria.

- Nicole, eu quero me desculpar. – comecei, mesmo se eu fosse voltar para Seattle, ou até mesmo se eu permanecesse em Nova Orleans, eu precisava consertar algumas situações que eu havia provocado. Eu não esperava recuperar a amizade de todos, mas pelo menos eu queria me sentir mais leve e seguir em frente.

- Se desculpar pelo que exatamente? – Nicole perguntou colocando os braços em cima da mesa e entrelaçando suas mãos umas nas outras. – Você quer se desculpar por ter sido uma péssima amiga comigo ou por ter sido uma terrível cunhada? – sua voz saiu dura e certeira, eu estava convicta de que seria mais difícil do que eu havia imaginado.

- Por tudo. – respondi

- Por tudo o que Angel? É mais fácil você chegar e pedir desculpas sem mencionar seus erros que foi de uma mulher mais imatura e fútil que eu jamais imaginei que você poderia ser. – ela falou e inclinou um pouco o corpo na mesa me encarando. – Eu sinto pena de você, de quem você se tornou, você é linda por fora e vazia por dentro, infeliz e cheia de razões. – eu podia sentir como se tudo o que suas palavras diziam fossem pior do que um tapa na cara, eu preferia mil vezes apanhar da Nicole a ouvir tudo o que ela queria me dizer, mas foi tarde demais para sair daquela conversa.

- Nicole, você não precisa ser tão dura comigo e nem consigo mesma. – eu falei tentando pegar na mão dela, mas ela afastou, eu olhei para o vácuo que recebi.

- Está vendo isso? Foi isso que você fez, todos tentaram ficar perto de você e você simplesmente saiu, sem pensar, sem hesitar.

- Eu hesitei Nicole! Não fala como se você soubesse, como se você fosse a dona da razão e principalmente, não tome as dores do Luke, não me culpe por tudo! – falei sentindo uma raiva me invadir aos poucos. – Eu só quero o seu perdão, não quero nada como era antes, eu só estou te pedindo perdão! – falei de uma só vez, esquecendo até mesmo de respirar, Nicole riu fraco e olhou para baixo.

- Você não pode me pedir isso Nicole, porque quando o Connor estava sofrendo pela Georgia, você quis tomar as dores dele. Ele não é seu irmão, mas você agiu como se fosse, porque você o ama, então, por favor, não seja hipócrita. – algumas lágrimas de Nicole já escorriam, mas ela limpava com certa pressa para que ninguém visse. Eu não sabia o que dizer, pois toda palavra que usava com Nicole se virava contra mim de forma rápida. – Luke passou semanas dentro de casa, quando resolveu sair ele tentava se convencer que estava bem, ele sorria, conversava com todo mundo, ia para festas e quando chegava em casa ele desmoronava, porque ele dizia que o seu cheiro havia sumido. – ela disse me olhando. – Você pode ter sofrido sem ele, mas ele sofreu porque você escolheu ficar sem ele. Quando você perdeu a sua mãe o Luke queria ficar do seu lado, mas você não quis e nem se quer ouviu ele, porque você achou que ele tinha feito a festa de propósito e não te queria, mas Meise escondeu o celular dele e ele ficou enfurecido com ela. No velório ele não pode segurar a sua mão ou te consolar, porque você não o queria por perto. Luke passou dois miseráveis anos e quando você acidentou Angel. – ela riu e olhou para cima para segurar todas as lágrimas. – O Luke que a Samantha passou meses tentando conquistar e o convencer de seguir em frente, ele desmoronou, ele queria ir atrás de você, queria pegar o primeiro avião, ele estava disposto a abrir mão de tudo o que ele reergueu e conquistou, porque ele aceitou você longe, mas não queria te perder para sempre. – Nicole me olhou nos olhos e já deixando agora toda lágrima cair. – Eu não posso te perdoar, porque não era só o Luke que precisava de você, mas eu também. Luke enfrentou Joseph e saiu no murro, tivemos que sair de casa porque a convivência nem mais existia, mas onde você estava? Em Paris? Desfilando? Ou em Tóquio? – ela se levantou da cadeira e saiu andando, eu sentia cada dia mais o peso de tudo o que abandonei em Nova Orleans que eu nem se quer me dei ao luxo de imaginar.

- Nicole. – eu me levantei e a segurei pelo braço e o toque fez com que ela se encolhesse, mas uma parte do meu dedo havia tido contato por debaixo das pulseiras com algo ríspido e húmido. Eu mais rápida que ela eu afastei todas as pulseiras que escondia o que estava por baixo.

Seu olhar agora era muito mais sério e ela aproximou-se de mim puxando o braço da sua mão.

- Eu não acredito. – falei, lembrei-me do dia em que a vi chorando na Universidade e que no chão do banheiro tinha sangue e que suas roupas de frio, pulseiras ou braceletes sempre estavam presentes no dia a dia, raramente Nicole vivia sem isso.

- Não conta para ninguém! – ela disse brava.

- Você precisa de ajuda. – falei sem pensar.

- Não, não preciso de ajuda e nem de você me falando alguma coisa. – ela disse completamente irritada e saiu, eu voltei a me sentar sentindo como se o mundo inteiro estivesse girando ao meu redor.

Ficar longe de Nova Orleans realmente teria valido a pena assim?