Part 2 - Conversando com ela

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Já era o dia seguinte. Despertei em alerta, suando muito e assustado. Tive que ficar algum tempo inerte me recompondo antes de me levantar.

Peguei uma camisa no meu guarda roupa antes de descer até a sala. Ao andar arrastando os pés pelo assoalho, escutei um barulho vindo do lugar em que estava indo. Por reflexo  corri desci as escadas correndo e deparei com o Harry em uma posição estranha no sofá, os olhos dele estavam arregalados típicos de quem estava fazendo algo errado.

Mas é claro que ele estava. Ele havia invadido a minha casa.

— Por que você está aqui?! — Eu andei pra trás com o susto. Perguntei quase imediatamente em um tom surpreso e rígido.

— Eu não sei... — Deu de ombros. — Bebi muito ontem a noite, achei que aqui era a minha casa. — Falou confuso e frustrado.

— Mas como foi que você entrou aqui? — Harry demorou um tempo pra retrucar.

— ... Ah mano! Não acredito! — Ele levou as mãos a testa. — Se bem que era por isso que a chave não tava girando! — Meus olhos arregalaram.

— O que você fez?! — Ele não me responde. — Harry!

— Eu estava bêbado, desculpa cara!

— O que você fez!?

— Arrombei sua porta dos fundos. Mas juro que vou pagar! Sério! — Demorei alguns segundos até filtrar o acontecido e ir correndo até a cozinha ver o estrago.

— Ah não... — Levei as mãos a cabeça ao ver a porta com um buraco enorme e sua tranca e beiral estourados, praticamente.

— Vou comprar outra, eu juro que...

— Ah mano, esquece isso, sério. Tá de boa. — Disse com um tom desolado na voz. Peguei uma fita crepe na gaveta e passei em todos os estragos, fingindo que nada estava ali. Eu fiquei encarando Harry por um tempo, chegando a conclusão de que, de fato, precisava reforçar a segurança da casa urgentemente. — Te dou três segundos pra sair daqui antes que eu chame a polícia. — Afirmei. — Um... — Antes mesmo de eu falar, já ouvi o barulho da porta de frente batendo-se. Harry saiu, alvoroçado, da minha casa.

Suspirei, e logo, fui para a sala bebendo a xícara de chá que estava repousada sobre a mesa. Apenas fechei os olhos ignorando o fato de que a porta de trás da minha casa estava destruída.

Lembro da noite anterior, algo realmente atípico para eu fazer. Pensei sobre tudo, e também que tinha que entregar a bolsa para aquela moça. Eu não havia entregado antes porque quando cheguei próximo, pensei que a mesma poderia começar a gritar e chamar a polícia por achar que eu fosse um estuprador ou coisa assim.... Estava decidido de que iria entregar ela no outro dia, quando amanhecesse.

Mas acho que isso não foi uma ideia tão genial assim.

Me arrumei indo lá na casa dela em seguida, ignorando todas as possibilidades dela surtar, chamar a polícia dizendo que eu era um louco que estava perseguindo ela.

Já era umas duas da tarde, e eu bati da porta dela, que atendeu. Usava um pijama de pinguins, e uma pantufa de vaquinha – muito estilosa. Mas enfim, respirei fundo e finalmente disse algo.

— Então... Você gosta de pinguins? — Comentei passando as mãos na minha nuca. A mesma me olhou um pouco desconfiada.

— O que você quer?

— Você tinha deixado a sua bolsa cair ontem, sabe, aí eu te segui... — Demorou um pouco ate eu notar o que eu acabara de dizer. — Não! Não é isso que você está pensando... — Não conseguia parar de gesticular, isso sempre acontece quando eu estou nervoso. — É pra te entregar a sua bolsa. Apenas...isso. — Ela assentiu, ainda parecendo tensa. – Era muito tarde ontem e aí eu deixei pra te entregar hoje. Mas não ache que eu sou louco, ou um stalker, apenas achei que tinha algo de importante aí dentro. — Minha voz saiu, um pouco rouca mas – incrivelmente – calma.

— Ahn...– A garota dos cabelos ondulados me encarou assustada.

— Me desculpa por ter feito isso... — Senti meu rosto arder. — Eu não sou um psicopata ou coisa assim. — Ri nervoso. — Se fosse pra roubar bala na padaria eu já teria um enorme remorso, imagina pra ser um psicopata... Apenas não tinha contato com você nem nada, foi por isso que eu te segui. Espero que não esteja brava. — Falei um pouco sem graça.

— E para isso não existe polícia? Você poderia ter ido até lá e levado minhas coisas. — Disse. Eu comecei a suar e olhar para os lados sem jeito.

— Bem... Acho que o melhor... Eu ir embora... – Falei, vermelho de vergonha. Ah, Deus. Como sou burro!

A mulher permaneceu a me encarar, houve pequenos segundos silenciosos, mas logo, seu jeito ríspido e repreendendor se tornou uma gargalhada descontraída.

— Calma, não estou brava com você. — Disse, ainda rindo. — Você não imagina o desespero que arrumei para encontrar essa bolsa aqui hoje. Principalmente pelo fato de meu currículo pronto estar ai dentro... Sabe, eu fui demitida ontem, por isso eu fui tão arrogante. Mas não muda o fato de que deveria ter ido procurar a polícia ao invés de ter me seguido.— Falou arqueando as sobrancelhas. — Sorte a sua – pegou sua bolsa de minha mão – que sou muito de boa, e eu preciso de amigos. — Ela riu. E eu sorri sem jeito.

Juro que quando ela sorriu, senti como se um anjo tivesse me dado um soco no estômago. Foi o sorriso mais lindo que eu já vira em toda minha vida.

— Você foi demitida? Por quê? — Tentei de render assunto.

— Na verdade, eu me auto-demiti. Meu chefe... — O celular dela toca. —  Um minutinho, é o meu namorado, eu tenho que atender. Não sai daí! — Foi nesse momento que todas as minhas esperanças daquela garota ser minha... Foram por água abaixo.

Mas o que eu estou pensando? Eu nem a conheço.

Enquanto ela conversava, vi o sua expressão alegre sumir. Voltou-se a mim e comentou:

— Sabe, eu amo muito o Jake, mas as vezes me dá tanta vontade de jogar ele fora. — Falou, puxando o fôlego. — Era para ele me ajudar a distribuir currículos... Ele é muito conhecido, sabe. Por indicação fica até mais fácil. Mas, novamente, ele me deixa na mão. Fala sério... — Bufou e balançou a cabeça negativamente.

É claro! Aquilo era uma ótima brecha. Mas seria um pouco sem nexo fazer...

— Hey, vamos nos conhecer. Tem uma cafeteira aqui perto. Podemos ir lá e ai eu te ajudo a procurar um emprego. Vamos ser bons amigos, o que acha?

Meu deus, ela tem namorado, isso é muito errado.

Malditos impulsos.

— Hum. Eu não sei se devo concordar com isso... É um pouco esquisito... Sabe?

— Bem... – passei minha mão na nuca – é claro... Eu... Eu não estava...

— Mas eu aceito, embora o quão arriscado isso seja. Mas que fique claro que eu tenho um tazer na bolsa, e que em qualquer tentativa a mais... Você já era. — A mulher disse, em um tom calmo, mas ríspido. 

Desconcertado, eu sorri. E francamente, não sei o que mais me surpreendeu: se foi eu a convidar, ou se foi ela em concordar.

 ✘ Você e Eu » Ed Sheeran (FINALIZADA)Where stories live. Discover now