4- SENZA TESTA (Decapitado)

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Só podia ser brincadeira, aquele desgraçado, queria nos torturar ainda mais, o que ele tinha para pensar? Aquela era a melhor proposta que ele poderia receber. Eu estava irritada, com medo e com a vista embaçada de tantas lágrimas quando senti a mão reconfortante do Nonno. Ele se abaixou, ficando de joelhos para olhar nos meus olhos e nos olhos de Matteo e disse:

- Eu amo vocês dois, Lucrézia e Matteo! Eu amo mais do que amo a minha própria vida, nunca suportaria perder vocês dois também, por isso estou me rendendo. Não quero que vocês dois sintam-se culpados, entendem isso, bambinos? Não importa o que aconteça ou quanto tempo demore quando um vulcão entra em erupção é sempre devastador. E lembrem- se meus netos nós somos descendentes do deus Vulcano, podemos passar até séculos esperando a hora de explodir. Mas quando chegar a hora de deixar o fogo que há dentro de vocês queimar, eu tenho dó daqueles que ficarem no caminho de vocês dois. Me prometam que quando for hora vocês destruíram nossos inimigos.

- Eu amo o senhor, Nonno! Obrigado! Obrigada por tudo, obrigado por me acolher, por cuidar depois que meus pais se foram, por me ensinar tudo que eu sei. E eu prometo! Prometo acabar com todos eles - Disse Matteo e eu vi naquele dia meu primo desabar. As lágrimas que ele tinha nos olhos, o fogo no olhar dele, igual ao do vovô, o fogo dos Caccini.

- Nonno... minha voz falhava... Nonno, eu te amo! Eu vou sentir a sua falta, vou sentir falta das histórias, dos conselhos, de passar horas na oficina, de visitar seu escritório na joalheria. Eu vou sentir falta do seu abraço quentinho. Falta de passear pelo jardim, de plantar novas flores para deixar a Nonna feliz, lá no céu, pelo menos agora vocês vão se ver de novo. Nonno.... as lágrimas não pararam de descer, eu não as controlava por mais que usassem as mãos na tentativa falha de enxuga- las... Obrigada! Por cada momento feliz da minha curta vida, que só foram possíveis graças ao senhor! Eu prometo Nonno! Vou destruir um por um daqueles que fizeram mal para nossa famiglia!- Essa foi a primeira frase, minha, que saia inteira, a raiva realmente era um combustível muito poderoso.

Vovô, assentiu nossas respostas com a cabeça e nos abraçou, num abraço longo e apertado, que nos seus 5 minutos de duração me fizeram sentir bem, vovô sabia como me fazer sentir segura. Aquela era a melhor sensação que eu podia sentir. Porém, como tudo que é bom acaba rápido, nosso abraço foi interrompido pela tosse forçada do velho Martinelli.

- Eu aceito a proposta. Mas com uma condição: O ragazzo vem comigo.

- Como, estás maluco?

- Eu preciso de garantia, Francesco. Preciso de uma garantia que o resto dos Caccini não se levante contra mim, quando eu for Don da Máfia. E que garantia melhor que ter o herdeiro varão dos Caccini criado por mim. Além do mais, ele não tem ninguém para o reclamar, os pais estão mortos e se eu bem conheço seu genro, o D'Ângelo, ele é capaz de renegar a própria filha, quem dirá o filho de outro. Eu o criarei! Não garanto que seja como filho, mas não lhe faltará comida na mesa e nem um teto sobre a cabeça, e também minha proteção contra os demais da máfia. Sejamos sinceros, ele não vai sobreviver sozinho, então vamos unir o útil ao agradável.

Meu estômago embrulhava com aquelas palavras nojentas, ele estava negociando a vida do Matteo como se fosse uma coisa. Minha vontade era de vomitar. Mas por outro lado me pegaram totalmente de surpresa, as coisas aconteceram tão rápido que não tinha me dado conta disso. Se vovô morresse, como ele ia morrer. Quem cuidaria do Matteo, ele só tinha 10 anos e já era órfão de pai e mãe. Minha mãe, com certeza o acolheria e o criaria, ela já fazia praticamente isso desde que a mãe se foi. O problema era meu pai, Saveiro D' Ângelo, que de anjo só o nome mesmo. Ele pode ser meu pai, mas não é uma pessoa muito boa.

Saindo do estado de choque que eu me encontrava, depois das palavras do Martinelli. Olhei para Matteo, ele estava quieto, as lágrimas em seus olhos já haviam secado e só restava nele aquele olhar distante e triste de quem parecia estar com a mente em qualquer outro lugar, menos ali. Eu não liguei para nada. Só o abracei, sabe la quando poderia abraça-lo de novo, e sussurrei no seu ouvido que o amava, que ele era meu irmão, minha família, e que nada nem ninguém nesse mundo ia nos separar. Ele assentiu, retribui meu abraço e beijou minha testa.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now