45 - UN LEONE PER VOLTA (Um leão por vez)

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No espelho da joalheria, me amaldiçoei por ter mandado colocar espelhos em quase todas as paredes e constatei o óbvio quando abaixei os óculos escuros: os hematomas do rosto começaram a se dissipar, mas as marcas na minha autoestima criaram raízes...

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No espelho da joalheria, me amaldiçoei por ter mandado colocar espelhos em quase todas as paredes e constatei o óbvio quando abaixei os óculos escuros: os hematomas do rosto começaram a se dissipar, mas as marcas na minha autoestima criaram raízes profundas e fortes e as olheiras ainda me acompanhavam. O resto era encoberto pelo terno de alfaiataria vinho e as enormes correntes de ouro no meu pescoço e pulsos, as únicas correntes que aceitaria usar na vida, para servir de armadura. Pois não importava a bagunça dentro do meu peito, por fora, deveria estar próxima da perfeição, pronta para matar leões.

Um leão por vez.

Quanto a Saveiro, sabia que continuava vivo. Em quais condições? Torcia para que fossem as piores possíveis. Não vi de novo, não mencionei seu nome infame em voz alta, e nem Piero ou Matteo ousaram o citar. Saveiro vivia somente por minha causa e, de certo modo, era saboroso deter esse poder, mesmo que passageiro. E também nunca estive tão perto de alcançar a sonhada vingança como estou agora. Realmente gostaria de acreditar que vai dar tudo certo, mas não adiantava alimentar essa ilusão enquanto o verdadeiro poder escapava das minhas mãos, meu plano de derrubar o monopólio de "coca" do Conselho estava ruindo, já que sou vigiada vinte quatro horas por dia, em todos os lugares e mal conseguia contatar os contatos antigos e novos. O colombiano voltou com toneladas do produto e os centros de manejo não possuíam preparo adequado ainda, a cocaína dele é a melhor que já vi, vendeu como algodão doce em festa de criança desde que chegou no mercado. Ele fez a parte dele e eu farei a minha, de um jeito ou de outro.

La reina. — O sorriso alinhado preencheu seu semblante ao passar pela porta do escritório, deixando os capangas para trás como combinamos.

— Me dê a bandana. — Apontei para a peça pendurada na sua cintura e logo em seguida avancei.

Qué pasa? — Arqueou a sobrancelha em dúvida e segurou meus braços bem próximo ao seu corpo.

Alfonso, dessa vez, usava roupas despojadas, uma calça jeans e uma jaqueta de couro, mas ainda possuía aquela aura de dono do mundo. E tê-lo tão perto só serviu para atiçar as faíscas ansiosas que irradiavam de nós.

— Confie em mim, Colombiano. — Com a bandana em mãos, soprei no seu ouvido e ele me soltou.

Os olhos estavam cerrados, desconfiados, mesmo assim cedeu a bandana. E, em segundos, o vendei para seguir com o meu propósito. Alfonso resmungou e xingou do começo ao fim do caminho.

Carajo! — Esbravejou ao esbarrar na estante do porão. — Já chega de maricas, Lucrézia.

Sem a venda improvisada, o líder do Cartel Florez esquadrinhou o cômodo e voltou-se a mim.

— Há cinco minutos estávamos na joalheria e agora em laboratório de drogas. Como isso é possível?

— Vulcano presenteou os Caccinis com muitos dons, senhor Rojas. — Alfonso não tinha cara de convencido. — Milão é uma cidade muito antiga, já foi capital do império romano, tomada várias vezes quando era um ducado, base de combate de Mussolini, e é até hoje centro comercial e industrial. — Ele ainda estava perdido. — A questão é: uma cidade cheia de história também esconde muitos segredos, e a minha família sempre soube explorar esses segredos desde a época em que havia corrente nos prendendo até lutarmos para arrebentá-las.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now