35- MEMORIAS II (Recordações parte 2)

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Quando, finalmente, cheguei na velha oficina, uma lágrima escorreu pela minha bochecha. Serpenteei pelo ambiente, imaginei Nonno com os cabelos ainda mais brancos, com um ferro de solda na mão e um óculos de lentes redondas na ponta do nariz largo. Era assim que presumia ser o resto da sua terceira idade, isto é, se ele não tivesse sido brutalmente assassinado por aquele maledetto, o desgraçado do Martinelli.

Depois de mordazes minutos, avistei um objeto reluzente embaixo dos escombros e ripas de madeira. Em seguida, me aproximei e peguei o item, e é bem mais leve do que lembrava. O "presente de Caco" resistiu às tempestade e ao tempo. A adaga prateada e com rubis incrustados continuava ilesa. Como ela não foi roubada, derretida e trocada drogas na rua, eu não sei mesmo.

🚨🚨🚨Atenção(GATILHO): A seguir, descrição de alguns sintomas de pânico + pensamentos ansiosos. Caso seja sensível a isso, pule. E se continuar, prossiga com cautela.🚨🚨🚨

Não resisti mais. A tristeza me venceu. Em segundos, já estava aos prantos. A agonia tomou conta do meu ser. Minhas mãos tremiam e suavam frio. O mundo girava e o chão sob meus pés parecia desabar. Eu sentia que ia afundar junto, que logo estaria enterrada numa terra úmida e densa, e os vermes comeriam minha pele e entranhas, centenas de decompositores consumindo a matéria do meu corpo.

Meu coração palpitava e uma dor profunda cortava o meu peito. Cai abraçada aos joelhos, era desesperador, excruciante. A atmosfera me esmagava sem dó. Respirar era um calvário, a glote logo se fechou e não queria abrir. Não sentia o ar encher meus pulmões, me sufocava com meu próprio desespero.

Eu estava morrendo, morrendo sufocada... morrendo de medo... morrendo...

Eu queria morrer...

Talvez assim parasse de doer.

Arfava descontroladamente, buscando por oxigênio. Olhei para a faca de prata ao meu lado e pensei em fincá-la no meu tórax. Até a posicionei no músculo cardíaco.

Dio! Como queria cravá-la no meu coração e deixar o ar entrar pela cavidade.

- LUCRÉZIA! - O grito de Matteo tiniu nos meus ouvidos. - Ei, olha para mim! Por favor!

Queria poder encarar seus olhos castanhos escuros, mas minha visão estava embaçada. Então, ele tirou a lâmina da minha mão.

- Eu não consigo respirar. - Disse com dificuldade, entre soluços e soquei meu colo, enquanto ofegava. - Eu vou morrer, Matteo. Eu vou morrer, morrer, morrer...

- Olha para mim! - Segurou minhas mãos. - Estou aqui, va bene? - Ainda me faltava fôlego e iniciaram- se alguns espasmos.

Gostaria de ouvi-lo, de fazer o que ele pede. Porém, era o desespero que me controlava.

"Tudo vai dar errado." "Nunca vou conseguir." "Vou perdê-los de novo." Esses e muitos outros pensamentos cruéis e assombrosos mutilaram a minha mente. Passei vários minutos me afogando na sofrimento e na ansiedade, completamente agoniada.

Matteo cantarolou algo, que de primeira não identifique. De acordo com o ritmo e letra se unindo, escutei a voz doce de Mamma cantando aquela canção de ninar. As lágrimas não cessaram e aos pouquinhos voltei a respirar com dificuldade. Puxei meu irmão para um abraço apertado.

- Obrigada! - O segurei mais forte. Se pudesse não o largaria mais.

🚨🚨🚨Fim do "gatilho"🚨🚨🚨

Após minha recuperação, saímos dali e voltamos para a superfície. A noite estava quase se apresentando. O pôr do sol alaranjado dominava a paisagem, a linda faixa laranja cortava o horizonte.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now