37- PER LA FAMIGLIA (Pela família)

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A furadeira barulhenta, o martelo atingindo os pregos, as faíscas saindo da serra elétrica, nada disso conseguia me tirar dos meus próprios pensamentos. Sentia a poeira sob os meus pés, enquanto analisava o local, ainda temerosa. A maior parte dos entulhos foi retirada, as paredes foram rebocadas novamente e estão terminando de ser pintadas, os móveis novos chegaram.

Tudo aparentava dar certo, porém meu coração continuava inquieto. Agora estou parada no meio da joalharia observando os trabalhadores realizarem os últimos reparos e nem acredito que está mesmo acontecendo. Me belisco para ter certeza que é real.

Apesar das coisas estarem progredindo, algo em mim insiste em imaginar o pior. Esperando a bomba explodir a qualquer momento. Meu casamento nunca foi tão normal quanto nesses dias, Piero está sendo incrivelmente atencioso e prestativo, demos alguns amassos, mas ele sempre parava quando o clima esquentava, também bebeu menos e acho que é por isso que não dorme há três noites. Ele finge estar bem e eu finjo acreditar. Grazie dio Saveiro não deu as caras. Ah! E Lucera me fez engolir sua presença goela abaixo. Falando nela, acaba de passar pela porta, usando um salto quinze e uma bolsa de grife. Dessa vez fui eu que a chamei, preciso de Guero distraído para arrumar o subsolo.

- Lucrézia, priminha! - Abriu um sorriso satírico.

- Lucera! - Ri mais cínica do que ela.

- Trouxe uma ajudinha. - Anunciou os gêmeos.

- Vim por livre e espontânea pressão. - Alertou Alessio, com o sorriso largo de costume.

- Já eu realmente quero ajudar. - Alessandro falou.

- Não precisavam se dar ao trabalho. - Disse.

- Viu Lucera. Agora pode retirar as suas ameaças. - Alessio encarou a irmã.

- Você vai ficar e ajudar, ou conto pro Papá das suas aventuras recentes.

- Tão adorável, irmã! - Debochou.

- Já está na hora de começar a assumir responsabilidades e crescer. Não cansa de boates, festas a semana inteira?

- Não. Sou jovem, tenho que aproveitar a vida.

- Dio, dai-me paciência!

Os filhos de tio Ezzio continuaram discutindo, ou melhor, se digladiando. Alessandro ignorou a briga e foi empilhar as caixas, acabei o acompanhando.

- Eles são assim o tempo todo? - Apontei para Lucera e Alessio brigando.

- Não, mas os dois vivem competindo pela atenção do meu pai.

- Sério?

- O que esperava de dois narcisistas? - Rimos. - Papá nos mimou demais.

- Você não me parece um garoto mimado.

- Acredite, eu sou. Só não gosto de tanta confusão como os meus irmãos.

- Então é o ponto de equilíbrio dessa família, como Matteo.

- Os Caccinis são bem intransigentes às vezes, é necessário que alguém acalme os vulcões. E você, que é uma versão mais nova de Titi.

- Vou tomar isso como um elogio.

- E é. Titi é um exemplo a ser seguido.

[...]

O papo continuou agradável e cortês por bons minutos. Hoje conversei com Alessandro como nunca antes e alguns dos seus trejeitos me fizeram lembrar do Nonno, sua calma, erudição, nem parecia o garoto traquino que quase levou uma sapatada de Lucera há poucas semanas. Sei que vou fazer uma comparação ridícula, afinal eles são gêmeos, no entanto ele e Alessio tem o mesmo sorriso simpático. A grande diferença é que um se esconde atrás de jaquetas de couro e uma postura irresponsável e o outro tenta parecer invisível diante dos irmãos chamativos. Estou encantada pela doçura e educação dele, se não fosse pela arma pendurada na cintura até diria que é um adolescente comum, que tem sonhos e paixões, às quais ele não me revelou. Contudo, seus olhos escuros brilhavam ao falar da moça ou do rapaz, não ficou especificado.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora