32- IL PRINCIPE (O príncipe)

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Os ruídos que as árvores emitiam ao sacudir e os pássaros, que descansavam nos galhos, içando voo roubaram um pouco da minha concentração. Meus sentidos estavam aguçados e os olhos arregalados. Em câmera lenta, nos intervalos das minhas piscadas, primeiro vi o clarão provocado pelos disparos da arma, depois escutei o som dos tiros. Então, finalmente processei o ocorrido: Piero virou bruscamente para os três homens e atirou na testa de cada um. O sangue vivido jorrou da parte traseira do crânio, como um chafariz escarlate, junto com um aglomerado de miolos e pequenos fragmentos dos projéteis, além de continuar vazando um liquido vermelho vagarosamente pelos rostos dos indivíduos e em seguida escorrer para os seus pescoços. Os corpos ajoelhados balançaram com o impacto, antes de caírem de vez no chão. Cazzo!

Pow...pow...pow...pow...pow... foram nove tiros, totalizando doze balas.

Ele descarregou todo o pente nos cadáveres, sem hesitar nem por um segundo. Sua mandíbula mantinha-se travada e seus olhos fervorosos. Abriu a mão e deixou a pistola cair na grama rubra, o sangue dos falecidos formou uma poça enorme abaixo dos pés de Piero e logo atingiria os meus. O som da peça metálica estatelando- se no solo zumbiu no meu ouvido foi extremamente desagradável. Tive dificuldade até para engolir minha própria saliva. Meu coração pulsava sem compasso, parecia querer sair do peito.

Os Conselheiros estavam visivelmente impactados, incrédulos. Alguns tinham respingos de sangue nos ternos chiques. Alessio já se preparava para empunhar a glock. Tio Ezzio havia tirado metade do revólver da bainha. Piero bateu uma mão na outra para se livrar dos resíduos de pólvora e veio até mim, colérico. Imobilizou meus pulsos com força, tentei resistir, mas ele é enorme. Meus familiares fizeram menção de atirar, movi a cabeça em negação e murmurei um "não" para eles.

Nos segundos posteriores, o moreno praticamente me arrastou para dentro de casa. Gritava e me debatia enquanto ele nos conduzia lá para cima. O pequeno escândalo alertou todos no recinto, Ruggero tentou argumentar com o primo e foi ignorado. Piero estava cego e surdo, tomado pela raiva.

Chegando no quarto, Piero abriu e fechou a porta de maneira violenta. Só me largou para trancá-la e se colocou na frente dela, impedindo minha passagem. A adrenalina percorria cada parte de mim, minha raiva se concentrava nos meus punhos cerrados. Ele ainda me encarava enfurecido. Empurrei seu peitoral e suas costas bateram na superfície de madeira atrás dele. Em resposta, meu marido me prensou na parede ao lado. Passou longos segundos fitando minha boca e olhos.

- Você matou três homens a sangue frio só para impressionar o Conselho. - Gritei, tentando me soltar. Sentia o fervor embaçar minha visão.

- "É bem mais seguro ser temido do que amado". - Citando Maquiavel nesse momento, apreciaria se fosse oportuno, mas não é. Idiota!

- E até parece. Sei que faria coisa pior se tivesse chance. - Respondeu bravo com um meio sorriso, embebido pela raiva.

É, provavelmente faria mesmo. E isso me assusta. Olhar para Piero agora é como ficar cara a cara com o meu pior lado.

Seu corpo pressionava ainda mais o meu, a intensidade das suas mãos sobre a minha pele seriam incômodas se fosse qualquer outra pessoa ali e não ele.

- Não se meta nos meus negócios de novo, porra! - Berrou e apontou o dedo na minha cara.

- Stronzo! Me solta! - Aos trancos e barrancos, consegui me afastar dele.

- Gostou de me humilhar na frente do Conselho? Gostou, Lucrézia? - Permanecia com o tom alterado enquanto me observava cheio de ressentimento.

- Eu não...

- Quer que eu seja a piada da máfia? An? - Gritou tão alto, com tanta ira que me encolhi e dei um passo para trás. - Posso até imaginar os comentários "O Don não controla a própria esposa quem dirá a máfia." É isso que quer? Caralho! - Elevou as mãos, pressionando os punhos e procurando um alvo para descontar toda sua fúria.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora