25- SILENZIO PICCOLA PUTTANA! (Silêncio vadiazinha!)

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Lucrézia Caccini

Acordei cedo e não tive coragem para levantar, estou a horas vendo Graziela dormir. Tenho medo de sair e alguém tirá-la de mim de novo. Ainda não caiu a minha ficha, tudo isso parece ser um sonho. E meu peito fica apertado só de imaginar acordar e não vê-la aqui. Posso dizer com certeza que esses dias que Graziela passou aqui comigo foram os melhores dias da minha vida em muitos anos. Nem me lembro da última vez que fiquei tão feliz. A minha irmã está segura e ao meu lado, junto com Matteo, meus irmãos estão comigo, sem um lunático psicopata, como o Saveiro para atrapalhar. E por mais que me recrimine quanto a acreditar num Martinelli, sinto-me segura com Piero por perto.

Lutando contra meus próprios instintos, decido levantar. Amo demais ter Graziela comigo, porém Piero estava certo, esta casa não é o lugar ideal para ela. Minha irmã merece ser feliz, ter um resto de infância e adolescência saudáveis, uma vida mais digna do que a minha. Ela não é mais um bebê. A minha menina cresceu, têm sonhos e objetivos diferentes dos meus. Não posso prender Graziela a essa vida, seria injusto sentenciá-la a viver sobre a mira da máfia. Me dói na alma dizer isto: mas minha pequena ficará melhor longe de mim. E o mais importante, longe de Saveiro D' Ângelo, ele já destruiu a vida de Mamma e a minha não vou permitir que ele faça o mesmo com Graziela.

Já estou arrumada e asseada, então vou atrás de Matteo, preciso falar com Titi, sei que ela tem muitos contatos, com certeza vai me ajudar a tirar Grazi da Itália sem levantar suspeitas. - É, eu preciso aprender a dirigir e comprar um celular também. Assim que desço as escadas me deparo com Guero e seus longos cabelos esvoaçantes.

- Aonde a senhorita vai?

- Falar com minha tia.

- E não quer a companhia do melhor motorista particular aqui? - Apontou para si mesmo, rindo.

- Grazie, já falei com Matteo, ele vai comigo.

- Oh fui trocado pelo Caccini. - Fez drama e eu ri.

- Obrigada Guero!

- Pelo que? - Me encarou confuso.

- Sei que foi você que convenceu Piero. Se Graziela está segura hoje foi graças a você.

- Fiz o que qualquer um faria.

- Sabe que não. Nem todo mundo se importa com a dor do outro.

- Ai, para! Assim vai me deixar sem graça.

- Você é uma comédia!

- Lucrézia, agora sem brincadeiras: quando precisar de algo fale com Piero, seja sincera. - Foi a primeira vez que vi Guero com um semblante sério.

Eu sei que errei, mas não estou acostumada a conseguir nada facilmente. Com o meu pai tudo era preto no branco, sempre uma briga, chutes e socos, se eu quisesse qualquer coisa, tinha que manipular, mentir, dissimular. Para mim nunca foi só pedir algo e ser atendida, havia sempre uma tormenta envolvida. Para Saveiro a única forma de obter sucesso é passando por cima dos outros e infelizmente ele me colocou nesse ciclo vicioso de violência e abuso. Quero mudar, superar toda essa merda só não faço a menor ideia de como. Já fui destruída o bastante, não acredito que exista algo para remendar os caquinhos da minha alma.

- Acho que entendi, Guero. - Forcei um sorriso.

[...]

Eu e Matteo já estamos na residência de Tio Ezzio. Entramos sem problemas na propriedade. Bato à porta.

- Priminhos, o que fazem aqui?

Alessio, um dos gêmeos, atendeu surpreso ao nos ver. Ele tem um porte físico parecido com o de Matteo, inclusive me lembra muito dele nesta idade, dezoito anos. Os dreads vermelhos dão um charme a mais na sua aparência e o diferencia do irmão, se não fosse isso, seria quase impossível identificá-los, são gêmeos univitelinos.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now