17- NOTTE DI NOZZE (Noite de núpcias)

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Lucrézia Caccini

- Os pombinhos podem ficar um pouco mais juntos? - Disse o fotógrafo apontado para mim e Piero.

Dio mio! Qual a necessidade? Piero é claro, não mediu esforços e enlaçou suas mãos em volta do meu corpo, me fazendo ficar colada nele.

- Vai por mim, é só sorrir. Faça o que ele está falando. É o único jeito de se livrar dele. - Piero cochichou para mim com o sorriso mais cínico do mundo.

- E você está adorando me agarrar, não é mesmo?

- Que bom que você sabe, mio amore. - Me puxou ainda mais.

Coloquei o melhor e também o mais falso sorriso que eu tinha. Afinal tínhamos que manter as aparências de casal feliz pros quase quatrocentos convidados e para os tabloides de fofoca. Grande parte dos presentes nunca vi na vida, mas muitos pareciam ser civis: políticos, empresários, intelectuais, só a nata da elite milanesa.

- Como consegue ficar posando de bom moço e filantropo por tanto tempo? - Perguntei para Piero.

- Com o tempo você se acostuma. E me parece que não vai demorar, já que é uma ótima atriz.

A mão dele que estava na minha cintura desceu vagarosamente para a bunda. Instantaneamente, a coloquei no local de antes e lhe lancei um olhar fatal. Piero riu, fazendo as leves covinhas em suas bochechas ficarem evidentes mesmo com a barba densa. Lordo (bruto)! O miserável não me levava a sério.

[...]

Ufa! Depois de tirar várias e várias fotos com os convidados, finalmente o bendito fotógrafo nos deu uma folga. Tudo ia relativamente bem. Os comensais conversavam ao redor das grandes e compridas mesas, que estavam no meio do jardim, aguardando o jantar, outros espalharam- se pelo lugar. E todos sempre sob a vigilância do exército de homens armados, responsável pela guarda do evento.

Comecei a analisar o ambiente, a iluminação se encontrava em perfeita harmonia com o céu estrelado, o qual era incrivelmente mais bonito aqui, numa casa de campo, afastada da cidade e das suas tantas luzes. E os espessos paredões de pedra antiga que cercavam o imenso jardim davam um charme a mais no ambiente. Piero permaneceu ao meu lado, mas não deu uma palavra sequer. Vez ou outra pegava ele me olhando de canto e rapidamente voltava a olhar para frente, a fim de que ele não pensasse que eu o olhava. Os violinistas pareciam ter ajuda dos anjos, devido a tamanha alegria e suavidade que suas notas musicais transmitiam.

Por um breve período acreditei que teria pelo menos um segundo de paz. Iludida! De longe avistei Saveiro chegar já cambaleando de tão bêbado. É óbvio que o homem que cedeu os genes para me conceber, pois pai de verdade ele nunca foi, iria mais uma vez estragar meu dia. Não sei bem o que passava na minha cabeça mas puxei Piero para a pista de dança, na esperança de Saveiro passar direto.

Com o moreno alto a frente coloquei minhas mãos em seu pescoço e ele não tardou a segurar meus quadris. Em seguida, Piero me fitou levemente espantado com minha atitude repentina e iniciou o diálogo.

- O que você está fazendo, ragazza?

- Dançando, core mio (meu coração). - O meu tom talvez tenha saído um pouco debochado.

- E se eu disser que não sei dançar?

- Não tem problema, é só me seguir. E com o tempo você se acostuma.- Dei um sorriso de canto.

E ele realmente acompanhou meus passos, depois inclinou a cabeça para baixo, pôs os olhos sobre os meus e me segurou com mais vigor e avidez. Meus pés seguiam o ritmo da música, porém meu olhar estava centrado nos orbitais azuis de Piero. Naquele momento parecia que o tempo tinha parado e tudo acontecia em câmera lenta, ignorei totalmente a visão periférica e todo o resto, tanto que nem liguei quando ele pisou no meu pé. Meu marido dispunha de um sorriso largo no rosto enquanto dançamos, o que com certeza deve ter me deixado mais corada. A intensidade da sua pegada só colaborava para que o meu transe continuasse.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Where stories live. Discover now