40- BENVENUTO NEL BUSINESS (Bem vindo aos negócios)!

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As portas de vidro se abriram pela décima quinta vez hoje e eu ainda estou debruçada sobre o guarda-corpo de vidro, no andar de cima, observando os clientes entrarem e saírem da joalheria, me recriminando por pensar no meu casamento fracassado enquanto um casal de jovens escolhia as alianças. Eles pareciam felizes e satisfeitos com aquela escolha.

Deve ser errado sentir essa angústia no meu peito, eu não deveria estar assim. Meu casamento nem é real, é um negócio. "Piero é uma peça que deve ser usada e descartada, só isso e nada mais." Repetia incontáveis vezes essa frase na minha cabeça e vou continuar repetindo até meu corpo teimoso entender. Não importava se o jeito como ele me toca me deixava desestabilizada, a única coisa que importa é seguir com o plano.

Falando em plano, os alemães recusaram minha oferta para fechar negócio com uma das facções romenas. Ah, os romenos! Eles estão começando a me irritar, cada vez mais entrando no nosso território de vendas.

Estava perdida nos meus pensamentos, com o olhar vago. Sentindo a ansiedade perfurar meu coração e bagunçar minha mente pela milésima vez. Hoje estava mais difícil do que nunca, como se algo muito ruim fosse acontecer em breve.

Às vezes, acho que me pareço com um passarinho na gaiola, sempre ansiando pela liberdade, por bater as asas livremente e sentir o ar atingir o rosto, mas que nunca conseguirá por causa das grades que o cercam. Como se a minha vida fosse a gaiola e eu o passarinho teimoso que insistia em tentar se libertar das barras de ferro e só acabava se machucando mais. Foi nesse momento que a voz mansa me tirou da breve agonia diária.

— Dona Lucrézia, Salvatore D' Ângelo ligou e deixou um recado.

— Grazie, Virginia!

Tio Salvatore me ligando, com certeza não é algo bom. Nada que vem dos D' Ângelos pode ser bom. Contudo, mesmo assim, fui ouvir a mensagem que ele deixou na secretária eletrônica. Cheguei depressa na mesa do escritório, que também estava todo reformado, sem deixar de lado a essência do espaço que meu avô idealizou, e apertei o botão.

"Lucrézia, sou eu Salvatore. Bem, sei que não nos damos. Mas, creio que deva saber e se preparar. O Riario está doente de novo, ele não vai durar por muito tempo dessa vez. Salve seu pescoço, garota, e vou tentar salvar o meu."

Cazzo!

Uma parte minha queria que aquele velho desgraçado, que também é conhecido como meu avô, queimasse no inferno. No entanto, com Riario fora do caminho, isso significava que Benito ia assumir de vez o controle dos negócios. E, meu tio era um homem muito cruel, sádico e obcecado. Eu sabia que ele e Saveiro me caçariam até o fim do mundo, só para provar seu poder, este, que nunca respeitei. Assim como, nunca respeitei nada que vinhesse daquela família de lunáticos.

Abri a gaveta da escrivaninha recém restaurada e fiquei olhando fixamente para a adaga que ali estava. Ela era a minha última recordação do passado e não me desfaria dela por nada. Além de ser uma arma bastante aprazível, o fio de corte beira a perfeição.

Respirei fundo, minhas mãos tremiam e quase não seguravam a peça. Eles virão atrás de mim, atrás da Graziela... Não, não era medo, era ódio. O ódio que enche minhas veias e me motiva a continuar. Deixe que eles venham, estarei pronta para lutar até o meu último suspiro.

Inconscientemente, ergui a faca cravejada de rubis e a cravei no maço de papel sulfite que havia em cima da mesa. Tinha tanta raiva guardada que consegui atravessar um terço da meia resma.

— Coitado do alvo de todo esse ódio — uma voz rouca, com sotaque latino reverberou.

Fitei a porta e encarei o homem alto, forte e incrivelmente bonito na minha frente. As vestimentas pretas e elegantes assentavam muito bem na pele bronzeada do sujeito e nos músculos bem demarcados. Ainda estava confusa e boquiaberta, quando um fino raio de sol passou pela janela e iluminou o alto dos seus cabelos negros e evidenciou os olhos também escuros.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora