36- CHI SONO? (Quem sou eu?)

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- Lucrézia, você me prometeu que ia parar de fazer isso. - Ralhou.

- Juro que estou comendo direitinho, ontem foi um evento esporádico. Relaxa Matteo!

- Quantos dias?

Uns dois ou três. Não fico contando, porém se dissesse a verdade, Matteo não ia largar do meu pé. Demorei mais que o devido para inventar uma desculpa. Ainda bem que fui salva pela campainha.

- O que faz aqui? - Olhei incrédula para a mulher na minha frente.

- Oi, Lucera é sempre ótimo te ver. - Lucera falou tentando imitar a minha voz. - Claro Lucrézia, também adora a sua companhia. - Respondeu a própria fala. - Imagina se fosse agradável assim, prima? - Riu maldosa.

- Pena que nossos encontros são sempre péssimos.

- Culpa sua! Pois eu sou uma pessoa adorável.

- Vou fechar a porta na sua cara se não me disser o que veio fazer.

- Grossa! - Exclamou.

- Lucera! - Disse já irritada.

- Me deixe entrar e digo. - Dei espaço para a madame passar e Matteo ria da situação.

- Pronto. Diga!

- Não vai me oferecer nem uma água? Tinha esquecido como é uma pessoa cordial. - Debochou ao levar a mão no peito.

Balancei a cabeça pros lados, tentando assimilar essa visita estranha e vi meu primo levantar rápido do sofá, após ler uma mensagem.

- Adoraria presenciar esse ilustre momento das duas, mas o dever me chama. - Falou enquanto se divertia bastante e dava um beijo na minha testa e depois na de Lucera. - Ah! E não se matem. - Pontuou antes de sair da sala.

- Pela milésima vez: O que quer?

- Prometi a Titi que iria tentar me dar bem com você. Então, aqui estou! - Ela fez um movimento com as duas mãos próximas ao próprio corpo, partindo da altura dos ombros e terminando no quadril largo com as palmas voltadas para mim. Comecei a gargalhar alto.

- Isso é ridículo! Nós somos como água e óleo, imiscíveis.

- Concordo plenamente. Afinal, olha só você! Nem parece uma Caccini, está mais para uma pobre coitada. - Lucera me olhou de cima a baixo com desdém.

O sorriso que existia no meu rosto se desfez. As palavras dela entraram arrasando minha mente. Será que passei tanto tempo sendo criado por boçais que esqueci como um austero se porta? Comparei meus trajes com os dela e a diferença era gritante. Lucera é uma mulher tão altiva e elegante, anda coberta de joias, como Titi. Talvez ela estivesse certa ao meu respeito, não passo de uma pobre coitada. Cheguei a cambalear devido aos seus vocábulos fortes.

Tudo que me restava era ser uma Caccini. E se nem isso mais eu era? Quem eu era? Quem sou eu?

- Eu não quis dizer isso. - Demonstrou arrependimento ao perceber meu estado e a olhei com a cabeça em outro lugar. - Ok! Talvez um pouquinho.

- Tem razão. Me tornei aquilo que tanto temia, uma qualquer. - Respirei fundo a fim de me recompor. - Agora se já tiver terminado de me humilhar pode ir, a porta da rua é a serventia da casa. - Apontei para saída.

- Pode não se vestir como uma Caccini, mas aqui dentro nunca deixou de ser uma. - Tocou no lado do meu coração.

- Não quero a sua pena. - Amarguei.

- Por um acaso acha que sou uma mulher que saí por aí fazendo caridade? - Riu. - Não vou ter pena de ti. Isso é pros fracos e você é uma Caccini. - Olhou no fundo dos meus olhos.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora